Ao final desta aula, você será capaz de:

  • Aplicar as práticas de gestão de projetos em Pesquisa Científica.
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Gestão de Projetos

O termo “gestão de projetos” é comumente relacionado às organizações e corporações e dificilmente associado ao mundo acadêmico, a não ser quando é objeto de estudo. No entanto, usar ferramentas e práticas de gestão de projetos antes e durante a execução de um projeto de pesquisa pode prevenir problemas, reduzir custos, aumentar a qualidade dos resultados e otimizar o tempo.

Vamos descobrir como aliar esse conhecimento aos Projetos de Pesquisa.

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Principais Termos da Pesquisa Científica

Antes de iniciarmos o tema Gestão de Projetos, vamos definir e diferenciar alguns termos importantes na pesquisa científica

Linha de Pesquisa

Segundo o Glossário do CNPq, uma linha de pesquisa “representa temas aglutinadores de estudos científicos que se fundamentam em tradição investigativa, de onde se originam projetos cujos resultados guardam afinidades entre si”.

Borges-Andrade (2003), no artigo “Em busca do conceito de linha de pesquisa”, apresenta as várias interpretações de linha de pesquisa, dependendo do contexto em que o termo é usado.

Apesar das diferenças, o autor conseguiu definir o que o pesquisador deve considerar ao criar uma linha de pesquisa. Segundo ele, uma linha de pesquisa:

  • “determina o rumo, ou o que será investigado num dado contexto ou realidade;
  • limita as fronteiras do campo específico do conhecimento em que deverá ser inserido o estudo;
  • oferece orientação teórica aos que farão a busca;
  • estabelece os procedimentos que serão considerados adequados nesse processo.”

Projeto de pesquisa

De acordo com o Project Management Institute (PMI), “projeto é um esforço temporário empreendido por um grupo de pessoas com recursos definidos que tem como objetivo a criação de um produto, serviço ou resultado exclusivo”, ou seja, um projeto tem um início e um fim bem definidos.


Mas como isso se aplica na pesquisa acadêmica?

A partir do momento em que criamos uma hipótese e uma pergunta a ser respondida, delimitamos o escopo, início, métodos de coleta, análise de dados e o fim do projeto (resultados que respondem à pergunta). Logo, o projeto de pesquisa seria um esforço temporário empreendido por um grupo de pessoas com recursos definidos a fim de fornecer uma saída única (novo conhecimento) sujeito a restrições específicas de "qualidade" e dentro de um orçamento.


Gestão de Projetos

A gestão de projetos é o uso de ferramentas e práticas que visam:

  • delimitar o escopo do projeto;
  • garantir a qualidade dos resultados;
  • monitorar o cronograma de execução das etapas;
  • usar de forma racional os recursos (humanos, financeiros, técnico-tecnológicos);
  • reduzir os riscos de o projeto não acontecer.

Visto isso, vamos explicar como o uso dessas práticas pode ajudar na execução de um projeto de pesquisa.

Gestão de Projetos de Pesquisa Acadêmica

Para se fazer Gestão de Projetos não existe um formato único. As técnicas utilizadas vão desde as mais tradicionais e complexas, como a proposta pelo PMI/PMBOK, por exemplo, até as mais rápidas e ágeis como o SCRUM. Assim, é possível usá-las como inspiração para adequar as técnicas já descritas para a realidade da academia.

Não podemos deixar de citar, também, alguns fatores muito característicos da pesquisa acadêmica e que devem ser considerados ao adotar práticas de gestão de projetos, tais como:

Pesquisador Multitask

A forma como a ciência e as organizações científicas brasileiras são organizadas fazem com que os pesquisadores tenham que desempenhar diversas ações simultaneamente, inclusive cuidar da burocracia relativa à pesquisa. Logo, quanto mais usarmos técnicas e práticas que nos auxiliem na organização do dia a dia, mas fácil será realizar os projetos e se dedicar a linha de pesquisa.

Pesquisador-Orientador

O pesquisador não é só um gerente do projeto, mas um orientador, professor e tutor do estudante que executa o projeto. Ao usar técnicas e práticas de gestão de projetos, o pesquisador também ensinará formas de se organizar para a ciência e para a vida.

Gestão de projeto x projeto de pesquisa

As técnicas e práticas de gestão de projetos não devem interferir nas metodologias científicas necessárias para execução da pesquisa. Elas devem auxiliar e permitir que a prática científica seja conduzida da melhor forma possível.

Trabalho em rede

Com a ciência cada vez mais caminhando para o trabalho colaborativo em rede, é importante que estejamos bem-organizados para garantir uma conduta científica colaborativa eficaz.

Criatividade, flexibilidade e liberdade

As técnicas e práticas de gestão de projetos não podem engessar a prática científica a ponto de inibir a natureza criativa e imprevisível da ciência.

Ainda que não nos demos conta, todos esses fatores influenciam a nossa prática diária e devem ser considerados quando nos organizamos para executar os projetos de pesquisa.

ilustração que representa formas de comunicação no planejamento do projeto
 Fonte: Storyset

Gerenciando o projeto

Estudiosos da área de Gestão de Projetos propõem etapas cronológicas e itens indispensáveis ao se planejar e executar um projeto.

Para projetos de pesquisa, não há necessidade de ser tão literal em usar todo portfólio de diretrizes do PMBOK, mas não podemos negar que alguns tópicos podem nos ajudar na organização e execução. A seguir, mostraremos algumas práticas que podem ser úteis quando estamos planejando e executando um projeto.

Plano de Comunicação

É muito comum confundirmos a convivência com comunicação. Aqui a comunicação refere-se a um espaço sistematizado onde as combinações para a execução do projeto acontecem.

Faz parte do plano de comunicação:

  • acompanhar a execução das etapas previstas para o projeto a partir de reuniões periódicas;
  • estabelecer ferramentas de comunicação entre aluno e orientador;
  • estabelecer ferramentas de registro de dados gerados na pesquisa.

Registro de Dados

O curso Dados Abertos, da série modular sobre Ciência Aberta, oferecido pela Fiocruz explica a definição de dados:

Imagem com um símbolo que remete uma citação “Material factual registrado, comumente aceito na comunidade científica como necessário para documentar e apoiar os resultados da pesquisa. Não se refere às estatísticas ou tabelas resumidas; pelo contrário, se refere aos dados nos quais as estatísticas e tabelas de resumo são baseadas (tradução livre, NIH, 2003)”.

ilustração represnetando um homem registrando os dados no computador     Fonte: Storyset Ou seja, é importante que os responsáveis pela pesquisa se organizem para registrar tudo que aconteceu (material usado e detalhamento dos métodos realizados) para a pesquisa ser executada de forma que toda essa informação seja rastreável e verificável. É comum que para isso se use ferramentas como caderno de laboratório, seja físico (em papel) ou os digitais. Busque saber na sua instituição qual a forma de registro preconizada.

Curso Dados Abertos

Para saber mais sobre o assunto, matricule- se no curso Dados Abertos.
O curso tem como objetivo levar o aluno à compreensão do que é abertura de dados, seu uso e importância.

Acesse o Campus Virtual Fiocruz para se matricular no curso.

Análise de Risco

A análise de risco é bastante empregada em organizações para antever e minimizar problemas que coloquem em risco o objetivo final da organização.

Transpondo esse raciocínio para um projeto de pesquisa, devemos olhar o projeto como um todo, identificando quais pontos são frágeis e nos programar para evitar que haja uma descontinuidade na execução do projeto.

Abaixo listamos alguns itens que podem fazer com que um projeto não seja executado:

  • falta de insumos/reagente;
  • equipamentos com defeito;
  • atraso na entrega de materiais para etapas específicas;
  • poucas respostas a questionários;
  • cenário político;
  • publicação de novos conhecimentos que interfiram diretamente no planejamento científico do projeto.

Integridade e Conduta Responsável em Pesquisa


Fonte: Freepik
Quando alguém vai jogar um jogo, a primeira coisa que a pessoa faz é entender as regras, saber o que pode ou não pode fazer, o comportamento que é aceito ou não e o que se espera dela.

Na pesquisa científica também é assim. Existem condutas e comportamentos esperados que garantam que os dados gerados e divulgados sejam confiáveis, por isso recomendamos a leitura do Guia de Integridade em Pesquisa da Fiocruz antes da execução do seu projeto. Você verá que ele traz informações importantes que serão usadas antes, durante e depois do projeto.

Autorizações e Licenças

  Fonte: Storyset Esse assunto é interligado a assuntos anteriores, mas dada a sua importância, traremos de forma destacada.
Voltando ao assunto “regra do jogo”, algumas normas foram especialmente desenvolvidas para garantir que as pesquisas científicas fossem realizadas de forma ética.
Para isso, organizações como o Conselho Nacional de Experimentação Animal (CONCEA) e a Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP) criaram regras para pesquisa usando animais não humanos e humanos, respectivamente. Caso sua pesquisa envolva animais (humanos ou não humanos), você deve procurar os representantes destas instâncias na sua instituição.

Outro tipo de autorização é a necessária para a realização de Pesquisa Documental. A transparência de dados hoje nos faz acessar muitos documentos de forma ágil, mas nem todos podem ser usados livremente. Por exemplo, documentos e dados encontrados na intranet de uma instituição são de fácil acesso, mas é de uso restrito, logo é preciso autorização para uso.

Por último e não menos importante é a licença para utilização de softwares. Antes de começar o projeto de pesquisa, precisamos estar certos de que temos todas as licenças necessárias para a realização do projeto, sejam licenças abertas ou pagas.

Prestações de Contas

Este termo nos remete imediatamente a explicação de como gastamos o dinheiro do projeto. Mas a prestação de contas vai muito além disso.
Segundo Fontelles e colegas (2009), uma pesquisa deve ser:

  • factível;
  • interessante;
  • inovadora;
  • ética;
  • relevante.

Ou seja, enquanto pesquisadores, temos que nos preocupar em usar os recursos públicos com responsabilidade realizando projetos de relevância científica, institucional e social, e divulgando os resultados de forma transparente não só aos órgãos de fomento, mas à sociedade em geral.

Cronograma

Fonte: Storyset Pensar no cronograma de um projeto de pesquisa não é fácil. Nem sempre os projetos são lineares e previsíveis, o que torna a realização de um cronograma um grande desafio.

Todo projeto já tem, intrinsecamente, períodos de tempos marcados que norteiam a construção do cronograma. Dissertações de mestrado devem ser feitas em dois anos, por exemplo, já as teses de doutorado levam até quatro anos.

Além da complexidade científica, temos que avaliar se o projeto proposto é realizável no tempo estabelecido considerando tudo que envolve a sua realização.

Gestão de Pessoas

  Fonte: Storyset Este é um dos itens mais específicos quando comparamos a gestão de projetos científicos com projetos em geral. Enquanto projetos em organizações são feitos com uma equipe numerosa de profissionais, o projeto de pesquisa é feito por um estudante em formação.

O projeto de pesquisa não é só uma forma de gerar dados científicos, mas também uma oportunidade de aprendizado para os estudantes que o realizam. Ao considerar a perspectiva da realização de pesquisa em rede, naturalmente outras pessoas passam a estar envolvidas no projeto, mesmo que de forma involuntária.

Logo, antes de começar seu projeto reflita:

  • "Além de mim e do meu orientador, seria interessante consultar outro especialista para alguma etapa prevista no projeto?"
  • "Eu sei todas as técnicas necessárias para realizar meu projeto ou precisarei da ajuda de mais alguém?"
  • "Qual a disponibilidade desta outra pessoa?"

Gestão Financeira

Fonte: Storyset Todo projeto tem um custo financeiro. Mesmo os projetos que são apenas teóricos necessitam de tempo de dedicação para realizá-lo, o que significa que parte do salário ou bolsa do pesquisador é revertida para a execução do projeto. Projetos experimentais são geralmente mais caros pois, além da bolsa, requerem compras de insumos.

Antes de iniciar o projeto, é importante conhecer as normativas legais que regem a fonte de recursos financeiros que financiará as comprar de insumos necessárias para a execução do projeto.

Dito isso, deve-se pensar na organização financeira desse projeto o que inclui: contato com fornecedores diversos, solicitação de cotação, análise de cotações, aquisições, recebimento e verificação de materiais, recebimentos e arquivamento, físico e digital, de notas fiscais, controle de patrimônio de bens, etc. Essa organização financeira colabora fortemente para a realização da prestação de contas ao término do projeto.

Para executar um projeto, além de pessoas e orçamento, existem outros tipos de recursos que devem ser considerados: tempo, insumos e tecnologia.


Algumas práticas já são feitas de forma instintiva por alguns, outras são novidade para muitos. O importante é perceber que todas elas fazem parte do dia a dia de quem faz pesquisa e devem ser consideradas como atividades que demandam tempo e energia. Fazer ciência não está restrito ao que está escrito no projeto ou no trabalho de conclusão, é mais amplo, e deve considerar tudo que um cientista precisa para alcançar os objetivos do projeto.


Resumo

Você concluiu o curso Metodologia da pesquisa Científica. Recomendamos que você assista ao vídeo com o resumo desta aula e aproveite para avaliar os seus conhecimentos :

Atividade

Certificado de conclusão

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