Ao final desta aula, você será capaz de:

  • Diferenciar método de metodologia;
  • Distinguir os diferentes tipos de métodos científicos;
  • Usar as abordagens quantitativas e qualitativas em um projeto de pesquisa;
  • Escolher o tipo de pesquisa que mais se adequa a um projeto de pesquisa.
Diagrama que representa todas as etapas da elaboração de um projeto
 Fonte: Pixabay

Desenvolvendo o Projeto

Vamos iniciar nossa aula fazendo uma reflexão com base na seguinte analogia:

Cozinhas são muito parecidas com espaços de pesquisa. Podemos usar alguns conhecimentos e técnicas para testar novas receitas, não é mesmo? Exercemos nossa criatividade dentro dos limites que a arte culinária nos permite. Assim ocorre com a pergunta da pesquisa: quais os limites, regras e técnicas podemos utilizar para iniciar o nosso projeto?

A partir de agora, você descobrirá as diferentes formas de responder às perguntas da pesquisa que geram resultados confiáveis.

 Fonte: Storyset

Método x Metodologia

MÉTODO

“Methodos” significa “caminho para chegar a um fim”. Logo, método é o caminho percorrido até o destino. Por consequência, o Método Científico é o conjunto de procedimentos (caminhos) escolhidos e/ou desenvolvidos com critérios bem definidos, cujos resultados ajudam para a geração do conhecimento científico. Trata-se dos procedimentos e técnicas escolhidos para investigar um fenômeno.

METODOLOGIA

Metodologia, por ser a junção das palavras methodos e logos (razão, regra, linguagem), retrata a validação dos métodos escolhidos e/ou desenvolvidos, a partir do entendimento sistêmico da necessidade de aplicação do método. Logo, Metodologia Científica é todo o conjunto de fatores teóricos e práticos que sustenta os métodos escolhidos para alcançar os resultados da pesquisa.

Lembra da analogia que fizemos no início da aula?

O conhecimento nos permite fazer nossas próprias adaptações na receita e, a partir do mesmo método, chegar a resultados diferentes. Na pesquisa científica ocorre o mesmo: usamos uma mesma receita (método) com ingredientes diferentes (conhecimentos) para gerar novos alimentos (novo conhecimento), o modo como os resultados serão analisados e como o novo conhecimento será apresentado.



A metodologia aplicada para responder à pergunta pode ser classificada de diferentes formas que ajudam a organizar para os métodos que serão empregados;


Cada autor divide e define a metodologia científica de uma forma. O quadro abaixo resume as diferentes definições que usaremos nesta aula.

Fonte: Eduarda Cesse e Mariana Souza (2022)

Tipos de Métodos Científicos

Se considerarmos a história do ser humano e a sua relação com a busca pelo conhecimento, notaremos três grandes caminhos trilhados pelos cientistas:

Método Dedutivo

Atribui-se a René Descartes (1596-1650) a apresentação do método dedutivo a partir da matemática e de suas regras de evidência, análise, síntese e enumeração. Parte da observação de fenômenos grandes e imutáveis e, em seguida, buscam uma explicação. É um método muito comum de ser usado em ciências exatas como a física e a matemática, ciências que têm seus princípios baseados em leis imutáveis. Por este mesmo motivo é um método difícil de ser usado em ciências humanas e da saúde, áreas que estão em eterna construção e reformulação.

Método Indutivo

A sistematização do método indutivo é atribuída a Francis Bacon (1521-1526) e funciona no sentido oposto ao método dedutivo, ou seja, parte da observação de um fenômeno menor e, em seguida, tenta generalizar a observação. Para isso, o cientista que usa o método indutivo deve observar detalhes sobre o fenômeno como frequência, intensidade, circunstâncias etc.
A partir da observação, é formulada uma hipótese explicativa que apenas sugere uma explicação para o fenômeno. Este método foi de suma importância para o desenvolvimento das Ciências Sociais e da Saúde, pois se baseia na observação de pequenos fenômenos.

Método Hipotético-Dedutivo

Em determinado momento da história da ciência, a indução já não mais satisfazia a necessidade da certeza do conhecimento. Filósofos como David Hume (1711-1776) começaram a sugerir que ao método indutivo deveria ser associado a possibilidade de testar a hipótese formulada. Desta forma, nasce o método hipotético-dedutivo baseado nos modelos, técnicas e outras abordagens que permitem o teste de hipóteses. É do método hipotético-dedutivo que as Ciências Sociais e da Saúde mais geram conhecimento.

Natureza da Pesquisa

A pesquisa é a atividade nuclear da ciência, por essência inacabada, que permite a intervenção na realizada.

Por ter essa definição, dividimos a natureza da pesquisa de duas maneiras: pesquisa básica e pesquisa aplicada.

A pesquisa básica é mais teórica, sem possibilidade de uma aplicação mais prática imediata.

Já a pesquisa aplicada trata de pesquisas práticas, a fim de solucionar algo imediato e específico.

 Fonte: Storyset

Abordagens

A abordagem da pesquisa está muito relacionada ao tipo de método. Por exemplo, o método indutivo de observação pode fornecer uma gama de material não quantificável; já o método hipotético-dedutivo permite que a pesquisa seja elaborada para coletar dados que podem ser comparados.

A pesquisa possui dois tipos de abordagem:

Abordagem Qualitativa

Durante a pesquisa qualitativa, a maior preocupação do cientista deve ser com o aprofundamento da observação do fenômeno estudado. Neste tipo de pesquisa, valoriza-se o significado do problema para os sujeitos estudados. Não há, assim, a preocupação em encontrar padrões de comportamento ou repetição de fenômenos. Como será visto mais adiante, requer procedimentos próprios para sua realização.

Ainda que muito utilizada e aceita no mundo científico, a pesquisa qualitativa é criticada pela subjetividade e pela possibilidade de envolvimento emocional do pesquisador.

Por permitir a compreensão e explicação da dinâmica das relações sociais, este tipo de abordagem é muito utilizada nas Ciências Sociais.

Como listado por Gerhardt e Silveira (2009, p. 32), deve-se considerar alguns riscos e limitações da pesquisa qualitativa:

  • Risco de que a reflexão exaustiva acerca das notas de campo possa representar uma tentativa de dar conta da totalidade do objeto estudado, além de controlar a influência do observador sobre o objeto de estudo.
  • Falta de detalhes sobre os processos através dos quais as conclusões foram alcançadas.
  • Falta de observância de aspectos diferentes sob enfoques diferentes.
  • Certeza do próprio pesquisador com relação a seus dados.
  • Sensação de dominar profundamente seu objeto de estudo.
  • Envolvimento do pesquisador na situação pesquisada, ou com os sujeitos pesquisados.
Abordagem Quantitativa

A pesquisa quantitativa usa a linguagem matemática para revelar e descrever as causas de um fenômeno, ou seja, busca-se um padrão para a observação de determinado fenômeno. Por possibilitar a mensuração, também é possível que os fenômenos sejam comparáveis.
Outra vantagem da abordagem quantitativa é que os resultados podem ser extrapolados como representação do padrão de comportamento de toda uma população ou fenômeno biológico.

Tipos de Pesquisa

Uma outra forma de definir a pesquisa é pelos objetivos finais, isto é, que tipo de resultado será apresentado ao término da pesquisa?

Os tipos de pesquisa podem ser divididos em três grandes grupos: pesquisa experimental, pesquisa descritiva e pesquisa exploratória.

Pesquisa experimental

O objetivo final deste tipo de estudo é explicar por que determinado fenômeno acontece. Em quase todos os estudos que usam esse tipo de pesquisa, é necessário criar modelos para explicar o fenômeno. Por esse motivo a pesquisa experimental costuma estar associada a laboratórios.

Procedimentos da Pesquisa

Já mostramos as dimensões e os limites das diferentes formas de fazer pesquisa. A partir de agora vamos abordar as diversas técnicas, ferramentas e instrumentos para coletar dados e obter resultados.

Recomendamos que você baixe o texto Procedimentos da Pesquisa para leitura e entendimento do tema. Observe que a escolha do procedimento deve sempre ser feita após a consolidação da pergunta de pesquisa, pois é por meio deles que as perguntas serão respondidas.

O texto está disponível para download através deste link na Plataforma Educare.

Capa do arquivo entitulado procedimentos da pesquisa

Fonte: Educare.

imagem com destaque para uma mão segurando uma caneta azul anotando os dados descritivos da coleta numa etiqueta fixada no tubo de vidro
 Fonte: Banco de Imagens Fiocruz

Instumentos de Coleta de Dados

Continuamos trilhando nosso caminho em busca de escolher a melhor maneira de responder a nossa pergunta através de resultados confiáveis. Já identificamos procedimentos que podem ser feitos para responder a nossa pergunta, mas cada um deles é feito de várias partes e etapas onde acontecem a coleta de dados.

Alguns procedimentos são únicos e têm ferramentas quase exclusivas de coleta de dados, como é o caso das pesquisas experimentais que possuem seus próprios modelos experimentais. Outros, porém, têm o objetivo bem definido, mas permitem que vários instrumentos sejam usados para coletar dados. Ou seja, o instrumento de coleta de dados não pode nem deve ser usado descolado de uma estratégia maior (procedimentos), pois só entendendo a estratégia, o instrumento de coleta de dados pode ser escolhido e preparado.

Mas para escolher o instrumento mais adequado a sua pesquisa, você deve se perguntar:

O que coletar?

Quais os dados e de que tipo eu preciso?

Com quem coletar?

Quem são os indivíduos/instituições que têm os dados? Onde eles estão?

Como coletar?

Que tipo de instrumento vai me fornecer os dados que preciso?

Recomendamos que você baixe o texto Instrumentos de Coleta de Dados para leitura e entendimento do tema.

 O texto está disponível para download através deste link na Plataforma Educare.

imagem que ilustra a capa do texto para instrumento de coleta
Fonte: Educare
 Fonte: Storyset

Técnicas de Análise de Dados

Alguns procedimentos e instrumentos de pesquisa geram dados em forma de texto, como entrevistas, questionários, documentos etc., sendo necessário a aplicação de técnicas que mostrem o fenômeno que está sendo investigado. Destacaremos aqui duas técnicas para análises de dados textuais: a análise de conteúdo e a análise do discurso.

Análise de conteúdo

A técnica de análise de conteúdo tem Laurence Bardin e Cecilia Minayo como referências. Em seu clássico Análise do Conteúdo (1979), Bardin afirma que a técnica é:

“Um conjunto de técnicas de análise de comunicação visando a obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção destas mensagens” (Bardin, 1979:42).

Minayo, complementa essa ideia afirmando que a análise do conteúdo permite separar o que é intuição e subjetividade do que é confirmação de hipótese, confiando, assim, o caráter científico da técnica. Para que isso seja possível, quem faz a pesquisa deve separar a atividade em três etapas:

  • Pré-análise, quando acontece um contato minucioso com o material a ser analisado.
  • Exploração do Material, quando o texto passa por uma análise de contagem, classificação, e outros tratamentos.
  • Tratamento dos resultados, quando os dados obtidos na etapa anterior são tratados de forma estatística a fim de se revelar o fenômeno estudado.
Análise do discurso

Não há um consenso que defina a técnica de análise do discurso. Alguns autores consideram que a análise do discurso é uma derivação da análise do conteúdo, outros uma continuação.

Em suma, a análise do discurso se propõe a fazer uma análise mais sistêmica do texto, considerando o contexto histórico-político-social, as condições dos autores, os símbolos e sentidos linguísticos (intencionalidade das palavras). É comum que, inclusive, as reações físicas do participante da pesquisa sejam registradas e consideradas durante a análise.

Na prática, a análise do discurso é útil para quem não busca descrever ou explicar um fenômeno, mas sim estabelecer uma crítica do que já existe. Nesta técnica, busca-se desvendar os mecanismos de dominação que se escondem sob a linguagem, não se tratando nem de uma teoria descritiva, nem explicativa, mas com o intuito de constituir uma proposta crítica que problematiza as formas de reflexão anteriormente estabelecidas.

O discurso pode ser analisado a partir de coletas de dados de fontes escritas ou orais, realizadas tanto em entrevistas, quanto em pesquisas documentais, histórias de vida, dentre outras que sejam passíveis de se analisar o contexto, por meio de quatro etapas:

  • Análise das palavras do texto – separando as palavras de acordo com as classes gramaticais (substantivos, adjetivos, verbos e advérbios).
  • Análise da formação das frases.
  • Formação de uma rede semântica que considere o contexto social e a gramática.
  • Contextualização social do texto.

Este tipo de análise é útil para se compreender como circulam os conhecimentos, ações e demais fenômenos sociais em contextos específicos.

Análise de Dados Numéricos

Existe uma tendência a achar que números são mais confiáveis, provavelmente, por uma contaminação das ciências exatas e suas leis imutáveis. Nas ciências biológicas, da saúde e sociais, existem vários procedimentos quantitativos, mas os números só são confiáveis se forem oriundos de desenhos experimentais bem-feitos, bem coletados e bem analisados.


Estratégias Estatísticas

Cada vez mais as estratégicas estatísticas estão ganhando visibilidade na ciência.

Imagem com um símbolo que remete uma citação “Os processos estatísticos permitem obter, de conjuntos complexos, representações simples e constatar se essas verificações simplificadas têm relações entre si. Assim, o método estatístico significa redução de fenômenos sociológicos, políticos, econômicos etc. a termos quantitativos e a manipulação estatística, que permite comprovar as relações dos fenômenos entre si, e obter generalizações sobre sua natureza, ocorrência ou significado. Exemplos: verificar a correlação entre nível de escolaridade e número de filhos; pesquisar as classes sociais dos estudantes universitários e o tipo de lazer preferido pelos estudantes de 1º e 2º graus."

(Marconi e Lakatos, 2003, p.108)

Neste sentido, o método estatístico é uma forma de descrição quantitativa da sociedade ou do fenômeno investigado. Porém,

Imagem com um símbolo que remete uma citação “a estatística pode ser considerada mais do que apenas um meio de descrição racional, é, também, um método de experimentação e prova, pois é considerado um método de análise.”

(Marconi e Lakatos, 2003)

Saiba Mais

É muito comum que as interpretações dos dados e as análises estatísticas sejam apresentadas de forma gráfica e visual. Assim, os recursos como gráfico de barra, histogramas e diagramas circulares são sempre bem-vindos para representar de forma compreensível e simples os resultados de investigação dos fenômenos. Abaixo separamos alguns exemplos:

Diagrama Circular

O diagrama circular é uma forma de representação de diferentes categorias onde cada uma delas é apresentada em um tamanho que representa sua proporção frente ao todo.

Quando representado como um circulo completo, também recebe o nome de gráfico em pizza, muito comum para representar porcentagens ou frações.

Gráfico de Barra

O gráfico de barras é útil para comparar diferentes grupos, a partir da mensuração de variáveis. Desta forma, obrigatoriamente, em um eixo deve ser apresentado os grupos que estão sendo comparados e, os valores mensurados da varável em questão, no outro.

Histograma

O histograma é uma variação do gráfico de barra e é utilizado para mostrar distribuição de frequência de determinado fenômeno.

Geralmente, no eixo y é mostrado a contagem de acontecimentos do fenômeno e no eixo x, os intervalos de classe do fenômeno estudado.

Representação por Densidade de Ocorrência

A representação por densidade geralmente é feita por meio de cores ou gradação de cor para representar a quantidade de vezes que um fenômeno foi identificado. Quanto mais forte a cor mostrada, mais vezes o fenômeno foi observado; quanto mais fraca a cor, menos o fenômeno foi observado.

 

Diagrama que representa todas as etapas da elaboração de um projeto
  Fonte: Banco de Imagens Fiocruz

Qualidade dos Estudos

Para cada tipo de estudo existe uma forma de verificação de sua qualidade. Seja um estudo em laboratório ou uma revisão sistemática, existem protocolos que podem ser seguidos conferindo maior fidedignidade, clareza, relevância, verdade e principalmente reprodutibilidade dos estudos.

O uso das ferramentas de verificação da qualidade dos estudos pode variar de acordo com o tipo de estudo e o procedimento a ser utilizado, por exemplo, instruções de trabalho validadas, procedimentos operacionais padrão, listas de verificação.

Além dos procedimentos, também é possível garantir a qualidade certificando e validando os equipamentos utilizados na pesquisa, de acordo com órgãos regulamentadores.

Para evitar erros, muitas iniciativas de protocolos padrão foram criadas. Esses protocolos não só garantem a qualidade científica dos resultados gerados, como facilitam a publicação dos dados já que as revistas científicas os reconhecem como ferramentas de qualidade.

Confira algumas ferramentas úteis para verificação da qualidade de estudos em ciências sociais e da saúde.

STROBE

(Strengthening the Reporting of Observational Studies in Epidemiology)
O STROBE é uma lista de verificação composta por 22 itens feita colaborativamente por epidemiologistas, estatísticos, editores de revistas científicas entre outros profissionais com o intuito de guiar o pesquisador que pretende realizar estudos observacionais. Saiba mais em https://www.strobe-statement.org/

CONSORT

(Consolidated Standards of Reporting Trials)
Feita pelo grupo CONSORT, a lista de verificação é composta por 25 itens e um diagrama de fluxo que contém o mínimo de informações sobre desenho experimental, análise e interpretação de resultados de ensaios clínicos. Saiba mais em http://www.consort-statement.org/

ARRIVE

(Animal Research Reporting of In Vivo Experiments)
O guia ARRIVE tem não só o objetivo de ajudar na construção de protocolos experimentais com o uso de animais não humanos, como também garante que esses animais serão usados de forma ética. A lista de verificação é composta por 10 passos que ajudam o cientista a organizar o projeto que envolve animais. Saiba mais em https://arriveguidelines.org/

AMSTAR/PRISMA

Revisões sistemáticas têm o potencial de embasar novas políticas públicas de saúde e mudar a prática assistencial. Para garantir que a Revisão seja corretamente realizada, o cientista pode usar alguns protocolos como:

AMSTAR (Assessment of Multiple Systematic Reviews). Saiba mais em: https://amstar.ca/index.php

PRISMA (Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses). Saiba mais em: http://www.prisma-statement.org/

Resumo

Chegamos ao fim da aula. Antes de seguir , recomendamos que você assista ao vídeo com o resumo desta aula e aproveite para avaliar os seus conhecimentos :

Atividade