Ao final desta aula, você será capaz de:

  • Analisar os aspectos éticos e conduta responsável em uma pesquisa científica;
  • Reconhecer os diferentes modelos de projetos de pesquisa;
  • Utilizar as referências ABNT em uma publicação científica.
Diagrama que representa todas as etapas da elaboração de um projeto
Fonte:Storyset

Executando o projeto

Racionalizar como será o projeto de pesquisa é extremamente importante, mas ele não estará pronto até que esteja escrito e inserido no contexto em que será executado.

Escrever textos de cunho acadêmico acontece o tempo todo durante a jornada científica, desde a escrita inicial do projeto, passando por relatórios parciais de acompanhamento, até o trabalho final (TCC, TCR, dissertação, tese etc.).

imagem de livros na prateleira da biblioteca, remetendo a busca pelo conhecimento
Fonte: Storyset

Conduta responsável e aspectos éticos

Conduta Responsável

A conduta responsável em pesquisa é uma prática que deve nos acompanhar o tempo todo, desde a concepção do projeto até a sua publicação.

Agências de fomento como CNPq e FAPESP, por exemplo, possuem guias que estabelecem quais condutas são aceitáveis e quais não são dentro de um projeto de pesquisa. Além disso, muitas instituições, como a própria Fiocruz, já têm suas próprias Comissões de Integridade em Pesquisa com caráter educativo para ajudar quem quer fazer ciência a desenvolver projetos responsáveis cientificamente. Veja que este é um tema transversal a todas as etapas de pesquisa.

Nesta aula vamos compilar o assunto, entendendo que estamos falando do momento em que vamos descrever o nosso trabalho científico.

A seguir, listamos alguns exemplos de condutas que pesquisadores e estudantes devem ficar atentos ao realizar seus estudos :

Falsificação

consiste na maquiagem ou alteração de dados de forma direta ou indireta, sobretudo quando há patrocínios ou recursos financeiros que dependem dos resultados esperados.

Não publicação de dados

ocorre quando há omissão de dados por não darem suporte aos resultados esperados.

Erros na coleta de dados

- coletas que não são condizentes com as exigências da pesquisa (indivíduos que não cumprem o combinado: dieta, descanso, exercício etc.);

- problema no funcionamento dos equipamentos;

- tratamento inadequado de participantes (violação dos direitos humanos, dos comitês de ética etc.);

- registro incorreto de dados.

Erro na retenção e no armazenamento de dados

os dados, além de inalterados após a conclusão da pesquisa, devem permanecer armazenados adequadamente e disponíveis para consulta.

Prática de publicações inaceitáveis

publicar o mesmo artigo em duas revistas indexadas. A publicação de artigos fragmentados também é inadequada. Se o estudo foi realizado com duas variáveis, deve-se publicar a relação entre as duas.

Direitos autorais

esteja atento ao uso adequado de citações de imagens, testes patenteados, dentre outros sem que cause problemas na pesquisa ou artigo. É aconselhável que se peça autorização para o uso do material a ser utilizado na pesquisa. Vale lembrar que muitos materiais estão disponíveis em Acesso Aberto, incluindo artigos científicos, infográficos, imagens, etc. Muitas instituições, como a Fiocruz, adotaram política de acesso aberto ao conhecimento para suas publicações.

Problemas de autoria

a autoria deve envolver apenas quem de fato contribuiu com o projeto de pesquisa. Pessoas que coletam dados nem sempre são autores. Os autores são os que planejam, discutem e analisam os dados. Em caso de dúvida, consulte o Guia de Integridade em Pesquisa da Fiocruz e o Guia de boas práticas em autoria da Committee on Publication Ethics.

Dica ;)

Para saber mais sobre o tema direitos autorais e acesso aberto, recomendamos o curso Ciência Aberta - Série 1 e 2 da Fiocruz.

Aspectos Éticos

Para que algumas pesquisas possam ser realizadas, se faz necessário o uso de instrumentos para coleta de dados envolvendo animais e/ou humanos. Mas para que haja a proteção da dignidade destes participantes, uma série de leis nacionais e internacionais devem ser seguidas durante a pesquisa. Vamos conhecê-las.

Pesquisas Envolvendo Humanos

Segundo a Resolução CNS 466/2012, pesquisa envolvendo seres humanos é aquela que individual ou coletivamente, tenha como participante o ser humano, em sua totalidade ou partes dele, e o envolva de forma direta ou indireta, incluindo o manejo de seus dados, informações ou materiais biológicos.

Toda pesquisa que envolva seres humanos como fonte de coleta de dados, seja experimental, observação, entrevistas, questionários, avaliação de prontuários ou bancos de dados, por exemplo, deve ser submetida ao Comitê de Ética em Pesquisa da instituição – CEP de onde será desenvolvida.

Independente da instituição onde o estudo ocorrerá, o trâmite de submissão de projetos acontece via Plataforma Brasil, um sistema nacional e unificado que acompanha as pesquisas com seres humanos desde a submissão até a sua conclusão. O tempo entre submissão e autorização de um projeto varia de CEP para CEP, logo o pesquisador deve gerenciar o tempo para que não haja atrasos.

   É importante ressaltar que pesquisas de revisão bibliográfica, que usem bancos de dados públicos (Censo, IBOPE, PNAD, Portal da transparência etc.), ou que sejam aplicadas em redes sociais (questionários abertos com participação voluntária) não precisam ser submetidas ao CEP.

Saiba Mais

No Brasil, a Comissão Nacional de Ética em Pesquisa –CONEP é responsável por elaborar e atualizar as diretrizes e normas para a proteção dos participantes de pesquisa. A CONEP também é responsável por manter e coordenar a Plataforma Brasil. Ela disponibiliza manuais e tutoriais, em seu site, para pesquisadores que desejem fazer estudos que envolvam seres humanos.

Vídeo  Sistema CEP/Conep

Pesquisas Envolvendo Animais não Humanos

Por mais que já tenhamos avançado muito na substituição do uso de animais não humanos em pesquisas científicas, ainda é necessário o uso destes.

No Brasil o uso de animais não humanos é regulamentado pela Lei Arouca (Lei n. 11.794, de 8 de outubro de 2008) que, entre outros grandes ganhos para a promoção do bem estar animal, obriga a criação do Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal – CONCEA, e as Comissões de Ética no Uso de Animais – CEUA.

foto com técnico de laboratório segurando um camundongo utilizado na experimentação animal.
Fonte: Banco de Imagens Fiocruz

As Ceuas são comissões institucionais que tem, entre outras atribuições “examinar previamente os procedimentos de ensino e pesquisa a serem realizados na instituição à qual esteja vinculada, para determinar sua compatibilidade com a legislação aplicável” (PORTAL FIOCRUZ, 2022).

   Quem quiser fazer pesquisa usando animais não humanos, deve procurar a CEUA da sua instituição.

Saiba Mais

Você já ouviu falar em 3R?
3R é uma norma baseada nas palavras:
 Reduction (redução).
 Refinement (refinamento).
 Replacement (substituição).
De acordo com essa norma, espera-se que as pesquisas:
  usem menos animais fazendo desenhos experimentais mais eficientes (redução);
  usem técnicas que considerem o bem-estar animal ao longo dos experimentos (refinamento);
  dê preferência a usar métodos alternativos (substituição).

Projeto de Pesquisa

O que é um projeto de pesquisa?

Por definição, um PROJETO é uma atividade que, necessariamente, tem começo, meio e fim bem definidos. Sendo assim, dizemos que o projeto científico é uma proposta de revelar um novo conhecimento por meio da realização de etapas bem definidas.

A seguir apresentaremos a estrutura de um projeto e/ou trabalho acadêmico.

Saiba Mais

Você sabe a diferença entre apresentação do projeto de pesquisa de um trabalho de pesquisa concluído?
Ambos têm muitos itens em comum, como a apresentação de um referencial teórico, objetivos, metodologia e referências bibliográficas, mas existem algumas diferenças. Os trabalhos de pesquisa, por exemplo, devem apresentar, obrigatoriamente resultados, discussão e conclusão em um formato pré-estabelecido pela ABNT 14724, que tem como objetivo especificar o modo como a apresentação deve ser feita.
É muito importante para quem faz pesquisa conhecer as regras do curso ou da instituição onde o projeto ou o trabalho será avaliado e/ou desenvolvido para formatar corretamente o texto final.

Estrutura de um projeto

Escolha o tema

O tema de um projeto científico é a grande área de interesse de investigação do pesquisador. Por ser amplo, é muito comum que pesquisadores passem toda a sua vida acadêmica investigando pequenos recortes de um mesmo tema.

Além de delimitar o tema, é preciso levar em consideração fatores que vão definir se a investigação do tema é possível como tempo, recursos, interesse pessoal, e se o mesmo possui relevância científica.

Introdução

Quando falamos em introdução temos que estar atentos à intenção colocada pela instituição para onde o texto será submetido. Isso porque o termo Introdução pode, por vezes, fazer o papel do Referencial Teórico (nosso próximo assunto).
Normalmente a Introdução só é requisitada em trabalhos finais, mas não em projetos. Ela deve ser apresentada em no máximo duas páginas, pois é uma apresentação do que foi o estudo. Nela devem conter informações como:

  • a delimitação do tema;
  • o problema estudado;
  • o diferencial do trabalho para os outros já realizados na literatura científica;
  • a hipótese formulada;
  • os objetivos;
  • a contribuição que o trabalho teve para a ciência.

Referencial Teórico

O Referencial Teórico é o item mais importante na construção de um objeto de pesquisa.
É no referencial teórico que o estado da arte é apresentado. Neste espaço é apresentada a base teórica que deu suporte à formulação das hipóteses.
É muito comum que a pessoa que escreve o referencial teórico queira escrever tudo que aprendeu ao longo do estudo, no entanto é preciso manter o foco e se ater apenas à literatura que vai ajudar a entender o problema.
Na prática, o referencial é um texto que apresenta as teorias, referenciando os autores. Cientistas escrevem muitos artigos, logo não basta dizer qual o autor defende determinada teoria, mas, sim, em qual texto ela foi apresentada.

Elaboração de Problemas

A elaboração do problema está diretamente relacionada à pergunta da pesquisa. As perguntas e situações problema são reveladas durante a vivência e ampliação do conhecimento. Quanto mais o cientista vive e estuda, mais fácil de identificar e delimitar o problema. Se considerarmos que todo esse estudo foi mostrado no referencial teórico, será fácil elaborar e apresentar o problema.

Elaboração de Hipóteses

Hipótese é uma suposição que tenta responder ao problema levantado no tema escolhido para pesquisa. Também é uma pré-solução para o problema levantado. O trabalho de pesquisa, então, irá confirmar ou negar a Hipótese (ou suposição) levantada.

Justificativa

Na Justificativa, quem fez ou fará a pesquisa deve mostrar a importância do Projeto de Pesquisa ou Trabalho final. É neste momento que os argumentos sobre a relevância da proposta são apresentados. A pesquisa supõe alocação de recursos, na sua maioria, públicos, o que torna necessário explicitar a natureza do assunto, sua relevância ou importância para área de conhecimento, impactos sociais de seus resultados e viabilidade da pesquisa.

Definição de objetivos

Na parte de Objetivos é preciso que esteja explícito o que se deseja alcançar com aquele trabalho. Por este motivo, deve-se usar verbos que exprimam ações verificáveis e alcançáveis, como, por exemplo, analisar, verificar, comparar, definir etc. Neste espaço também será necessário separar o objetivo geral do objetivo específico - pequenas etapas ou subprojetos que o projeto terá para que o novo conhecimento seja proposto.

Método

Neste espaço deve estar descrito, detalhadamente, qual o caminho percorrido para a obtenção dos resultados. É importante que quem leia o projeto ou trabalho acadêmico final identifique a abordagem, os procedimentos utilizados, os instrumentos de coleta e as técnicas de análise de dados. A partir do exposto, será possível verificar a validade e a reprodutibilidade dos resultados obtidos na pesquisa.

Cronogragrama de atividades

O cronograma deve estar descrito apenas nos projetos de pesquisa, pois representam a organização do estudo em etapas. Pode vir em forma de quadro ou tabela como em um calendário de ano, mês, dias.

Normas para Citações e Referências

As referências merecem um espaço especial de apresentação, pois permeiam todo o projeto e trabalho final, do início ao fim. É por meio delas que nos baseamos para entender o estado da arte, para gerar resultados e para encaixar nossos novos resultados em uma grande área de conhecimento. Todo trabalho de pesquisa, ao final, virará uma nova referência. Na sequência, vamos apresentar como as referências devem ser usadas na produção dos textos acadêmicas.

Citações

Segundo a NBR 10520, que trata sobre citações em documentos, citações é a “menção de uma informação extraída de outra fonte”.

A citação é um elemento fundamental de credibilidade científica. Quando citamos um trabalho que foi selecionado em uma base de dados indexada, mostramos mais informações sobre o tema de estudo, como pontos de vista convergentes e divergentes ao nosso.

Os tipos de citação variam entre: Citação Direta Curta, Citação Direta Longa, Citação Indireta e Citação da Citação.

Citação Direta Curta

É a transcrição literal (cópia) de um texto escrito por outro autor. Para isso, ela deve vir obrigatoriamente entre aspas e ter no máximo três linhas. Ao citar a fonte, além do nome do autor e ano, também deve estar escrita a página da obra de onde o texto foi transcrito.
Exemplo:
Sobre o ensino da língua portuguesa no Brasil padronizada em todo território nacional, Bagno (2015, p.26) critica a escola (e indiretamente a legislação que a rege) por “não reconhecer a verdadeira diversidade do português falado no Brasil”.

Citação Direta Longa

As citações longas obedecem a mesma regra anterior, no entanto têm mais de três linhas. Neste caso, elas não devem ser apresentadas de forma corrida ao longo do texto, mas sim com um recuo de 4cm da margem esquerda, fonte 10 e espaçamento simples. Podemos lançar mão de alguns artifícios, por exemplo, caso uma parte do texto não seja pertinente, ela pode ser excluída da transcrição sinalizando com os símbolos (...) que ali tem uma parte excluída.
Exemplo:
A esse respeito Souza e Mourão (2011) declaram:

“Na revista de Educação Física do Exército, periódico publicado pela primeira vez em 1932, encontramos artigos que desaconselhavam algumas práticas esportivas pelas mulheres, como lutas, o futebol, o levantamento de peso e outras, que eram representadas como viris (...) O que era indicado para mulheres nos debates era a beleza feminina alcançada por meio da prática de algumas modalidades que propiciariam um corpo harmonioso, gracioso e flexível.” (p. 11)

Citação Indireta

Quem escreve o projeto ou o trabalho final da pesquisa usa as referências para contextualizar, mas com suas próprias palavras. Assim, ao expor a análise sobre uma ideia/teoria pré-existente estamos fazendo uma citação indireta a uma idea já publicada. Por isso é necessário citar a fonte: dar crédito ao autor da ideia.
Exemplo: O valor da informação está relacionado com o poder de ajuda aos tomadores de decisões a atingirem os objetivos da empresa (VIEIRA, 1998).
ou
Segundo Vieira (1998), o valor da informação está relacionado com o poder de ajuda aos tomadores de decisões a atingirem os objetivos da empresa.

Vídeo  As normas técnicas nacionais: NBR 10520

Referências

O termo “Referências” pode ser interpretado de duas formas. Uma das definições é abordada pela NBR 6023: “conjunto padronizado de elementos descritivos, retirados de um documento, que permite sua identificação individual”.

A própria NBR 6023 já nos mostra como a padronização dos elementos deve ser feita. Como a origem das referências pode ser muitas (artigo, livro, filme, sítio eletrônico, legislação etc.), para cada tipo a NBR normatiza quais informações mínimas devem estar contidas.

A outra forma de entender “Referências” é o espaço formal dentro de um projeto de pesquisa ou trabalho acadêmico final, também normatizado pela ABNT na NBR 14724, onde as referências usadas para a construção do projeto ou trabalho acadêmico final devem ser apresentadas.

Além da NBR, existem outros padrões de formatação de citações e referências como Vancouver e APA, por exemplo.

Vídeo  As normas técnicas nacionais: NBR 6023

Gestão de Referências Bibliográficas

Estamos na era digital e da sustentabilidade ambiental, onde guardar as referências de interesse em papel já não faz mais sentido. Assim, quem faz pesquisa pode gerenciar seu acervo de bibliografia usando ferramentas digitais de gestão de referências. Algumas destas ferramentas, como o Endnote e Mendeley, são desenvolvidas por empresas privadas e têm versão gratuita com recursos limitados, e versão paga com mais recursos.

Outras ferramentas, como o  Zotero, Bibster, Citeulike e JabRef, são softwares livres e produzidos por pessoas que pensam no ecossistema de uma ciência aberta, colaborativa, transparente, compartilhada e etc.

Quer saber como funciona?

Durante a pandemia da Covid-19, a FIOCRUZ fez um banco de referências colaborativos sobre a Covid-19 usando o Zotero e compartilhou amplamente pela sociedade. Veja o banco  aqui

Além de importar as referências das bases de dados, organizar em pastas e dar opções de análise dos textos, muitas destas ferramentas também contam com plug-ins para editores de texto. Elas trazem em seus bancos de dados padrões de formatação de citações e referências. Assim, basta escolher um padrão que a ferramenta automaticamente formata o texto todo.

Resumo

Chegamos ao fim da aula. Antes de seguir , recomendamos que você assista ao vídeo com o resumo desta aula e aproveite para avaliar os seus conhecimentos :

Atividade