Considerando a complexidade das desigualdades sociais e seu impacto na saúde, Dalia Romero, Leo Maia e Débora Castanheira incluíram o idadismo como um Determinante Social da Saúde (DSS) no capítulo que escreveram em 2022, intitulado “Desigualdade em saúde no século XXI: conceitos, evidências e políticas públicas”, publicado no livro “Desigualdades: Visões do Brasil e do mundo”.
Mas o que são determinantes sociais da saúde?
Determinantes sociais da saúde são as características sociais, econômicas e políticas que definem a posição dos indivíduos ou grupos na sociedade, influenciando seu acesso a recursos, poder e prestígio. Esses determinantes têm uma dimensão estrutural, pois moldam as condições de vida e saúde das pessoas, gerando iniquidades — ou seja, desigualdades injustas e evitáveis.
O modelo mais utilizado para explicar os determinantes da desigualdade em saúde foi proposto pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e desenvolvido por Solar e Irwin em 2010. Claro e acessível, esse modelo demonstra como as desigualdades sociais se refletem na saúde das populações. Ele explica que a distribuição desigual de recursos, poder e prestígio na sociedade estabelece uma hierarquia social, que, por sua vez, expõe diferentes grupos a distintos níveis de risco e vulnerabilidade.
Dalia Romero e colegas defenderam a necessidade de incluir o idadismo entre os determinantes estruturais da inequidade em modelos que buscam explicar a desigualdade no século XXI.
Fonte: Modelo de Solar e Irwin adaptado por Dalia Romeo., et al. Incluindo a dimensão do idadismo.
O modelo de Solar e Irwin divide os determinantes sociais da saúde em duas categorias principais:
São os fatores que definem a posição socioeconômica dos indivíduos, como classe social, gênero, raça e, agora, também a idade. Esses fatores são moldados por mecanismos sociais, econômicos e políticos.
São as condições de vida e trabalho que resultam da posição socioeconômica, como acesso à educação, moradia, emprego e serviços de saúde.
Nesse contexto, Dalia Romero e Leo Maia explicam que o idadismo influencia a distribuição de recursos, poder, prestígio e discriminação na sociedade. É fundamental destacar que a questão não se limita a preconceitos individuais, mas sim a um processo de discriminação estrutural. Além disso, o idadismo não deve ser entendido como um fator isolado ou uma característica, mas como um determinante estrutural da desigualdade, que precisa ser combatido.
Uma revisão conduzida por Dalia Romero e Nathalia Andrade evidenciou a prevalência do idadismo nos meios de comunicação durante a pandemia. As autoras apontam que, embora as pessoas idosas não fossem as únicas afetadas pela contaminação do vírus, sua categorização homogênea como grupo de risco reforçou estereótipos negativos associados à idade. No caso do Brasil, a revisão mostrou que discursos e ações do Governo Federal minimizaram a gravidade da mortalidade entre a população.
Fonte: Freepik
Frases de representantes do governo, como “o medo ao contágio é dos mais fracos”, “distanciamento social é só para pessoas idosas com comorbidade” e “cada família deve colocar o vovô e a vovó em um canto e evitar o contato a menos de dois metros”, revelaram uma postura que desvalorizava a vida das pessoas idosas.
A ausência de políticas
públicas eficazes para proteger esse
grupo demonstrou que o alto impacto da pandemia entre a população idosa não foi
apenas consequência de sua maior
vulnerabilidade biológica, mas também de uma discriminação estrutural baseada na
idade, onde os interesses do
capital se sobrepuseram à vida
humana.
Guia de Integridade em Pesquisa da Fiocruz.
Para reverter esses critérios, é fundamental que, como sociedade, trabalhemos juntos para desconstruir esses preconceitos e promover uma imagem positiva do envelhecimento. Cada um de nós pode fazer a diferença, começando por refletir sobre nossa própria linguagem e ações, tanto nas interações pessoais quanto nas plataformas digitais.