Aula 2: O Idadismo no Cotidiano:
como reconhecer em
frases do dia a dia e suas consequências nas pessoas idosas
Objetivo de aprendizagem
Ao final desta aula, você será capaz de reconhecer o impacto do idadismo na vida das pessoas idosas.
Nesta aula, você será convidado a refletir sobre situações cotidianas nas quais
práticas
idadistas podem ocorrer, muitas vezes de forma inconsciente. Vamos explorar exemplos de atitudes,
comportamentos e
expressões que, embora pareçam inofensivos, reforçam estereótipos ou discriminação contra pessoas
idosas. Através de
situações reais e exemplos de linguagem, você aprenderá a reconhecer onde o idadismo está presente e
como ele
impacta as pessoas ao seu redor.
Questionamento
Você sabia que existem diversas palavras
do
nosso dia a dia que são
consideradas ofensivas para pessoas idosas?
Muitas vezes, utilizamos expressões ou adotamos atitudes que reforçam
estereótipos negativos sobre o envelhecimento,
sem perceber o impacto que isso pode ter. Nesta aula, queremos te ajudar a identificar esses
comportamentos
idadistas e refletir sobre como pequenas mudanças na sua linguagem e ações podem fazer uma grande
diferença.
Vamos começar reconhecendo algumas dessas expressões e entender por que elas
podem ser
prejudiciais. É comum ouvirmos ou até dizermos frases como “você já está velhinho para isso” ou
“isso é coisa de
gente idosa”. Embora muitas vezes ditas sem intenção de ofensa, essas expressões carregam
preconceitos sutis que
reduzem as capacidades das pessoas mais velhas e reforçam a ideia de que o envelhecimento é algo
negativo.
“Você não tem mais idade para isso!”
Essa frase sugere que, por ser mais
velha, a pessoa perdeu suas habilidades ou que
não deve mais tentar certas atividades, o que pode limitar sua autonomia.
“Ah, é a idade...”
Comum para justificar esquecimentos ou falhas, essa
expressão reforça o estereótipo de que envelhecer
está diretamente associado à perda de capacidades mentais.
“Velha ou velho.”
Acompanhado de algum adjetivo pejorativo: Usar a idade
como algo depreciativo, associando-a a
características negativas como 'velha bruxa', 'velho caneca' (que gosta de
beber), ou 'velho ranzinza', reforça
estereótipos e contribui para a desumanização da pessoa idosa.
“Vovozinha/Vovozinho.”
Embora no diminutivo essas palavras possam expressar
carinho, elas só fazem sentido quando usadas
por pessoas próximas, que tenham intimidade (como netos, parentes ou amigos).
Quando ditas por estranhos, tendem a
infantilizar e desvalorizar a pessoa, sugerindo que a idade diminui sua
individualidade.
“Ela(e) é jovem de coração.”
Essa expressão sugere que só os jovens têm
emoções ou vitalidade, desvalorizando os
sentimentos e experiências das pessoas idosas. Implicitamente, reforça a ideia
de que ser uma pessoa idosa significa não
ter mais entusiasmo ou paixão pela vida, como se a capacidade de sentir e
aproveitar as emoções fosse restrita apenas
aos jovens.
“Precisamos de alguém com sangue novo para esta vaga.”
Reforça a ideia de
que apenas os jovens têm energia e criatividade.
“Você está ótima com esta idade!”
Implica que a aparência está condicionada
à idade, como se fosse surpreendente que
alguma pessoa idosa possa ser considerada atraente.
“Ele está muito velho para mudar de profissão."
Essa afirmação limita as
oportunidades das pessoas idosas e ignora sua capacidade de se adaptar e
aprender.
“Me esqueci de novo! Estou ficando velha.”
Sugere que o envelhecimento está
diretamente relacionado à perda de
capacidades, o que é uma visão negativa e errônea.
“Lugar de pessoa idosa é em casa.”
Essa afirmação é limitante e reforça a
ideia de isolamento, o que não reflete a
realidade de muitas pessoas idosas que continuam ativas e engajadas.
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Agora, vamos refletir juntos sobre como substituir essas expressões
por
alternativas mais respeitosas e inclusivas.
Ao invés de dizer:
" Você não tem
mais idade pra
isso",
você pode...
Clique aqui
De forma
mais
respeitosa, perguntar:"Você se sente confortável para fazer isso?"
Essa abordagem não assume limitações baseadas na idade e respeita a autonomia da
pessoa.
Ao invés de dizer:
" Ah, é a
idade..."
você pode...
Clique aqui
Focar na situação específica e dizer:"Isso pode acontecer com qualquer um de
nós".
Essa abordagem promove empatia em vez de atribuir o problema à idade.
Ao se referir a pessoas idosas, evite o diminutivo ou apelidos que possam soar
infantis.
Respeite a individualidade, chamando pelo nome ou usando expressões respeitosas conforme o contexto e a
preferência
da pessoa.
Dica
Publicado em 2022, o Glossário Coletivo de
Enfrentamento ao Idadismo
oferece orientações sobre palavras, expressões, frases e depoimentos que evidenciam o
preconceito contra pessoas
idosas. Este trabalho é resultado de uma ampla coleta de material, revelando diversas
formas de idadismo que
permeiam diferentes contextos sociais. São apresentados alguns exemplos que nos levam a
uma reflexão profunda sobre
a linguagem que utilizamos e seu impacto na percepção das pessoas idosas.
E nas redes sociais, será que você publicou algo preconceituoso? Ou alguma vez
já leu algo
preconceituoso por lá? Muito provavelmente, você responderá que não para a primeira pergunta e sim para
a segunda,
certo? Então, quem será que está publicando conteúdo idadista nas redes sociais?
Um estudo realizado por Xiang (2021) avaliou o discurso público e os sentimentos
em relação as pessoas idosas durante a pandemia de COVID-19 nas redes sociais, revelando a extensão do
preconceito de idade no discurso público. A pesquisa analisou dados do Twitter em 2020 e documentou que
mais de 60% das publicações expressaram opiniões e experiências preconceituosas em relação às pessoas
idosas. Além disso, a mesma pesquisa constatou que 1 em cada 10 usuários do Twitter implicava que a vida
das pessoas idosas era menos valiosa do que a dos jovens ou minimizava a pandemia, considerando-a como
uma questão que afetava principalmente as pessoas idosas.
Essas ações podem gerar consequências graves na vida das pessoas idosas, afetando
tanto sua
saúde física quanto mental. Vamos refletir a seguir o que tais ações podem causar na vida dessas
pessoas.
O idadismo está associado a piores desdobramentos de saúde. Quando pessoas idosas são
tratadas como frágeis ou
incapazes, muitas vezes internalizam essas mensagens, o que pode levar à redução das
atividades físicas e ao isolamento
social. Isso pode contribuir para:
Agravamento de doenças crônicas: A falta de incentivo à atividade física e social pode
piorar condições como diabetes,
doenças cardíacas e problemas respiratórios.
Diminuição da mobilidade: O estereótipo de que pessoas idosas devem se “poupar” pode fazer
com que elas evitem
exercícios, o que resulta na perda de mobilidade e independência.
As atitudes idadistas afetam profundamente o estado de ânimo e a saúde mental das pessoas
mais velhas:
Aumento de casos de depressão e ansiedade: O sentimento de não ser valorizado ou de ser
visto como um fardo pode gerar
tristeza, ansiedade e depressão.
Baixa autoestima: Constantemente ouvindo que sua idade é uma limitação, muitas pessoas
idosas passam a acreditar que
realmente são menos capazes ou que sua vida tem menos valor.
Autopercepção negativa: Quando a sociedade reforça o estigma de que envelhecer é algo
negativo, as pessoas idosas podem
desenvolver uma visão pessimista de si mesmas, o que impacta diretamente sua motivação e
bem-estar.
O idadismo pode levar ao afastamento social. Pessoas idosas, muitas vezes, são excluídas de
atividades ou eventos porque
são consideradas "inadequadas" ou "frágeis". Isso pode gerar:
Solidão: A exclusão social pode fazer com que as pessoas idosas se sintam isoladas, o que
aumenta o risco de problemas
de saúde mental e física.
Risco aumentado de mortalidade: Estudos mostram que o isolamento social prolongado está
associado a uma maior taxa de
mortalidade entre as pessoas idosas.
Pessoas idosas podem enfrentar barreiras no acesso a serviços essenciais, como cuidados de
saúde ou oportunidades de
emprego, devido ao idadismo. Por exemplo:
Discriminação no atendimento médico: Elas podem receber cuidados de menor qualidade, com
menos opções de tratamento, por
serem vistas como "menos prioritárias" em relação a pacientes mais jovens.
Desvalorização no mercado de trabalho: Muitas vezes, as pessoas mais velhas são vistas como
"menos produtivas" e
enfrentam dificuldades em manter ou conseguir um emprego, mesmo sendo qualificadas.
Outro impacto comum do idadismo é a crença de que pessoas idosas não conseguem aprender
coisas novas ou se adaptar a
tecnologias. Isso afeta sua autonomia e as impede de explorar novas oportunidades, como:
Exclusão digital: A falta de acesso e de incentivo para usar a tecnologia pode afastar
as pessoas idosas de recursos
importantes, como serviços de saúde online, oportunidades de aprendizado e redes de
apoio.
Incapacidade percebida: Quando são tratadas como incapazes de aprender, as pessoas
idosas podem acabar desistindo de
novos desafios e isolando-se mais.
O idadismo também afeta o bem-estar geral das pessoas idosas, criando um ciclo de
marginalização e exclusão. A soma
desses impactos pode levar a uma vida com menos oportunidades, menos interação social, e
uma sensação constante de que o
envelhecimento é um problema, quando, na verdade, deve ser visto como uma fase natural e
valiosa da vida.
Esta aula demonstrou como atitudes e expressões, aparentemente inocentes, podem
reforçar
estereótipos e a discriminação contra pessoas idosas. Através de exemplos reais e linguagem cotidiana,
identificamos
onde o idadismo se manifesta, mesmo de forma imperceptível, e como isso impacta as relações
interpessoais. Refletir
sobre essas situações permite-nos repensar e ajustar a nossa comunicação, contribuindo para um ambiente
mais
inclusivo e respeitoso para o envelhecimento.