Aula 2 – Impactos das mudanças do século XXI no idadismo

Objetivos de aprendizagem

Ao final desta aula, você será capaz de:

Caracterizar a juventude como um segmento social que possui características próprias.
Ampliar as percepções sobre a condição juvenil e a diversidade de trajetórias dos jovens.
Perceber como pessoas de diferentes idades podem ser atingidas por estereótipos etários.

Já compreendemos que a idade desempenha um papel importante nas culturas, influenciando normas sociais, expectativas e o status dos indivíduos dentro de uma sociedade. A maneira como as diferentes faixas etárias são vistas e tratadas modifica de acordo com o contexto cultural e histórico, moldando os papéis sociais e as interações entre os indivíduos.

Desde a primeira década dos anos 2000, a condição juvenil vem sendo amplamente estudada e refletida em inúmeros diagnósticos e pesquisas na América Latina. Esses estudos buscam compreender a situação social da juventude e subsidiar políticas públicas voltadas para o grupo dos 15 aos 29 anos, no caso brasileiro. Um dos pressupostos centrais dessas reflexões é que a juventude não pode ser reduzida a uma mera fase transitória para a vida adulta.

As expectativas de autonomia, emancipação e inserção social dos jovens são profundamente influenciadas pelas desigualdades estruturais locais e regionais, o que significa que as trajetórias juvenis são marcadas por uma diversidade de experiências e desafios.

Essa perspectiva nos leva a entender que as formas de existir e acessar oportunidades são heterogêneas entre os jovens, sendo balizadas pelo cenário social e territorial no qual estão inseridos. Fatores como condições materiais, relações de gênero, padrões sexuais e pertencimentos étnico-raciais desempenham um papel essencial na definição das trajetórias juvenis. Temas como saúde, educação, trabalho, cultura, segurança pública, diversidade sexual e participação social e política problematizam as representações correntes sobre o que significa ser jovem na contemporaneidade, destacando as especificidades dos contextos em que esses jovens se desenvolvem.

Dica

Iniciativas como a Agenda Jovem Fiocruz têm sido fundamentais para estimular o debate sobre a relação entre a condição juvenil contemporânea e a saúde nos países latino-americanos. Essa plataforma colaborativa da Fiocruz busca produzir insumos conceituais e metodológicos para a formulação de políticas públicas dirigidas à juventude, com enfoque na saúde. Por meio de pesquisas e estudos, temas como violências, acesso a serviços de saúde, efeitos das tecnologias de informação e comunicação, e interseccionalidades de gênero, raça e classe têm sido amplamente discutidos, revelando a complexidade das experiências juvenis.

As reflexões sobre a condição juvenil na América Latina nos ajudam a entender como o idadismo afeta os jovens de maneiras específicas, especialmente em contextos marcados por desigualdades estruturais. A desvalorização da juventude, muitas vezes vista como "inexperiente" ou "imatura", é agravada por fatores como a precarização do trabalho, a falta de acesso à educação de qualidade e a exclusão digital. Ao mesmo tempo, a idealização da juventude como um período de vitalidade e produtividade pode criar expectativas irreais, pressionando os jovens a alcançar o sucesso de forma precoce e exacerbando conflitos intergeracionais.

Vamos entender a seguir com o as mudanças no século XX e XXI impôs desafios para todas as gerações:

A rápida obsolescência tecnológica impõe desafios para todas as gerações. Jovens que não dominam as últimas ferramentas digitais podem ser considerados "ultrapassados", enquanto pessoas idosas que não aderem às novas tecnologias são frequentemente vistas como "fora do seu tempo". Isso reforça a ideia de que a idade não é definida apenas pelos anos de vida, mas também pela capacidade de se manter relevante em um mundo em constante transformação.

Dica

O artigo de Dalia Romero e Nathalia Andrade, publicado na revista Radis Comunicação e Saúde, apresenta um caso emblemático ocorrido em uma universidade de Bauru, onde uma mulher de 44 anos foi chamada de "velha" por colegas mais jovens, que sugeriram que ela "não deveria mais estar estudando". Esse episódio é um exemplo claro de como o idadismo se manifesta não apenas em relação às pessoas idosas, mas também dentro da juventude, excluindo aqueles que não atendem ao ideal imposto para essa fase da vida. Clique aqui e conheça.

Além disso, o século atual tem sido marcado pela diminuição de oportunidades de empregos formais que garantam estabilidade e aposentadoria futura para os jovens, assim como pelo aumento da idade da aposentadoria, sob o argumento do aumento da expectativa de vida. Essa dinâmica, pautada principalmente pelas estratégias de mercado do modelo neoliberal, cria grande ansiedade, desalento e pressão sobre os jovens, além de impor uma carga excessiva de exigências para as pessoas idosa.

Saiba mais

Um estudo realizado com jovens de uma comunidade do Rio de Janeiro revelou que muitos deles percebem o idadismo como uma barreira no acesso ao mercado de trabalho e no reconhecimento de suas vozes em espaços políticos e sociais. Os jovens entrevistados relataram se sentir pressionados a provar constantemente seu valor, seja pela falta de experiência atribuída à sua idade, seja pela necessidade de se manterem atualizados tecnologicamente. Além disso, muitos expressaram preocupação com o futuro, especialmente em relação à aposentadoria e ao cuidado das pessoas idosas em suas famílias.

A preocupação com o futuro é reflexo das mudanças sociais mais amplas, como a redução das taxas de fecundidade e o envelhecimento populacional, que alteraram a estrutura familiar. O tamanho das famílias tem diminuído, e a responsabilidade pelo cuidado das pessoas idosas tem recaído cada vez mais sobre os jovens. Esse cenário não só sobrecarrega os mais novos, como também reduz suas perspectivas de apoio no futuro, já que podem não contar com uma rede familiar ampla para auxiliá-los na velhice.

A imagem a seguir apresenta um mapa visual criado a partir de uma roda de conversa com os jovens, destacando suas percepções, preocupações e desafios em relação ao envelhecimento e às relações intergeracionais em seus territórios.

Minha Imagem

Fonte: ICICT / Fiocruz

Na imagem é possível observar que:

  • A figura da mulher é frequentemente ligada ao cuidado;
  • Possui diferentes significados no decorrer das trajetórias individuais;
  • Existe uma preocupação com a falta de planejamento financeiro para a velhice e com o impacto disso na qualidade de vida das pessoas idosas;
  • A responsabilidade pelo cuidado da pessoa idosa é um tema debatido, com opiniões divididas sobre se essa função deve ser do Estado, da comunidade ou da família;
  • Os jovens mencionam a falta de diálogo intergeracional, a necessidade de maior empatia com a população idosa e a importância de repensar os estereótipos sobre o envelhecimento;
  • Apesar dos desafios, muitos expressaram o desejo de envelhecer com uma "mente jovem", mantendo-se ativos e independentes.
  • O conceito de juventude e velhice é, portanto, fluido e socialmente construído. Qualquer pessoa pode ser considerada "velha" dentro de um determinado grupo, dependendo das expectativas e normas sociais daquele contexto. Isso reforça a ideia de que o idadismo não deve ser visto apenas como um problema das pessoas idosas, mas como um fenômeno que afeta todas as gerações.

    Para combater o idadismo, é essencial:

    Os jovens desempenham um papel central nessa transformação: ao questionar normas, desafiar estereótipos e reivindicar direitos, contribuem ativamente para uma sociedade mais inclusiva, onde todas as gerações possam coexistir com respeito e reconhecimento mútuo.