Colaborar com a literacia sobre discriminação dos jovens por sua idade. | |
Compreender a condição da idade como uma construção social. |
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Refletir sobre os diferentes lugares sociais definidos para cada fase da vida. |
Iniciaremos essa aula com alguns questionamentos:
Qual idade você teria se não soubesse a idade que tem? Você saberia responder essa questão?
Perceba que a pergunta não se refere a sua idade cronológica, ela está direcionada a descobrir como você se sente com relação às representações sobre cada fase da vida.
Se você pensou em responder que se sente com menos idade justificando que é uma pessoa alegre e divertida, ou que teria mais idade por ser alguém mais reservado e caseiro, saiba que assim você está inclinada(o) a definir cada fase da vida de acordo com os estereótipos, criados socialmente, para definir o comportamento das pessoas de diferentes idades.
Para entender melhor esse contexto, nessa aula buscaremos compreender a construção social da idade e refletir sobre os diferentes lugares definidos para cada fase da vida.
Antes de tudo, é fundamental compreender o que significa construção social. Vamos lá?
As pessoas não são iguais e as pessoas idosas também não! As pessoas não são iguais, dessa forma envelhecem de forma heterogênea.
A sociologia busca demonstrar que muitas das características que consideramos parte da personalidade ou dos sentimentos individuais são, na verdade, fortemente influenciadas pelo contexto social em que vivemos.
Por isso, neste curso, queremos questionar e desconstruir respostas comuns do dia a dia, como "eu sou assim" ou "eu penso dessa maneira", mostrando que nossas percepções e comportamentos são moldados por fatores sociais.
Muitos dos professores deste curso são sociólogos e consideram a construção social um dos conceitos centrais para compreender como as expectativas, crenças e atitudes do grupo social influenciam as pessoas. Isso abrange percepções sobre gênero, raça, classe social e outras identidades.
A construção social da idade:
Em particular, a construção social da juventude e seu impacto na discriminação etária – incluindo o idadismo internalizado – ainda são pouco explorados e merecem maior atenção.
Sugerimos que se realize as seguintes perguntas: O que carateriza uma criança? Como se comporta um típico adolescente? Quais são as mudanças de um jovem quando passa a ser adulto? Como se comportam as pessoas idosas com os jovens? Como os jovens percebem às pessoas idosas? Depois de respondido, tente perguntar as pessoas de seu convívio. Muito provavelmente encontrará respostas parecidas sobre como é viver cada fase da vida. Isso estaria confirmando que a idade é uma construção social que direciona nossos modos de pensar e agir.
A nossa cultura criou várias formas de demarcar a passagem do tempo, tais como calendários e relógios, os quais permitem ter medida do seu andamento. Fazer aniversário, celebrar o dia de nascimento e a idade que se tem, é igualmente um modo de medir o tempo que passa e de dar sentido às nossas trajetórias individuais.
A idade é, frequentemente, um marcador para contar a história de nossas vidas, para falar de nossas conquistas e desafios ao longo do tempo. Há nisso um encontro entre o envelhecimento biológico natural e a escala social etária definida pela nossa cultura. É nessa fronteira que construímos nossas identidades pessoais e nos organizamos socialmente.
Vamos entender a seguir as mudanças nas concepções das fases da vida
Os anos iniciais da vida dos indivíduos estão atrelados à formação e à escolarização.
A fase madura corresponde à idade do trabalho.
A velhice é o tempo da aposentadoria.
Nessa breve descrição temos aí envolvidas as instituições educativas, profissionais e de proteção social estruturando suas ações com base nas idades da vida.
Contudo, não podemos afirmar que essas demarcações sociais foram as mesmas durante toda a história. Na sociedade medieval, por exemplo, a noção de infância não existia da forma como a entendemos hoje.
É importante lembrar que, ao longo da história da humanidade, a entrada de crianças de um ano no sistema escolar é um fenômeno relativamente recente. Muitas das pessoas que hoje são idosas iniciaram sua vida escolar apenas aos seis anos ou, em alguns casos, não tiveram a oportunidade de estudar. Dessa forma, a definição das etapas da vida não estava necessariamente atrelada à inserção na escola.
Para saber mais sobre a construção social das idades, leia o livro do historiador francês Phillippe Ariès, intitulado História Social da Criança e da Família. Na obra indicada, o autor nos conta que ainda que as crianças fossem consideradas “pequenos adultos”, havia um poder exercido sobre elas. A ideia de "poder adulto", mencionada no contexto da obra, refere-se à maneira como as instituições sociais e as estruturas familiares exercem controle e influência sobre as crianças. É revelador nesse trabalho historiográfico como na relação entre o biológico e o social determinadas hierarquias de idade são criadas.
As hierarquias de idade referem-se às formas que configuram o status, o respeito e as responsabilidades das gerações dentro de uma sociedade. Em muitas culturas, a idade pode desempenhar um papel importante na determinação do poder e da autoridade. Alguns exemplos comuns de como isso pode se manifestar:
Essas hierarquias podem variar significativamente de uma cultura para outra e podem mudar ao longo do tempo dentro da mesma cultura.
Em uma análise apurada das transformações socioculturais do nosso tempo histórico, observaremos as mudanças no status da autoridade baseada na idade. Em seus estudos sobre as idades, o sociólogo Edgar Morin diz, que se nas sociedades tradicionais a figura central era do homem adulto, na sociedade moderna o personagem que emerge é o do jovem rapaz. O autor demonstra esse fenômeno nas artes e na política a partir de 1950, época do advento da cultura de massas que promoveu uma juvenilização das sociedades. Nessa época, ser jovem virou sinônimo de atitude, rebeldia, construção de identidades, criatividade e inovação. Em contrapartida, dentre as consequências desse fenômeno está uma desvalorização universal da velhice e uma maior oposição entre as gerações.
Um clássico do cinema estadunidense demonstra a construção desse ideal do jovem rapaz, rebelde, ativo e vivaz. O filme “Rebel without a cause”, traduzido no Brasil para “Juventude Transviada”, protagonizado por James Dean e dirigido por Nicholas Ray, estreou em 1955 e conta a história de um adolescente que chega em uma cidade causando problemas. Recomendamos assistir no canal “meu tio cinéfilo” uma análise curta e objetiva sobre os valores e as representações da juventude, mobilizadas pelo filme - OSCAR 1955 - JUVENTUDE TRANSVIADA - ANÁLISE MEU TIO OSCAR. Com base no que é apresentado no vídeo, reflita sobre as imagens e representações, analisando suas semelhanças e diferenças em relação à juventude atual.
Os surgimentos dos conflitos geracionais podem estar relacionados com o espaço social criado por essa oposição entre jovens e pessoas idosas. Habilidades e competências passaram a ser identificadas e valoradas de forma diferente em cada fase do curso da vida. Isso pode ser percebido, por exemplo, no mundo do trabalho: O acesso ampliado à escolarização e à informação, bem como o uso das tecnologias pelas gerações mais novas, evoca um atual recurso de saber dos mais jovens frente ao qual os mais idosos respondem com o expediente da experiência. Essa dinâmica de classificação influencia os afetos, as posições de hierarquia, as relações intergeracionais e as políticas organizacionais
Na primeira aula desse módulo discutimos brevemente sobre como as noções de idade são construções da nossa própria cultura. Algo que imaginávamos ser tão certo quanto um cálculo matemático é, na realidade, uma criação humana para expressar nossos valores e padrões de comportamento. Dizer a idade que tem não é simplesmente responder a uma sequência cronológica pela passagem do tempo. Ter 12, 20, 30, 40 ou 60 anos não apenas demarca uma classificação etária pelo envelhecimento biológico, mas carrega significados e expectativas sobre as condutas esperadas para cada idade e cada etapa da vida.
Compreender a idade como uma construção social é um passo fundamental para refletirmos sobre os papéis atribuídos para cada fase da vida e a forma como as pessoas de diferentes idades são percebidas e tratadas na sociedade.
A idade afeta não apenas a identidade pessoal, mas também as oportunidades e desafios que uma pessoa enfrenta em diferentes estágios de sua trajetória.
A produção de estereótipos com base na idade pode resvalar em preconceitos e discriminações quando aquilo que é prescrito não encontra correspondência em realidades tão diversas. Nesse contexto, que tal trazermos a reflexão sobre o que a sociedade espera dos jovens e o que ela oferece de suporte.