Módulo 3 Prevenção, controle e vigilância em saúde

Aula 3

A vigilância em saúde dos riscos associados aos desastres


Uma emergência em saúde pública ou um desastre constituem-se em qualquer evento ou situação, incluindo as relacionadas aos desastres por inundações graduais, que resultam em impactos sobre as comunidades afetadas e alteram e/ou comprometem suas condições de vida e saúde. Envolvem ameaças provocadas por processos climáticos e hidrológicos, vulnerabilidades, e capacidades institucionais, incluindo as de resposta e de redução de riscos.

Vamos conhecer a seguir os seis conceitos fundamentais relacionados a desastres:

Chuvas fortes e contínuas são potenciais ameaças e podem desencadear um desastre ao combinar populações expostas, vulneráveis e não preparadas, com baixas capacidades institucionais e governamentais de prevenção, mitigação e respostas.

Algumas situações prolongam a exposição das populações. Em inundações, águas contaminadas e situações provisórias e/ou precárias em abrigos geram novos cenários de riscos de doenças que requerem a intensificação da vigilância em saúde e dos cuidados em saúde conjuntamente.

Em cenários de desastres, as populações com piores condições socioeconômicas são frequentemente as mais vulneráveis aos riscos destes eventos e sofrem por mais tempo seus impactos, prolongando a recuperação.

Países, estados, municípios e locais que possuem mais recursos humanos, técnicos e financeiros para prevenção, além de uma melhor resposta, com planos de emergências envolvendo diferentes instituições e comunidades, têm mais capacidade de enfrentar os desafios colocados pelos desastres e, consequentemente, de fortalecer a resiliência dos territórios, instituições e populações.

É fundamental que o princípio de "reconstruir de modo melhor e mais seguro" seja adotado, evitando que se repitam os mesmos cenários que existiam antes dos desastres, resultando em comunidades, municípios, estados e país melhor estruturados e preparados para riscos futuros.

Nos eventos extremos vivenciados no país, processos de adaptação aos novos cenários de riscos, envolvendo as comunidades, escolas, estabelecimentos de saúde e o conjunto de atividades econômicas e sociais, são fundamentais para prosseguirmos de modo mais seguro e resiliente.

Em situações de desastres naturais, como nas enchentes, indivíduos ou grupos de pessoas que entraram em contato com lama ou água de enchentes podem se infectar e manifestar sintomas da doença. Um agravante é que as Leptospiras podem se replicar em solo alagado, o que pode explicar a ocorrência de surtos de leptospirose que sucedem inundações e enchentes, após um intervalo de tempo de 1 a 3 meses.

Nesse contexto, as seguintes recomendações devem ser adotadas:

  1. Divulgar informes sobre o risco de leptospirose para a população exposta a enchentes;
  2. Divulgar informes sobre a necessidade de avaliação médica para todo indivíduo exposto a enchente que apresente febre, mialgia, cefaleia ou outros sintomas clínicos no período de até 30 dias após o contato com lama ou água de enchente;
  3. Divulgar informes sobre medidas potenciais para evitar novas ou continuadas exposições a situações de risco de infecção;
  4. Alertar os profissionais de saúde sobre a possibilidade de ocorrência da doença na localidade de forma a aumentar a capacidade diagnóstica;
  5. Manter vigilância ativa para identificação oportuna de casos suspeitos de Leptospirose, tendo em vista que o período de incubação da doença pode ser de 1 a 30 dias (média de 7 a 14 dias após exposição);
  6. Notificar todo caso suspeito da doença, para o desencadear de ações de prevenção e controle;
  7. Realizar tratamento oportuno de todo caso suspeito.
Atenção

Reforçamos a orientação para profissionais de saúde, militares e de defesa civil que se expuserem ou irão se expor a situações de risco durante operações de resgate, a utilizar Equipamentos de Proteção Individual e ampliar o grau de alerta sobre o risco da doença entre os expostos, de forma a permitir o diagnóstico precoce de pacientes e tratamento oportuno.

Sendo a leptospirose uma doença de notificação compulsória no Brasil, a ocorrência de casos suspeitos isolados e também de surtos deve ser notificada o mais rapidamente possível para o desencadeamento das ações de vigilância epidemiológica e controle.

A notificação deve ser registrada no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), utilizando-se a Ficha de Investigação da Leptospirose.

Atenção

Acesse aqui para obter as instruções de preenchimento da Ficha de Investigação da Leptospirose.

Observe o caminho da Ficha de Investigação da Leptospirose.

imagem com fluxo de notificação da leptospirose
Fonte: Campus Virtual Fiocruz

A ficha é preenchida pelas unidades assistenciais - para cada paciente no momento da suspeita da ocorrência de leptospirose. Esse instrumento é encaminhado aos serviços de vigilância epidemiológica das Secretarias Municipais, que repassam a informação para as Secretarias Estaduais de Saúde (SES). As SES, por sua vez, informam a Secretaria de Vigilância em Saúde (SVSA/Ministério da Saúde). O Ministério utiliza os dados para atualizar o Sistema de Informações de Agravos de Notificação (SINAN) e o Sistema Integrado de Monitoramento de Eventos (SIME).

O Ministério da Saúde divulgou, por meio da NOTA TÉCNICA Nº 138/2022-CGZV/DEIDT/SVS/MS um conjunto de recomendações visando alertar sobre condutas relacionadas à leptospirose em situações de desastres naturais como enchentes e inundações.

Junto ao registro dos casos no Sinan, recomenda-se ainda que a Vigilância Epidemiológica utilize a planilha descrita no Anexo B da referida Nota Técnica, a fim de uma rápida atualização para as três esferas (municipal, estadual e federal). Esta planilha poderá ser adequada ao município ou estado, ou poderá ser elaborado outro instrumento que poderá ser pactuado com Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde para que os casos de leptospirose sejam monitorados e acompanhados com maior celeridade para auxiliar na tomada de decisão.

A investigação epidemiológica de caso suspeito ou confirmado deverá ser realizada com base no preenchimento da ficha citada, devendo seguir o roteiro:

imagem com fluxo de caso suspeito de leptospirose
Fonte: Guia de Vigilânca em Saúde, Volume único 9, MINISTÉRIO DA SAÚDE

O monitoramento de casos de leptospirose deve ser realizado continuamente, mesmo após desastres climáticos ou eventos extremos. Durante a reocupação, recuperação ou reconstrução da região afetada, profissionais e habitantes da região ainda estão sob risco elevado de exposição ao patógeno. É importante manter contato com múltiplas unidades para viabilizar o monitoramento de águas residuais e de outras espécies que são reservatórios do patógeno, no entendimento da distribuição dos riscos.

Saiba mais...

Os Laboratórios Centrais de Saúde Pública (Lacen) de cada estado e do Distrito Federal atuam juntamente com o Laboratório de Referência Nacional para Leptospirose (LRNL), localizado na Fiocruz, no Rio de Janeiro realizando análises sorológicas e moleculares para a definição dos casos clínicos suspeitos de leptospirose. As informações geradas pelos laboratórios auxiliam os órgãos de vigilância nacionais no monitoramento do agravo, esclarecimentos de casos em situações de surtos e epidemias. O LRNL também desenvolve projetos de pesquisa e formação de recursos humanos para a atuação na rede de laboratórios centrais de saúde pública do país.

Avalie seus conhecimentos

O próximo passo será levá-lo para o ambiente de avaliação. Lá, você terá 10 perguntas sobre o conteúdo do curso. Para certificação, você precisa acertar, pelo menos, 7 delas. Siga as instruções e boa sorte!