Módulo 1 | Aula 1
Informação Para as Políticas Sociais
Informações para Políticas Sociais
Para construir uma política pública, é preciso considerar vários elementos, como os objetivos, processos, poderes, determinantes e finalidades, além dos efeitos que essa ação pública vai ter. Nesse sentido, entende-se que uma “política pública é o Estado em ação, o processo de construção de uma ação governamental para um setor, o que envolve recursos, atores, arenas, ideias e negociação” (VIANA; BAPTISTA, 2012, p. 60). É nesse contexto de elaboração da ação pública que estão inseridas as políticas, os programas e as intervenções no campo da saúde pública, cujo maior desafio será a definição de alternativas efetivas para a redução das desigualdades. No campo da saúde pública, o maior desafio é encontrar maneiras eficazes de reduzir as desigualdades.
Essas desigualdades surgem porque os processos de saúde e doença são influenciados por fatores biológicos, socioeconômicos, ambientais e culturais. Assim, os determinantes sociais se somam às condições biológicas, criando diferentes situações de saúde, fatores de risco e o acesso a bens e serviços disponíveis (BARRETO, 2017).
"As desigualdades em saúde estão condicionadas àquelas do âmbito social, na medida em que os processos geradores de saúde, adoecimento e morte estão subordinados às condições de acesso a bens e serviços, tecnologia, avanços científicos e nível de exposição a fatores de risco."
(FARIA, 2023, p. 17)
A Constituição Federal do Brasil garante o direito à saúde, criando o SUS e estabelecendo seus princípios fundamentais: universalidade, integralidade, descentralização e participação comunitária (BRASIL, 1988).
Como veremos na próxima seção, a Lei Orgânica da Saúde, de 1990, foi responsável pela criação do Sistema Nacional de Informações em Saúde (SNIS). Nesse contexto, a informação em saúde desempenha um papel crucial, pois serve como uma ferramenta essencial para subsidiar a elaboração de políticas de políticas, programas e intervenções em saúde pública, ao revelar cenários e necessidades.
O que é Informação em Saúde?
"Informação em saúde consiste na descrição ou representação limitada de um evento, agravo, atributo ou dimensão da situação de saúde-doença-cuidado de indivíduos ou população, no tempo e espaço definidos, que foi (foram) selecionado(s), tratado(s) e organizado(s) a partir de determinados interesses e objetivos [...]
[...] a descrição ou representação encontra-se disponível, ou não, para divulgação e análise, podendo, enfim, ser utilizada para apoiar a decisão e o exercício do controle social, reduzindo a incerteza da ação, conforme a correlação de forças e interesses presentes no processo decisório."
(MORAES: FORNAZIN 2022 n. 676)
Quando falamos em produzir informações que vão apoiar a tomada de decisões, é importante destacar os sistemas de informação em saúde. Na literatura científica da Saúde Coletiva, esses sistemas são definidos principalmente como "elementos ligados à coleta, armazenamento, processamento de dados e difusão de informação" (COELI et al., 2009). Em resumo, os SIS (Sistemas de Informação em Saúde) têm o objetivo de transformar dados em informações que serão usadas para analisar e tomar decisões, como no planejamento e monitoramento de políticas públicas e serviços de saúde.
No entanto, como nos alertam Moraes e Fornazin (2022), os SIS não conseguem captar toda a realidade da saúde. Eles apenas descrevem partes ou dimensões de um fato, evento ou situação de saúde, doença ou cuidado. A escolha de quais dimensões registrar depende de vários fatores, como:
- o ponto de vista;
- o grau de conhecimento;
- e tecnologia de que dispõe os responsáveis por desenvolvê-los.
Nesse contexto, as tecnologias podem ser usadas de várias maneiras para a produção de informações em saúde. Conforme Moraes (2002),
"as Informações em Saúde se constituem em 'tecnologia de dominação, mas paradoxalmente, podem se constituir em 'tecnologia de libertação': tecnologia de poder, mas também de transformação".
(MORAES, 2002)
No Brasil, temos vários sistemas de informação em saúde, cada um com sua própria lógica de funcionamento. Por exemplo, temos sistemas para o cadastramento populacional e de estabelecimentos de saúde (como o CADSUS e o CNES) para o monitoramento de eventos importantes para a saúde pública (como o SINASC e o SINAN), para o controle de programas e/ou repasses federais (como o Programa Bolsa Família e o SI-PNI), e para apoiar a informatização de políticas, processos e serviços do SUS (como o SISREG e o SISAB) (COELHO-NETO; CHIORO, 2021).
Vamos conhecer os principais sistemas de informação em saúde que existem no Brasil.
| Quadro 1: Sistemas de informação em saúde no Brasil (2021) | |||
|---|---|---|---|
| Lógica de Funcionamento / Sistemas de informação | |||
| Cadastramento populacional e de estabelecimentos de saúde | Monitoramento de eventos relevantes para saúde pública | Controle de Programas e/ou repasses Federais | Apoio à informatização de políticas, processos e serviços do SUS |
| 2 Sistemas de Informação Categorizados: | 14 Sistemas de Informação Categorizados: | 26 Sistemas de Informação Categorizados: | 12 Sistemas de Informação Categorizados: |
| CADSUS, CNES | SINAN NET, SIVEP Malária, SIVEP DDA, RESP, SINAN Dengue/ Chikungunya, SINAN Influenza, SINASC, SIM, GAL, COAGULOPATIAS web, HEMOGLOBINOPATIAS web, SIS-Água, SIS-Solo, VETORES-MALÁRIA | Programa Bolsa Família, PAINEL-PSE, HIPERDIA, SIRAM, SI-PNI, SIS Pré-Natal, SISVAN, SIA, SIH, CMD, Fique Sabendo, SICLOM, SISCEL, SISCAN, PMAQ-AB, AMAQ, RAAS-AD, SIAB, SIASI, SISGENO, ProgramaSUS, SIACS, SIES, SISNEO, SIS-PNDC, Sistema de Micronutrientes | SISREG, HÓRUS Básico, HÓRUS Especializado, HÓRUS Estratégico, TELESSAÚDE/SMART, APURASUS, BHL-WEB, BPS, SARGSUS, SNT, E-SUS, AB/SISAB, SIS-CNRAC |
O Datasus é fundamental para o desenvolvimento dos Sistemas de Informação do SUS. Ele é responsável por especificar, desenvolver e disponibilizar esses sistemas, além de dar suporte às secretarias estaduais e municipais com aplicativos como o Hospub, Hórus e SisReg (MORAES; FORNAZIN, 2022; COELHO-NETO; CHIORO, 2021). No entanto, existem desafios na integração desses sistemas, o que pode prejudicar a qualidade das análises sobre a saúde da população e, consequentemente, a tomada de decisões com base em evidências (MORAES; GOMEZ, 2007).
A fragmentação existente nas informações em saúde constitui uma das dimensões da racionalidade organizativa fragmentada e fragmentadora do Estado brasileiro e, por conseguinte, da gestão das instituições de saúde: atomizada, pontual, estanque e pulverizada, dispersa e redundante entre seus diversos setores.
As pesquisas do IBGE, que coordena o sistema estatístico oficial do Brasil desde 1936, são essenciais para monitorar as mudanças econômicas, sociais e demográficas do país. Elas desempenham um papel crucial na compreensão da realidade brasileira. Esses dados são fundamentais para a formulação e avaliação de políticas públicas, especialmente na área da saúde, permitindo calcular indicadores em níveis nacional e local. Além disso, os dados de geociências do IBGE ajudam a analisar como os problemas de saúde estão distribuídos pelo território brasileiro, o que é vital para pesquisas epidemiológicas.
Por isso, ao adotar uma visão mais ampla de saúde, é importante considerar não apenas dados clínicos e epidemiológicos, mas também informações demográficas, populacionais, e sobre a infraestrutura, sociedade e economia do Brasil.
As pesquisas e publicações do IBGE fornecem dados essenciais para a formulação, monitoramento e avaliação de políticas públicas, incluindo as políticas de saúde.
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As pesquisas e publicações do IBGE desempenham um papel crucial na formulação, monitoramento e avaliação de políticas públicas, especialmente nas políticas de saúde. As informações demográficas fornecidas pelo IBGE permitem o cálculo de indicadores de saúde em níveis nacional e local, essenciais para o planejamento estratégico em saúde.
No contexto do conceito ampliado de saúde, é imprescindível integrar dados clínicos, epidemiológicos e administrativos (COELI et al., 2006), bem como dados demográficos e populacionais (JANNUZZI, 2019). Esses dados abrangem a infraestrutura, a sociedade e a economia brasileira, proporcionando uma visão mais holística das condições de saúde no país.
A avaliação e o monitoramento dos sistemas de saúde são possíveis graças aos indicadores de saúde, que são ferramentas essenciais para orientar o planejamento de políticas, programas e ações voltadas para a melhoria das condições sanitárias de uma população. Esses indicadores permitem medir o nível de saúde das comunidades, quantificando e descrevendo a ocorrência de doenças e outros problemas de saúde, além de registrar padrões de nascimentos e óbitos (RIBEIRO; BARATA, 2012; ROUQUAYROL, 2012; ANDRADE et al., 2023).
Os indicadores de saúde, expressos por medidas como proporções, taxas, razões ou índices, conseguem sintetizar o impacto dos determinantes sobre o estado de saúde de uma população. Esses determinantes podem estar relacionados a dimensões sociais, ambientais, econômicas, espaciais e biológicas (VERMELHO; COSTA; KALE, 2006).
A fim de revelar lugares e pessoas vulnerabilizadas e grupos com necessidades prioritárias, bem como identificar as desigualdades em saúde, é empregada a estratificação de um indicador segundo características dos indivíduos, do espaço e do tempo. Portanto, variáveis como sexo, gênero, raça e cor, faixa etária e abrangência territorial são essenciais para uma análise robusta de uma determinada situação de saúde (VERMELHO; COSTA; KALE, 2006; RIPSA, 2008).
É importante destacar que ocorreram diferentes ações no percurso histórico da informação em saúde no Brasil, direcionadas para a ampliação da qualidade na produção e no uso das informações em saúde, como o caso da RIPSA.
Oriunda da parceria entre o Ministério da Saúde e a Organização Pan-Americana da Saúde, no ano de 1997, foi criada a Rede Integrada de Informações para a Saúde, que representou um importante avanço na produção e uso de informações no âmbito das políticas de saúde no Brasil (FARIA, 2023).
A Rede Interagencial de Informações para a Saúde (RIPSA) é uma colaboração integrada e sem hierarquia entre várias instituições que produzem dados. Ela se dedica à geração, análise e disseminação de informações para apoiar as políticas públicas de saúde no Brasil. O principal objetivo da RIPSA é sistematizar dados que ajudem a entender a realidade sanitária brasileira e suas tendências, buscando um consenso em conceitos, métodos e critérios para apoiar a formulação e avaliação de políticas e ações importantes para gestores públicos, órgãos de controle social, entidades científicas e organizações internacionais.
Atualmente, existem vários métodos para avaliar os sistemas de saúde que fazem uso de indicadores. Um dos mais destacados é o PROADESS (Projeto de Avaliação do Desempenho do Sistema de Saúde), desenvolvido pelo Laboratório de Informação em Saúde do ICICT/Fiocruz. Esse método é baseado em uma matriz conceitual que tem a equidade como eixo central, e considera diferentes dimensões, como determinantes da saúde, condições de saúde da população, sistema de saúde (incluindo condução e estrutura) e o desempenho dos serviços de saúde. O Quadro 3 apresenta exemplos de indicadores de saúde agrupados de acordo com essas dimensões propostas pelo PROADESS, além dos indicadores relacionados a cada uma delas.
- Confira este link para saber mais sobre o PROADESS
| Quadro 2: Exemplos de indicadores de saúde segundo as dimensões do PROADESS (2024) | |
|---|---|
| Dimensão | Indicadores relacionados |
| Determinantes da Saúde | |
| Condições de Saúde da População |
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| Sistema de Saúde |
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| Desempenho dos Serviços de Saúde |
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As políticas públicas de saúde no Brasil estão cada vez mais complexas, o que torna ainda mais importante produzir informações de forma eficiente e integrada. Apesar de avanços como a criação da RIPSA e o desenvolvimento do PROADESS, ainda enfrentamos problemas com a fragmentação e a falta de integração dos Sistemas de Informação em Saúde (SIS).
Esses problemas dificultam uma visão clara da saúde da população, o que é essencial para tomar boas decisões e criar políticas eficazes. Com vários SIS funcionando de maneiras diferentes, precisamos de uma abordagem coordenada para melhorar a qualidade e o uso desses dados.
É aí que entra a Política Nacional de Informação e Informática em Saúde (PNIIS), que busca integrar e melhorar continuamente esses sistemas. Na próxima parte, vamos falar mais sobre as políticas voltadas para a produção de informações em saúde.