Unidade 3

Da Ditadura Civil Militar à regulamentação do SUS

Aula 3

A ditadura chega ao fim

Como vimos na primeira aula desta unidade, o governo do general João Figueiredo (1979-1985) comprometeu-se com a continuidade da política de abertura democrática inaugurada por seu antecessor, Ernesto Geisel (1974-1979), na presidência da República.

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Sua administração, no entanto, foi também profundamente marcada pela grave crise econômica que se abateu sobre o país na primeira metade dos anos 1980.

A recessão econômica teve consequências políticas para o governo, fragilizando a aliança do regime com o em­presariado e com os segmentos mais conservadores da sociedade brasileira.

CRISE SOCIAL

No campo social, a crise tomou proporções dramáticas, refletindo-se no aumento:
  • do desemprego;
  • das perdas salariais; e
  • da desigualdade social.

CRISE MORAL

Além disso, também se verificou uma crise de natureza moral, caracterizada por de­núncias de corrupção envolvendo figuras das altas esferas governistas. Nesse contexto, a legitimidade do regime foi por água abaixo.

Em 1979, uma reforma partidária pôs fim ao bipartidarismo, abrindo espaço para a criação de novas legendas. Três anos depois, em novembro de 1982, ocorreram eleições gerais para o Congresso Nacional (deputados federais e senadores), governos estaduais, Assembleias Legislativas, Câmaras de Vereadores e prefeituras (à exceção das capitais, áreas de segurança nacional, estâncias hidrominerais e municípios de territórios federais).

A quatro dias do pleito, o go­verno proibiu as coligações partidárias e estabeleceu a vinculação do voto, medida que obrigava o eleitor a votar em candidatos do mesmo partido, sob pena de ter o voto anulado. Era uma tentativa de reduzir o voto na oposição. A medida, no entanto, não alcançou o efeito esperado pelos governistas.

Abertas as urnas, as oposições somadas obtiveram 25 milhões de votos, elegendo dez governadores – nove pelo Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) e um pelo Partido Democrático Trabalhista (PDT). O Partido Democrático Social (PDS), substituto da governista Arena, obteve 18 milhões de votos e elegeu 12 governadores.

Com a derrota nas eleições e a intensificação da crise política, o arco de alianças que dava sustentação ao regime se desintegrou. Paralelo a isso, um conjunto cada vez maior de entidades e movimentos da sociedade civil organizada passou a exigir o restabelecimento da democracia.

Em 1984, as ruas das principais cidades brasileiras foram palco das maiores manifestações populares da história recente do país. Um grito coletivo em defesa de eleições livres e diretas para presidente da República.

Conhecida como “Diretas Já!”, essa intensa mobilização popular foi, no entanto, rejeitada no Congresso Nacional – ainda sob controle dos governistas – com a derrota, em 25 de abril daquele ano, da Emen­da Dante de Oliveira.

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Manifestantes reunidos na Praça da Sé, em São Paulo, reivindicam eleições diretas para presidente da República. São Paulo, 25 jan. 1984.
Fonte: Acervo CPDOC/FGV.

Mesmo não tendo alcançado seu objetivo, a campanha das diretas provocou a cisão do bloco governista. No início de 1985, surgia o Partido da Frente Liberal (PFL), que uniu-se ao PMDB para formar a Aliança Democrática.

Esta foi responsável pelo lançamento da candidatura do ex-governador de Minas Gerais Tancredo Neves ao Colégio Eleitoral de 15 de janeiro de 1985, que iria eleger, por via indireta, o novo presidente.

Líderes da Aliança Democrática reunidos. Da esquerda para a direita, Aureliano Chaves, Ulysses Guimarães, José Sarney, Tancredo Neves e Iris Rezende.
Fonte: Acervo CPDOC/FGV.

Tancredo obteve no Colégio Eleitoral uma ampla margem de votos sobre o candidato governista, Paulo Maluf (PDS). A eleição do ex-governador mineiro pôs fim a mais de 20 anos de governos militares, garantindo o retorno do país à democracia.

O presidente eleito, no entanto, não chegaria a assumir o cargo. Gravemente enfermo, foi internado às pressas no dia 14 de março de 1985, véspera de sua posse. Em seu lugar, assumiu o vice José Sarney, que, com a morte do titular em 21 de abril, seria efetivado na presidência.