Módulo 4 | Aula 2 Revisão por pares e autoria
A revisão por pares é um processo fundamental na ciência, quando especialistas da área avaliam a qualidade, o rigor e a relevância de um trabalho acadêmico antes de sua publicação. Esse sistema ajuda a garantir que a pesquisa apresentada seja confiável e válida. A revisão por pares contribui para a identificação de erros, melhorias no método e esclarecimento de conceitos, aumentando a credibilidade dos resultados e permitindo que a comunidade científica construa conhecimento sobre fundamentos sólidos. Além da revisão “tradicional”, existe a revisão pós-publicação, em que manuscritos são depositados, por exemplo em plataformas preprint, e então são revisados por outros pesquisadores, uma ação que tem ganhado grande espaço recentemente no meio científico.
Essa modalidade de revisão tem como características:
A revisão por pares pré-publicação é realizada atualmente em três modalidades, todas com prós e contras:
Os revisores conhecem os autores do artigo, mas o autor não sabe quem são eles, ainda que, por demanda dos editores, sejam sugeridos possíveis nomes. Nessa modalidade, os editores precisam ter confiança de que qualquer conflito de interesse existente, por qualquer razão, entre revisores e autores sejam declarados e que se impeça que seja determinante no resultado da avaliação.
Observação: O termo original é Modalidade cega, mas para atender a uma ciência anti-capacitista, o termo foi alterado.
Nem os revisores nem os autores têm conhecimento da identificação uns dos outros, embora também exista a possibilidade de existirem conflitos de interesse na medida em que um revisor tenha interesse em postergar a aprovação de um artigo se o vir como uma ameaça em potencial ao seu prestígio acadêmico (concorrência) ou convicções teóricas.
Observação: O termo original "duplo-cego" tem sido revisado em debates globais para atender a uma ciência mais inclusiva e anti-capacitista, sendo substituído por termos como "duplo-oculto"
A revisão se dá com plena transparência, ou seja, todos sabem a identificação dos demais atores e, todas as versões anteriores e os pareceres são divulgados. Essa prática pode, ainda, dar reconhecimento aos autores pelo seu trabalho de revisão.
A transparência fortalece a integridade do processo, prevenindo que conflitos de interesse comprometam a revisão e prejudiquem os autores da pesquisa.
A confiança pública no processo de revisão de pares e a credibilidade dos artigos publicados dependem, em parte, de como o conflito de interesse é administrado durante a redação, a revisão de especialistas e a tomada de decisão editorial. O conflito de interesses ocorre, por exemplo, quando um autor (ou a instituição à qual pertence), revisor ou editor tem relações financeiras, profissionais ou pessoais que influenciam de forma inadequada (introduzindo um viés) suas ações. A declaração sobre a existência de um conflito de interesses é insuficiente para evitar seus efeitos deletérios. No processo de publicação científica, em princípio, a presença de conflitos de interesse deve impedir que aquele que o reconhece siga participando do processo. Na academia, todos que são requeridos a participar do fundamental processo de avaliação e revisão devem ser idôneos.
Autoria
Faremos nesse momento algumas reflexões sobre autoria.
Quem é, ou pode ser, autor de um artigo ou comunicação científica?
Quem deve ocupar o primeiro lugar na lista de autores: o último e o autor para correspondência?
O Guia de Integridade em Pesquisa da Fiocruz traz algumas recomendações importantes, entre elas a de combinar previamente com os colaboradores em alguma pesquisa essas questões, que endossam a proposta do Comitê Internacional de Editores de Periódicos na Área Médica e Biomédica (International Committee of Medical Journal Editors, ICMJE).
A autoria deve se basear nos quatro critérios a seguir:
Contribuições substanciais para a concepção e delineamento, ou coleta de dados ou análise e interpretação dos dados; e
Redação ou revisão crítica do artigo em relação a conteúdo intelectualmente importante; e
Aprovação final da versão a ser publicada; e
Concordância de ser responsável por todos os aspectos do trabalho no sentido de garantir que as questões relacionadas com a exatidão ou integridade de qualquer parte do trabalho são adequadamente investigadas e resolvidas.
As quatro condições devem ser satisfeitas. Embora não sejam consenso mundial em todos os campos da ciência, são defendidas pela área da saúde em geral.
Isso significa que todos que tenham participado da pesquisa também devem contribuir e se responsabilizar pela comunicação do conhecimento. Os profissionais, colaboradores ou estudantes que não cumprem os critérios acima, devem ser mencionados somente em Agradecimentos. Autoria fantasma ou autoria de presente, em Ciência, é eticamente inaceitável. Ou seja, a autoria não se justifica unicamente por contribuir com financiamento, ocupar cargo de chefia, prestar serviço ou ser líder ou membro de grupo de pesquisa. Se o profissional não atender aos quatro requisitos elencados, não deve ser incluído como autor do trabalho.
As diferentes áreas de conhecimento reconhecem a ordem de autoria de forma distinta. O último autor tem responsabilidade sobre supervisão do trabalho como um todo. O autor correspondente tem a responsabilidade de fazer os trâmites editoriais, incluindo a submissão do artigo, as respostas aos revisores, interação com o corpo editorial e com os demais autores.
Existe uma iniciativa chamada CRediT que pode ser utilizada para descrever os papéis e contribuições de colaboradores de um artigo científico. CRediT é acrônimo de “Contributor Roles Taxonomy” (taxonomia de contribuição de colaboradores), e tem como objetivo reconhecer e facilitar a descrição das contribuições individuais dos participantes de um trabalho científico desde sua elaboração à sua publicação. CRediT propõe o uso de 14 atribuições, que podem ser encontradas no sítio da iniciativa. O CRediT tem sido adotado por diferentes periódicos, editoras e repositórios, que orientam o uso desse sistema.