Módulo 1 | Aula 1 Enfrentamento ao estigma e discriminação

Tópico 2

Estigma como processo social

O estigma é um processo social que permeia a cultura e as instituições, ele está presente no âmbito das relações sociais (familiares, comunitárias e institucionais), e sua eficácia na produção de desigualdades reforça a necessidade de compreender e enfrentar essa questão.

De acordo com Parker e Aggleton (2021), o estigma é um processo social complexo, que envolve fatores individuais e estruturais. A escolha de uma determinada marca como intensificador de atributos negativos e o significado destas atribuições não são eventuais ou aleatórios. Pelo contrário, são produzidos a partir de dinâmicas socioculturais específicas de cada contexto, sendo mediado por relações de poder, controle e dominação, continuamente reproduzidas e atualizadas nas interações institucionais e interpessoais.

Consegue compreender como essa perspectiva destaca o papel do estigma na produção e reprodução das hierarquias sociais e das relações de poder e controle? De acordo com esse ponto de vista, a definição de uma característica como negativa está relacionada a sistemas de desigualdade social que são anteriores ao processo de desqualificação.

O destaque nas interações entre os sistemas de desigualdade e a produção de estigma converge com as análises decorrentes do conceito vulnerabilidade (que será abordado na próxima aula) ao descrever como a influência mútua de fatores individuais, epidemiológicos, sociais, culturais, econômicos e políticos facilita a maior ou menor exposição de um indivíduo ou grupo aos agravos em saúde.

Percebe como a interseção entre os processos de exclusão social produz estigma e reforçam a vulnerabilidade de certos indivíduos e grupos? Em outras palavras, os processos de estigmatização aumentam a vulnerabilidade social, em geral, e a vulnerabilidade aos problemas de saúde, em particular. Por isso, a formulação de estratégias para enfrentar o estigma precisa considerar o tipo particular de interação entre contextos culturais, políticos e socioeconômico que dá origem ao estigma e fomenta a sua perpetuação (Stangl et al. 2019).

Esquema gráfico representando que a soma de desigualdade e exclusão social resulta em estigma.

Por meio da desqualificação de alguns segmentos sociais, são reforçadas hierarquias que desvalorizam um determinado grupo de pessoas, enquanto valorizam e concedem privilégios a outros (Seroalo et al., 2014). Enquanto processo de exclusão social, o estigma é articulado sinergicamente com as desigualdades sociais de gênero, raça, classe, orientação sexual, sexualidade, entre outras (Jackson-Best & Edwards, 2018).

Em termos práticos, o estigma só será superado se os significados atribuídos à marca que o produz forem reconfigurados, perdendo o seu valor negativo. Essas mudanças exigem um engajamento coletivo e político de vários atores sociais, incluindo as pessoas estigmatizadas e você profissional de saúde.