Série 4 | Curso 1

Educação Aberta

Aula 4

Educação Aberta e Educação a Distância:
modelos, desafios e perspectivas

Considerando mudanças atuais e seus efeitos sobre toda a sociedade, nesta aula vamos refletir sobre novos modelos, desafios e perspectivas para a Educação Aberta e para a Educação a Distância (EAD). Você poderá observar algumas tendências neste campo e analisar criticamente quais são os caminhos possíveis.

Esperamos que ao final desta aula você possa:

  • Compreender os desafios para a Educação Aberta.

Um novo cenário

Há muitos anos temos adotado a Educação a Distância como uma modalidade de ensino, mas nunca poderíamos imaginar que, em função da emergência sanitária causada pela Covid-19, estaríamos obrigatoriamente realizando atividades acadêmicas de forma exclusivamente online/remota.

Com o fechamento das escolas e universidades, tornou-se urgente a adoção de tecnologias digitais para as atividades de ensino. Apesar de todos os esforços que os professores e alunos estão empreendendo, este modelo não se parece com o que entendemos por educação online. Entretanto, isso não significa que a mudança do ensino presencial para o ensino remoto promovido pela emergência da Covid-19 seja ruim para a aprendizagem dos alunos. Os maiores benefícios do ensino remoto poderão ser percebidos depois que professores e estudantes retornarem às suas salas de aula físicas. (BATES, 2020)

Fonte: Monica Lopes (do canal IlustrAqui)

Fonte: Informática na Educação Série de livros-texto da CEIE-SBC

A necessidade de ensinar-aprender fazendo uso de plataformas assíncronas (ambientes virtuais de aprendizagem como o Moodle) e síncronas (softwares para comunicação online como o Zoom, Teams, entre outros), assim como das redes sociais, podem trazer benefícios significativos que serão percebidos quando esses métodos forem associados à educação presencial.

A Covid-19, pegou de surpresa muitos professores que, em caráter de urgência, estão precisando construir saberes pedagógicos específicos para a docência em modalidades não presenciais de educação.

Terei de dar aula online, e agora, o que faço?

(PIMENTEL; ARAUJO, 2020)

Para refletir

Perante este novo cenário surgiram muitas dúvidas e uma delas é: Como será o futuro pós-pandemia?

A resposta para a situação atual é que ninguém sabe o que vai acontecer (Weller, 2020).

Alguns pesquisadores acreditam que o momento está ajudando a entender melhor os princípios de design necessários a um modelo de ensino híbrido de qualidade e que, de fato, se tornará ainda mais importante no futuro. Híbrido significa misturado, mesclado, blended. Nesta visão, a educação sempre foi misturada, híbrida, sempre combinou vários espaços, tempos, atividades, metodologias, públicos (Bacich & Moran, 2015).

Fonte: Giphy

Agora, com a mobilidade e a conectividade, esse processo é muito mais perceptível, amplo e profundo:

O ensino também é híbrido, porque não se reduz ao que planejamos institucionalmente, intencionalmente. Aprendemos através de processos organizados, junto com processos abertos, informais. Aprendemos quando estamos com um professor e aprendemos sozinhos, com colegas, com desconhecidos. Aprendemos intencionalmente e aprendemos espontaneamente. Falar em educação híbrida significa partir do pressuposto de que não há uma única forma de aprender e, por consequência, não há uma única forma de ensinar. Existem diferentes maneiras de aprender e ensinar. O trabalho colaborativo pode estar aliado ao uso das tecnologias digitais e propiciar momentos de aprendizagem e troca que ultrapassam as barreiras da sala de aula. Aprender com os pares torna-se ainda mais significativo quando há um objetivo comum a ser alcançado pelo grupo.

(Bacich e Moran, 2015)

Fonte: Geekie

Saiba mais

Recomendação de leitura: Ensino Híbrido: Personalização e Tecnologia na Educação. Autores: Lilian Bacich, Adolfo Tanzi Neto e Fernando De Mello Trevisani. Editora: Penso

Fonte: Editora Penso

Papéis do professor

Quais são os novos papéis do professor?

A pandemia evidenciou que muitos professores ainda estão buscando se adaptar às tecnologias. Mesmo recebendo treinamentos promovidos por suas instituições ou já dominando tecnologias, ainda assim, enfrentam a etapa de adaptação do planejamento anterior para EAD.

Adquirir as competências para o uso das tecnologias digitais na educação se torna fundamental nesse novo contexto. Buscar por formação em novas metodologias, conhecer as tecnologias disponíveis e como podem ser utilizadas para propósitos educacionais tem sido um desafio.

George Siemens, teorizador dos processos de aprendizagem na era digital, vem nos alertando para a realidade das novas tecnologias na educação. Em seu post Teaching in Social and Technological Networks (16/10/2010), o autor já indicava que o professor deve assumir um outro papel e que a tendência é que não haja mais a separação entre educação presencial ou a distância.

Siemens (2010) fala sobre os novos papéis do professor em ambiente de aprendizagem em rede, que relacionamos abaixo:

Novos papéis do professor em ambiente de aprendizagem em rede

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Influenciador - Amplifying

O professor pode utilizar recursos de mídias sociais, como o Twitter — uma das mais populares no mundo — para amplificar a sua influência entre os alunos e seus seguidores, e se tornar também um nó importante na rede de relacionamentos desses alunos.


Criador de sentidos - Wayfinding and socially-driven sensemaking 

Auxilia o aluno a dar sentido às informações fragmentadas na rede e a tudo que está disponível. Segundo Siemens, dar um sentido às informações fragmentadas é um processo social, uma parte da responsabilidade do novo papel do professor.

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Orientador de percurso - Aggregating

Para o autor, o sentido de “agregação” seria a composição do curso, tendo em vista as interações dos participantes. Ou seja, revelar a estrutura e o conteúdo a partir das necessidades dos alunos identificadas no desenrolar do curso, em vez de defini-la com antecedência. Entendemos que este papel pode ser realizado com o apoio de software de análise de dados.


“Filtrador” de informação - Filtering 

O professor assume um papel importante ao filtrar algumas informações e fornecer um fluxo ao aluno, ajudando-o a se concentrar na compreensão de um tema em meio a tantas informações disponíveis na rede.

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Modelador/demonstrador - Modelling

Siemens cita uma declaração de Stephen Downes durante um curso em 2007 sobre o que seria este processo: “to teach is to model and to demonstrate. To learn is to practice and to reflect”. Isto é: “ensinar é modelar e demonstrar. Aprender é praticar e refletir”.


Presença permanente - Persistent presence 

É ter uma identidade virtual, um espaço onde possa ser encontrado pelo seu aluno (pode ser um blog, uma conta numa rede social ou qualquer outra mídia que lhe ofereça “um ponto de existência online”). Não é possível falar em um novo papel do professor em um contexto de aprendizagem em rede, sem fazer parte dela. Para Siemens, a presença ativa na rede é necessária para que o professor assuma os demais papéis de amplificador, curador, agregador, filtragem de conteúdo e reflexão sobre o modelo de pensamento crítico de uma disciplina.

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Curador - Curating

Como num museu, em que o curador escolhe as melhores obras, num ambiente em rede, o professor é a referência. Para Siemens, num contexto de aprendizagem, o curador organiza elementos-chave de um assunto, de tal maneira que os alunos vão "entrar de cabeça" no tema sem precisar do curso. Isso quer dizer que o curador trabalha de uma outra maneira com os alunos, a partir das suas reflexões pessoais, comentários sobre posts, como uma forma de provocar os alunos.

Fonte: Adaptação nossa da síntese elaborada por Rita Albuquerque

Quais são as etapas da Curadoria de Conteúdos?

A função de curador é mais do que simplesmente coletar informações, é necessário se dedicar e buscar desenvolvimento de forma permanente.

Beth Kanter define curadoria de conteúdo como “... processo de triagem sobre vastas quantidades de conteúdo na web para apresentá-lo de uma forma significativa e organizada em torno de um tema específico. O trabalho envolve triagem, classificação, organização e publicação de informações.”

O professor desempenha a função de selecionar os melhores recursos on line, prezando por sua qualidade. Além disso, atua junto aos alunos para que eles também se tornem bons aprendizes-curadores. A figura a seguir apresenta as principais etapas de curadoria de conteúdo.

  • O ponto de partida é a definição do tema ou assunto que será colecionado. Nesta etapa é importante contar com a presença de um especialista no tema, para garantia da qualidade da informação recolhida.

  • A web oferece inúmeras possibilidades de busca e, para facilitar a pesquisa, é importante estabelecer critérios, compreendendo o valor da informação para o processo de ensino e aprendizagem, a fim de atender às necessidades das pessoas para quem as informações serão dirigidas.

  • Nesta etapa, um processo intelectual é necessário: o curador deverá juntar o que encontrou na Internet, com os conteúdos que organizou e seus comentários. Tudo isso respeitando os compromissos de direitos autorais. Também nesta etapa, o curador deve analisar a relevância, a usabilidade, assim como atualizar o conteúdo ou informação, para salvá-lo de modo organizado.

  • Com o conteúdo selecionado, reestruturado, validado e salvo, a próxima etapa é compartilhar e distribuir. Os meios atuais são diversos: redes sociais, ambientes virtuais de aprendizagem, blogs etc.

  • Em um processo contínuo, à medida que mais conteúdo é gerado e validado, você contará com um acervo para fazer uso. Deverá procurar manter processos de atualização, que poderão ser realizados a partir de ferramentas semânticas, que fazem uso de “tags”, por exemplo; a partir de rede de conexões etc.

O conteúdo desse trecho foi extraído do curso Tecnologias e metodologias para a docência na saúde, ministrado pelos professores Dênia Falcão e José Moran, publicado no 2º sem/2018 e promovido pela PEIN - Práticas Educacionais Inovadoras sob a licença CC BY

Nesse cenário, professores e alunos se encontram, subitamente, numa realidade que os obriga a realizar o processo de ensino-aprendizagem a distância. Muitos docentes estão em casa adaptando a rotina familiar a essa rotina de aulas digitais. Certamente, esse duplo papel gera uma série de desafios que precisam ser superados.

Vale lembrar que nem todos os profissionais da educação terão os recursos necessários para realizar aulas por plataformas digitais, assim como nem todos os alunos terão condições de acesso. Destacamos que é importante que uma reflexão acerca de todas estas questões.

Imagem recebida via rede social. Autor desconhecido.

Em palestra realizada no Seminário “Educação, Saúde e Sociedade do Futuro”, o professor José Moran sinalizou algumas mudanças necessárias nas instituições educacionais e falou sobre o novo papel do professor. Vamos assistir?

Vídeo 2 - Prof. José Moran (USP): trecho da palestra realizada no Seminário “Educação, Saúde e Sociedade do Futuro", na Fiocruz

Fonte: Fiocruz

Alguns recursos para o professor estão disponíveis:

Saiba mais

Principais tendências para a adoção de tecnologias educacionais no ensino superior

Pesquisas e relatórios internacionais já apontavam um horizonte para formas arrojadas de educação impulsionadas pela cultura digital. Realizado anualmente pelo New Media Consortium, o Horizon Report(HR) aponta em 20132014 e 2015 que abordagens baseadas em ambientes online colaborativos e em dispositivos móveis iriam afetar bastante a educação nos próximos anos. Recentemente, já em 2019, este relatório apontou seis tendências principais, seis desafios significativos e seis importantes desenvolvimentos em tecnologia educacional, classificados por um painel de especialistas de líderes no cenário do ensino superior.

Apesar das limitações e questionamentos quanto às intenções desse tipo de relatório, é importante considerar sua influência. Esta seção do relatório descreve as tendências que devem ter um impacto significativo nas maneiras pelas quais faculdades e universidades utilizam ensino, aprendizagem e investigação criativa. 

Destacamos aqui algumas tendências apontadas pelo Horizon Report, que reforçam o que temos discutido até aqui:

Fonte: Adaptado de Educase

O Innovation Unit, organização sediada em Londres e voltada a estudos sobre inovação, lançou em 2011 o relatório 10 Ideias para a Educação no Século 21 no qual reúne tanto novas habilidades desejadas quanto novas estratégias metodológicas, como: aprender de forma aberta, personalizar, usar conhecimentos digitais dos alunos, propiciar mais colaboração entre alunos e professores e trabalhar por projetos.

Essas publicações evidenciam o que podemos chamar de cibercultura, isto é, o resultado das relações entre os avanços das tecnologias de comunicação e informação e a cultura.

Cibercultura

Fonte: Imagem retirada do artigo Educação Online: aprender e ensinar em rede

Vivemos numa era de transformação profunda do desenvolvimento das linguagens digitais em rede, numa sociedade hiperconectada em que ocorrem diversas transformações no comportamento humano (a sua forma de aprender, se relacionar, sentir, estar no mundo). Antes de mais nada, precisamos compreender a cultura digital: uma cultura contemporânea, associada às tecnologias digitais, que criam uma nova relação entre a técnica e a vida social. Se estabelece uma relação híbrida entre o espaço físico (como a cidade), o ciberespaço e as diversas redes de conhecimento e educativas, denominada cibercultura (SANTOS, 2019).

O professor André Lemos, Universidade Federal da Bahia (UFBA), traz um panorama sobre o termo "cibercultura" e a sua repercussão na educação. Há um equilíbrio, uma relação híbrida, pois o sujeito se constitui produzindo e também usando.

Se as tecnologias estão hoje na base da sociedade como um fenômeno cultural denominado cibercultura — repleto de novas linguagens e códigos —, é natural observarmos transformações tanto nas relações humanas como na forma de pensar e praticar educação. Vale lembrar que os conhecimentos que criamos e compartilhamos na web podem se tornar fontes de informações para outras pessoas produzirem conhecimentos derivados. Trata-se de um cenário mais propício ao autodidatismo para que cada pessoa defina um caminho de aprendizado, se assim quiser ou puder, escolhendo tempo e fontes de estudo. Esse mesmo cenário também favorece nos aproximarmos de outras pessoas para aprender colaborativamente.

Na mesma linha, o filósofo francês Pierre Levy, um dos mais consagrados teóricos contemporâneos da cibercultura, já em 2012 falava sobre como o conhecimento ao mesmo tempo se renova e se torna obsoleto em um ciclo de 3 a 10 anos no contexto da cibercultura. Levy chama a atenção para o fazer com pessoas como o grande diferencial nos dias de hoje. A professora Edméa Santos conversa sobre cibercultura nesta entrevista à TV Escola: assista ao vídeo e saiba mais!

Vídeo 3 - Cibercultura EAD. Entrevista com a Prof. Edméa Santos - Uerj - TV Escola

Fonte: Química para a vida (2014)

Educação Aberta

Agora, vamos conhecer um pouco sobre as terminologias que cercam os processos de ensino-aprendizagem online em tempos de cibercultura e a relação entre eles:

Educação Aberta

Se, na década de 60, o pensamento de Ivan Illich por uma "Sociedade sem Escolas" remetia à constituição de uma rede ou um sistema de serviços que desse a cada pessoa a mesma oportunidade de partilhar seus interesses com outros; hoje, na cibercultura, a tecnologia digital — teoricamente — concretizaria isso. Em potencial, qualquer pessoa do mundo poderia aprender, com conteúdo gratuito, se houvesse permissão por parte de quem regula esse acesso. No entanto, não podemos esquecer que ainda temos grandes problemas de inequidade para que se alcance a inclusão digital (acesso, hardware, banda, idioma, entre outros fatores) para que cheguemos perto do cenário proposto por Illich.

Fonte: Freepik

A Educação Aberta é replicável, “remixável” e sem barreiras de acesso e de interação, como já vimos nas aulas 1 e 2 deste curso. Vamos, agora, relembrar algumas características da Educação Aberta:

Cursos abertos e gratuitos 

Cursos abertos e gratuitos

A maior oferta dos Massive Open Online Courses (MOOCs) ou Cursos Massivos Online resulta numa popularização dos cursos online, abertos e/ou gratuitos, que passam a ser mais utilizados como um complemento ou alternativa ao estudo tradicional, especialmente para quem está fora da escola.

Habilidades do 'mundo real'

Habilidades do 'mundo real'

O mercado de trabalho vem demandando dos recém-formados habilidades que têm sido mais frequentemente adquiridas em situações de aprendizado não-formal, como resolução de problemas. 

Personalização e novos moldes de avaliação

Personalização e novos moldes de avaliação

Ferramentas de análise de atividades online podem ser utilizadas como instrumentos de avaliação e também para criar trilhas de aprendizado, conforme o perfil, dados pessoais e comportamento do aluno.

Saiba mais

Para aprofundamento, indicamos duas leituras:

Educação Aberta online – Pesquisar, Remixar e Compartilhar
Este livro é organizado pelos professores Fredric M. Litto e João Mattar e se baseia em cursos online oferecidos pelo OpenLearn da Open University britânica. Os cursos foram selecionados pelo professor Litto, presidente da Associação Brasileira de Educação a Distância (Abed).
Guia de bolso da Educação Aberta
O Guia de Bolso da Educação Aberta foi criado para proporcionar uma rápida introdução sobre o universo da Educação Aberta (EA) e dos Recursos Educacionais Abertos (REA). É uma leitura leve, introdutória e atualizada. O guia aborda a relação de EA/REA com outras tantas áreas associadas, como o software livre, a ciência aberta e os dados abertos. Discute temas práticos como a seleção de licenças e os formatos abertos. Apresenta o protagonismo brasileiro em políticas públicas na área de educação aberta. Ao final, gestores, professores, alunos e empreendedores são convidados a conhecer mais sobre o tema através de diversos links e fontes de informação.

O Guia tem uma licença livre e foi desenvolvido por uma das Embaixadores REA (Debora Furtado, CEAD/UnB) e por Tel Amiel (Cátedra Unesco em EAD/UnB) com o apoio do CEAD/UnB.

O Guia está disponível em: https://educapes.capes.gov.br/handle/capes/564609

Educação a Distância

Educação a Distância é o processo de ensino-aprendizagem, mediado por tecnologias, onde professores e alunos estão separados espacial e/ou temporalmente.

MORAN, 2002, p.1

A Educação a Distância (EAD) como modalidade educacional, na qual o sujeito da comunicação e o da aprendizagem não estão sempre juntos no mesmo tempo e espaço, não é um fenômeno novo. Desde o final do século XVII já tínhamos experiências de ensino por correspondência; já no século XX, o rádio e a televisão eram os veículos de comunicação mais usados.

Com o advento das tecnologias digitais e da cibercultura, surgem novas possibilidades de educação, que oferecem autonomia, flexibilidade e ainda ampliam o tradicional formato de um emissor (com base em livros, apostilas, áudio ou imagem) para muitos receptores. Assim, estimula-se a interlocução entre todos os que estão envolvidos nesse processo.

Fonte: Ilustração de Mônica Lopes, retirada do artigo Aprendizagem online é em rede, colaborativa: para o aluno não ficar estudando sozinho a distância, publicado pelo Prof. Mariano Pimentel

A pesquisadora Edméa Santos, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), ressalta que a produção de saberes se dá a partir de várias mídias e via ação colaborativa em rede, preferindo utilizar o termo Educação Online, não apenas como uma evolução da EAD, mas como um fenômeno da cibercultura (SANTOS, 2010).

Fonte: Pixabay

George Siemens se baseou nas oportunidades criadas pelas tecnologias da Internet e nesta nova cultura para criar uma teoria da aprendizagem, o Conectivismo. Para Siemens (2005) as grandes teorias existentes até então (behaviorismo, cognitivismo e construtivismo) foram desenvolvidas numa época em que o aprendizado não era impactado pela tecnologia. Essas tecnologias incluem e-mail, wikis, fóruns de discussão online, redes sociais, plataforma de vídeos ou qualquer uma que permita aos usuários aprender e compartilhar informações com outras pessoas (SIEMENS, 2005).

Em 2008, para validar a discussão sobre a sua polêmica teoria, Downes e Siemens ofereceram um curso sobre “Connectivism and Connective Knowledge” (Conectivismo e Conhecimento Conectivo) para 25 alunos pagantes da Universidade de Manitoba (Canadá) e para outros 2.300 estudantes, gratuitamente, pela Internet ao longo de 12 semanas. Assim, criaram o curso denominado MOOC (Massive Open Online Course ou Curso Massivo Online, em português). Trata-se de um curso aberto, com base em recursos educacionais abertos, que se utiliza de software e sistemas abertos na web contendo textos, vídeos e atividades online, permitindo a qualquer pessoa se inscrever (DOWNES, 2012).

O modelo de cursos MOOC se popularizou e grandes plataformas para ofertas de cursos foram criadas, como Coursera e EDX. Surgiram, então, diferentes abordagens pedagógicas. Há duas principais: cMOOC e xMOOC.

A primeira abordagem (cMOOC), é inspirada no conectivismo, e destaca a natureza disruptiva e em rede das experiências de aprendizagem. Já a segunda (xMOOC), se concentra na escala massiva e transmissão de conteúdos. (JANSEN & SCHUWER, 2016)

Fonte: Flickr

EAD não é apenas a possibilidade de estudar por meio do computador, de modo remoto e em ambientes virtuais de aprendizagem. A modalidade se destaca por promover cursos mais flexíveis, rápidos e de excelência, desde que ministrados por uma boa instituição.

Como vimos, existem diferentes modelos de EAD e tipos de cursos que oferecem atividade síncronas (chats, webconferências, webinars etc.) e assíncronas (fóruns, e-mails, blogs, videoaulas gravadas previamente). Por isso, é importante conhecer as diferenças: assim, você pode escolher a melhor alternativa para o seu planejamento didático.

A seguir, apresentamos um quadro para explicar os diversos tipos de cursos que podem ser utilizados na modalidade EAD:

Sem tutoria ou autoinstrucional Com tutoria Híbrido
Conteúdos em diversos formatos e mídias Conteúdos em diversos formatos e mídias Conteúdos em diversos formatos e mídias
Sem interatividade Encontros online Encontros presenciais e online
Atividades individuais com feedback imediato pelo Ambiente Virtual de Aprendizagem Atividades individuais e colaborativas com feedback do professor Atividades individuais e colaborativas com feedback do tutor
Não possui limite de participantes Número limitado de participantes Número limitado de participantes
Confere certificado Confere certificado Confere certificado ou créditos para pós-graduação

Educação online

Alguns autores preferem diferenciar o termo Educação a Distância e o termo "Educação Online", como é o caso da pesquisadora da cibercultura Edmea Santos, da UFRRJ, ao enfatizar que a produção de saberes se dá a partir de várias mídias e também via ação colaborativa em rede.

“A dinâmica dos ambientes online é capaz de criar redes sociais de docência e aprendizagem, pois permite experiências significativas de aprendizagem nos diferentes espaços tempos da cibercultura. Para Santos (2005, 2010), a educação online não é apenas uma evolução das gerações da EAD, mas um fenômeno da cibercultura. E como fenômeno a EOL se atualiza, se reinventa a partir das experiências e dos usos dos ambientes de aprendizagem.”

[…] A educação online é o conjunto de ações de ensino-aprendizagem ou atos de currículo mediados por interfaces digitais que potencializam práticas comunicacionais interativas e hipertextuais.

(SANTOS, 2009, p. 5659,5663)

Os professores Mariano Pimentel e Felipe Carvalho organizaram as lições aprendidas após anos de práticas e pesquisa em Educação a Distância e Educação Online, estabelecendo 8 Princípios.

Leia agora o artigo completo Princípios da Educação Online: para sua aula não ficar massiva nem maçante!

Desafios para a Educação Aberta

A Educação Aberta abrange o acesso mais democrático ao conhecimento, o que passa pela produção e pelo compartilhamento de materiais e recursos didáticos, visando sua ampla utilização e reutilização. Para tanto, alguns critérios precisam ser considerados: produção, distribuição e qualidade. Isso inclui o uso de licenças e formatos abertos, parcerias, tecnologias abertas, interfaces amigáveis e acessíveis, reconhecimento de créditos de cursos abertos, políticas institucionais. Andreia Inamorato dos Santos, doutora em Tecnologia Educacional pela Open University (Reino Unido) tratou destas questões no Seminário de Recursos Educacionais: desafios e perspectivas para a educação aberta, promovido pela Fiocruz, em 2015. De lá para cá, temos ainda o que avançar. Assista ao vídeo da palestra e pense também no cenário atual:

Vídeo 5 - Andreia Inamorato - Seminário de Recursos Educacionais: desafios e perspectivas para a Educação Aberta Fiocruz Abril/2015

Fonte: Campus Virtual Fiocruz

Complementando, podemos destacar ainda 4 desafios:

  • O governo, em particular, precisa se concentrar em garantir a curto prazo, que todos tenham acesso a equipamentos e Internet por meio de programas e políticas voltadas às famílias de baixa renda ou pontos de acesso.

    Os professores precisam aplicar recursos acessíveis, ao criar cursos online, para que os alunos com problemas de acessibilidade tenham maneiras apropriadas de aprender online (BATES, 2020).

  • Especialmente nas escolas, o currículo “oficial” ainda pode não ser apropriado para as circunstâncias atuais, pois nem todos podem frequentar o período integral. Não é incomum que muitos currículos escolares sejam sobrecarregados com conteúdo ou “tópicos”, com tempo insuficiente para o desenvolvimento de habilidades. São muitos os desafios contemporâneos, que impõem a necessidade de repensar os objetivos de aprendizagem mais apropriados para o século XXI. A liberdade de escolher formas alternativas para alcance dos mais diversos e desafiadores objetivos está intimamente ligada às possibilidades de atuação em um ambiente de aprendizado híbrido. O ensino híbrido se tornará mais importante ao longo dos anos, portanto, aprender sobre os pontos fortes e fracos e os bons princípios de design de cursos online deve ser uma parte necessária do currículo de capacitação de professores (BATES, 2020).

  • Podemos dizer que apesar de todo esforço que a instituições educacionais, professores e alunos têm investido para dar continuidade às suas atividades online, a pandemia mostrou que muitos professores não estavam adequadamente preparados ou treinados para o uso das tecnologias digitais, nem no que se refere ao uso permanente dos recursos digitais ou das linguagens associadas ao que chamamos de cibercultura. Isso mostra como é necessário e importante promover a formação contínua dos professores nos princípios de design de cursos online, metodologias e estratégias para se comunicar com os alunos a distância, assim como produzir e usar recursos educacionais abertos.

  • Com o uso intensivo das tecnologias e sua incorporação orgânica ao cotidiano, houve uma integração dos espaços e tempos de aprendizagem, tornando a educação formal cada vez mais híbrida. “O ensinar e o aprender acontecem em uma interligação simbiótica, profunda e constante entre os chamados mundo físico e digital. Não são dois mundos ou espaços, mas um espaço estendido, uma sala de aula ampliada, que se mescla, hibridiza constantemente.” (BACICH, NETO e TREVISANI, 2015, p.39).

    As metodologias ativas são “estratégias de ensino centradas na participação efetiva dos estudantes na construção do processo de aprendizagem, de forma flexível, interligada e híbrida” (Bacich e Moran, 2018). Nesse sentido, essas metodologias se conectam perfeitamente ao ensino híbrido, à medida que se utilizam de recursos digitais e infinitas possibilidades de combinações e uso na construção do conhecimento.

Para finalizar, assista à entrevista que o Prof. João Mattar fez com o Dr. José Moran sobre metodologias ativas.

Vídeo 6 - Prof. João Mattar entrevista o Prof. José Manuel Moran

Fonte: Prof. João Mattar

Conclusão

Chegamos ao final do Curso 1. Nesta trajetória, você conheceu o conceito de Educação Aberta e o contexto social que a abrange, as iniciativas da Fiocruz e tendências de futuro para a sociedade.

Com essas reflexões e ferramentas, esperamos que você possa ser um agente promotor da Educação Aberta, colaborando com o incentivo às práticas que visem a democratização do conhecimento e ao compartilhamento de recursos educativos.

No próximo curso você conhecerá mais a fundo como de fato pesquisar, elaborar, remixar e compartilhar Recursos Educacionais Abertos (REA) e encontrará dicas valiosas para implementar, na prática, a Educação Aberta. Bom trabalho: continue aprendendo e se desenvolvendo sempre!

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