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Campus Virtual Fiocruz

Introdução à Saúde Digital

Módulo 1 | Aula 3
Saúde digital, Telessaúde e Telemedicina

Tópico 2

Mercado de Saúde Digital: expansão e aplicação

Como já abordamos aqui, o mercado de saúde digital está em rápida expansão, introduzindo inovações que prometem transformar a forma como os cuidados de saúde são prestados, ao mesmo tempo em que apresentam desafios que precisam ser abordados para garantir que esses benefícios sejam acessíveis, seguros e eficazes para todos.

Alguns exemplos de aplicações em saúde digital incluem a telemedicina e a telessaúde. Elas estão presentes ao longo do tempo como estratégia de resposta aos problemas de saúde. Desde o surgimento das primeiras práticas do uso da tecnologia aplicadas à saúde, as experiências se multiplicaram em diferentes arranjos e em diferentes setores, trazendo para o cenário, novas práticas de cuidado e novos processos de trabalho, desencadeando assim, importantes processos de construção de políticas públicas no decorrer deste percurso.

É dentro desse contexto de inovação tecnológica que a Telemedicina/Telessaúde se constitui, emergindo como ferramenta que se utiliza da tecnologia da informação e comunicação para prestar serviços de saúde à distância, inovando a prática do cuidado. Essas inovações podem ser observadas a partir das transformações que ocorreram com o advento da internet e o desenvolvimento das telecomunicações, onde os primeiros registros de experiências envolvendo o uso do telefone na prática médica, datam do século XIX. (MELO e SILVA, 2006)

Fazendo um breve histórico desse processo, destacamos alguns marcos importantes na origem e finalidade da telemedicina e telessaúde. Você pode acompanhar a seguir, uma linha do tempo, sintetizando os principais pontos no curso de evolução das práticas médicas à distância; nela é possível identificar algumas referências, como o uso de telégrafo no século XIX, evoluindo para o uso da telefonia, seguido do uso da televisão no século XX, onde o avanço das telecomunicações marcou uma expansão naquele momento histórico.

  1. Séc. XIX

    Uso do telégrafo

    Consultas médicas

    O primeiro marco, século XIX, pode ser caracterizado pela evolução dos serviços postais, onde o telégrafo era utilizado para transmitir informações durante a guerra civil americana. Nesse período, (1861-1865), suprimentos médicos eram solicitados por telégrafo, além de registros que indicam que nas primeiras décadas de sua invenção o telégrafo era utilizado em consultas médicas. (ZUNDEL, 1996)

  2. Séc. XX

    Desenvolvimento da radiocomunicação

    Experiências Telediagnóstico (ECG) e Rx

    Outro marco relevante no que se refere às consultas médicas à distância pode ser observado com o uso do telefone. Os primeiros usos do telefone estão associados à teleconsulta e a teleconsultoria, sendo inicialmente utilizados em vários países da Europa e nos EUA, facilitando a troca de informações e a divulgação das práticas médicas. (MELO e SILVA, 2006)

    No século XX o uso de tecnologias eletrônicas para provimento de serviço de saúde é impulsionado pelo desenvolvimento da radiocomunicação. Neste aspecto, pode-se destacar o serviço do Italian International Radio Medicine Centre, com atividades a partir de 1935. Um serviço para tripulações marinhas objetivando o atendimento médico e orientações de saúde. Ainda nesse contexto, cabe destacar a transmissão de dados de eletrocardiograma por fio caracterizando também um marco no desenvolvimento da telemedicina.

  3. Século XX (Anos 1950)

    Advento da televisão

    Teleconsultas Telecirurgia

    Com advento da televisão nos anos 50, a capacidade de transmitir imagem e som a longas distâncias é incorporada à prática da telemedicina. Nesse cenário, a transmissão de imagens radiológicas é integrada à comunicação por vídeo, eletrocardiogramas e radiografias são avaliados por especialistas a longas distâncias, facilitando assim a comunicação entre os médicos. Encontramos na literatura, registros de teleconsultas, telecirurgias, como prática comum no contexto mundial. (ZUNDEL, 1996).

  4. Século XX (Anos 1970/1980)

    Transmissão via satélite

    Expansão do campo de atuação clínica

    Na década de 1970/1980, serviços de captura de imagens e transmissão de dados recebem investimentos. Nesse sentido, do ponto de vista global, a transmissão via satélite expande o campo da atuação clínica.

  5. Século XX (Anos 1990)

    Banda Larga (Internet)

    Integração das telecomunicações com as necessidades da saúde

    Na década de 1990, a telemedicina ganha um novo impulso com o advento das linhas de transmissão de dados de ampla distribuição, a internet promove um grande desenvolvimento na área. (SABBATINI, 2012). Neste período, pode-se observar a crescente integração da telecomunicação às necessidades de saúde. Ainda nos anos 90, destaca-se a banda larga da internet para telefonia, aplicativos de redes sociais, smartphones, os bancos de dados em nuvem, são exemplos da transformação digital. Essas transformações não são exclusivas do campo médico, abrangem também outras áreas da saúde e cada vez mais impactam no nosso cotidiano.

  6. Século XX (Anos 2000)

    eSaúde incorpora telemedicina e telessaúde

    OMS incorpora o termo em suas diretrizes

    Com relação ao conceito de telemedicina, podemos dizer que na literatura surge associado às práticas de assistência à saúde realizadas à distância. O termo refere-se ao cuidado prestado ao paciente pelo médico, sendo mais tarde incorporado também o processo de transferência de dados por meio eletrônico. Desse modo, o uso de tecnologias de informação e telecomunicações são empregadas para transferir informações médicas para diagnóstico, terapia e educação, incluindo dessa forma, outras finalidades, não só assistenciais, mas também formativas e diagnósticas, como podemos observar na definição da Organização Mundial da Saúde (OMS) através do Observatório Global da Saúde- (Goe). “Oferta de serviços de atenção à saúde nas situações em que a distância é um fator crítico, por profissionais de saúde, utilizando tecnologias de informação e comunicação, para a troca de informações necessárias para o diagnóstico, tratamento e prevenção de doenças, para pesquisas e avaliações e para a educação continuada dos provedores e profissionais da saúde, com o objetivo maior de promover a melhoria da saúde dos indivíduos e das comunidades”. (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2010).

Com a evolução da telemedicina, o escopo de sua funcionalidade e aplicações são alargados, surgindo outros termos e definições correlatas que se sobrepõem ao longo da história, dificultando o desenvolvimento conceitual no campo e os limites precisos entre os conceitos. (BASHSHUR, 2011).

Nesta perspectiva, podemos observar que outros termos foram sendo incluídos posteriormente, como: telessaúde, saúde eletrônica, saúde móvel e saúde digital.

O termo telessaúde ganha força na literatura no final dos anos 1980 e início de 1990, sendo considerado como uma ampliação do termo telemedicina e frequentemente usado de forma mais abrangente, incluindo não só os profissionais médicos, mas também outras categorias profissionais da saúde. As definições englobam o uso das tecnologias de informação e comunicação para transferir informações de saúde para a prestação de serviços clínicos, administrativos e educacionais. Telessaúde, dessa forma, passa a compor um escopo maior, envolvendo a promoção de saúde e prevenção de doenças. A transferência de informações demográficas, operacionais está também associada à terminologia. (SILVA 2014).

O termo eSaúde começou a ser utilizado na década de 2000. Na literatura, o termo aparece algumas vezes como sinônimo e abarca a telemedicina e a telessaúde, podendo ser caracterizado como uma “solução eletrônica para apoiar a saúde”, refere-se à transmissão de serviços e informações em saúde utilizando a tecnologia da informação e comunicação. (MELO e SILVA 2006). Nesta perspectiva, o conceito abrange todas as formas de uso das tecnologias da informação e comunicação na saúde, englobando todos os níveis e organizações, incluindo o intercâmbio de informações, sistemas de gestão e apoio à decisão. (SABBATINI, 2012).

Em 2004, a Organização Mundial de Saúde (OMS) incorpora o termo em sua estratégia para os países membros. Por conseguinte, é criado em 2005 o Global Observatory for eHealth (GOe) com objetivo de monitorar e analisar o desenvolvimento da eSaúde, promovendo a disseminação de informações estratégicas e parâmetros no apoio às ações globais de eSaúde.

O termo mSaúde ou Saúde Móvel surge na literatura em 2003, está relacionado à utilização de dispositivos móveis de monitoramento sem fio, agrega o registro de informações de saúde, coleta de dados, por meio de aplicativos complexos e interativos, sendo utilizado como suporte clínico.

Por último, outro termo associado à área de desenvolvimento da telemedicina e telessaúde diz respeito a Saúde Digital. O termo despontou mais recentemente como resposta aos desafios dos sistemas de saúde, fortalecendo o uso das tecnologias como suporte ao contexto de crise sanitária. (FORNAZIN et al., 2022).

A saúde digital é um termo amplo que abrange telessaúde, telemedicina, eSaúde, saúde móvel e outras áreas da computação, como por exemplo: big data, bioinformática e inteligência artificial. Está relacionado ao uso das TICs na saúde para gerir as doenças e riscos à saúde, bem como a promoção do bem-estar. (SILVA et al., 2023).

Atualmente em curso no país, temos o documento Estratégia de Saúde Digital para o Brasil 2020-2028 (ESD2028) (BRASIL, 2020), que sistematiza e consolida o trabalho já realizado na última década e propõe estratégias para a transformação digital no país, incluindo a Visão de Saúde Digital, o Plano de Ação e as prioridades para alcançá-lo, bem como o Plano de Monitoramento e Avaliação, com objetivo de nortear e alinhar as ações.

Podemos dizer que a delimitação e a definição dos conceitos associados à telemedicina/telessaúde é uma tarefa complexa, os termos apresentam características em comum e muitas vezes são tratados de forma intercambiável. Através das definições apresentadas, é possível observar o crescimento expressivo das TICs na saúde, vários são os atributos e modalidades que foram sendo incorporados ao campo. Os últimos 30 anos impactaram e expandiram os sistemas de saúde à medida que novos recursos e rede se tornaram possíveis. Temos, então, no campo da saúde, um exemplo de como: dados, textos, sons, imagens, produzidos sob forma digital, vem se constituindo como um novo construto, na prática desse campo, contribuindo para modificação do cuidado em saúde.

Leitura
Complementar

No Plano de Ação é possível conferir em detalhes as estratégias para a transformação digital no país. Consulte também, a PORTARIA GM/MS nº 3.233, referente ao Programa SUS Digital.