Módulo 1 Saúde Mental de Jovens Indígenas
Para conhecermos um pouco sobre os agravos mentais dos jovens, é importante conceituarmos a juventude.
No que diz respeito à juventude, o suicídio configura a quarta maior causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos de idade.
https://www.sejus.df.gov.br/wp-conteudo/uploads/2021/01/Depressao.pdf
A Juventude precisa ser entendida de forma particular, porque apresenta características específicas do processo de desenvolvimento de vida, tais como:
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Ainda pensando nesse cruzamento de fatores, considerando também os diferentes contextos de opressões interseccionais, falaremos agora a respeito das questões de saúde mental vinculadas às juventudes indígenas.
O Brasil tem 1.693.535 de pessoas indígenas, o que representa 0,83% do total de habitantes do país, segundo dados do Censo 2022 divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Este número se divide entre mais de 500 etnias por todo o território nacional.

Os povos indígenas habitavam o Brasil muito antes do violento processo de colonização. Por exemplo, há indícios de ocupação humana de povos originários há 10.000 anos atrás, como apontam as pinturas rupestres da Serra da Capivara (PI). No século XVI, havia uma estimativa de mais de 2 milhões de indígenas ocupando o território nacional, número que decaiu em função do genocídio e etnocídio de diferentes povos no contexto da colonização do Brasil.

Por meio da história e do compartilhamento de saberes, os povos indígenas têm uma forte trajetória de luta, de resistência, de mobilização, de vinculação com a terra, de práticas culturais de fortalecimento e de espiritualidade.
Dessa forma, ao convidar os povos indígenas a construírem suas próprias concepções sobre saúde mental, é essencial ampliar a definição desse conceito, levando em conta a pluralidade de vivências étnicas e as particularidades que existem nas comunidades indígenas.
Dialogamos com uma das lideranças espirituais da etnia Pitaguary do Ceará, Pajé Alex Pitaguary, o qual nos descreveu saúde mental a partir de uma concepção indígena da seguinte maneira:

Pajé Alex Pitaguary
Porque cada pessoa, traz um animal, traz uma árvore, traz peixe, e aí por diante, nós conseguimos ver o sintoma daquela pessoa, o nível de depressão ou do psicológico mesmo, de possíveis palavras de ânimo mesmo, e aí nós vamos descrever aquela pessoa no momento, e aí eu posso dar um animal pra ela, 'olha, eu estou vivendo como um peixe hoje, que nada contra maré, que nada contra correnteza', e aí você vai guiando aquela pessoa ali, e aí logo após eu pergunto pra aquela pessoa, pra saber onde ela parou na sua vida, 'aonde é que você se encontra na sua vida', pra ter um momento ali de reflexão.
E aí eu gosto muito de trabalhar assim, eu gosto de botar espiritualidade, quase tudo que eu faço. Porque o sagrado da gente já é uma psicologia, que mexe com muitos e muitos membros do corpo. Até no sentido de dançar, até no simples sorriso, até na simples maneira de pisar no chão. Eu posso... Olha, uma coisa muito interessante que eu gosto de fazer. Eu posso pisar com o pé todo dia no chão. Mas eu posso levantar o pé e ficar só com calcanhar no chão. Mas eu posso ficar de pontas de pé e ficar mais alto. Às vezes, nós precisamos só ficar de pontas de pé mesmo para alcançar aquela fruta.
Quando você se inclina pro calcanhar, você não fica mais alto, e muitas e muitas vezes você perde o equilíbrio. E aí, às vezes, nós devemos ficar de pontas de pé, para alcançar as frutas mais doces, as frutas mais maduras
Se compararmos com o primeiro conceito, proposto pela Organização Mundial da Saúde, a própria concepção de saúde mental pode ter um poder de compreensão reduzido, quando comparada à história dos povos indígenas e suas lutas no Brasil.
Cada nação indígena possui compreensões próprias de corporalidade, cuidado, cura, bem-estar e bem viver, que perpassam cosmovisões que buscam integrar modos de vida vinculados à natureza, aos seres vivos e à espiritualidade. Portanto, por possuírem os próprios conhecimentos a respeito de saúde e doença, cada povo também possui as próprias estratégias para compreender as causas de doenças, além das possibilidades de diagnóstico e tratamento.
Desta forma, pensar saúde mental indígena ultrapassa os saberes científicos e abre espaço para noções de cuidado singulares, que expandem o conceito proposto pela OMS, para que se construam formas de intervenção que façam sentido para cada comunidade indígena, a partir dos saberes e práticas existentes no próprio território (Brasil, 2022).
No que diz respeito à juventude indígena, os jovens possuem lugar de participação política ativa, onde tensionam os Estados e organizações sociais a considerarem as especificidades das comunidades indígenas na construção de políticas públicas de cuidado e assistência. Dessa forma, a mobilização juvenil busca potencializar as diferenças étnicas presentes nas comunidades indígenas, uma vez que cada povo classifica as faixas etárias de desenvolvimento de maneira particular, pois possuem ritos de passagem dos sujeitos para o trânsito em diferentes posições sociais, perpassando as noções de cuidado e atenção presentes na organização social das aldeias (El Kadri, 2021).
No próximo módulo, vamos abordar como a saúde mental está integrada no Sistema Único de Saúde, a partir da Rede de Atenção Psicossocial.