Módulo 4 | Aula 2 Saúde, Bem viver e Sistemas Médicos - o desafio de garantir a atenção diferenciada

Tópico 3

Biomedicina

A Constituição Federal de 1988 coloca a obrigação do Estado brasileiro em garantir acesso universal e igualitário aos serviços de saúde. Para isso, foi criada uma rede ampla de atendimento, que é o Sistema Único de Saúde (SUS).

O Subsistema de Atenção à Saúde Indígena (SasiSUS) foi inserido dentro desta rede ampla com o intuito de alcançar também as terras indígenas com serviços de saúde de atenção primária e diferenciados.

Foto de um indígena recebendo a dose de uma vacina, aplicada por uma profissional de saúde também indígena. Ambos vestem uma camisa roxa e usam adereços típicos. O indígena recebe um abraço do mascote da campanha de vacinação.
Fonte: Ministério da Saúde

Os motivos que levaram à criação do SasiSUS já foram discutidos em profundidade no decorrer deste curso. Agora, vamos conhecer algumas características da prática médica que orienta as ações de saúde no SUS e no SasiSUS.

A rede do SUS e do SasiSUS está baseada na prática médica não indígena, que pode ser denominada de biomedicina.

Mas o que é biomedicina?

Existem muitos tipos de medicinas (ou sistemas médicos) no mundo e algumas são muito antigas, com feitos registrados antes do século I.

A biomedicina é um tipo de sistema médico, desenvolvido no mundo ocidental que tem se tornado hegemônico, ou seja, se expandiu para o mundo todo levando uma forma específica de explicação sobre o processo saúde e doença e os possíveis tratamentos. É uma história longa e, aqui, faremos um resumo.

A biomedicina é a medicina que os profissionais de saúde aprendem nas universidades ocidentais e aplicam nos serviços de saúde no Brasil e mundo afora, está baseada na biologia, teve início na Europa, no século XVI, e tinha como foco a doença.

IIlustração do corpo humano mostrando os ossos e órgãos.
Fonte: Freepik

Naquela época, algumas pessoas começaram a procurar as causas para as doenças fora de explicações religiosas, baseadas apenas nos conceitos biológicos e da anatomia humana. Os estudos, nas Escolas de Medicina, permitiram observar a estrutura óssea, os vasos sanguíneos, os órgãos e os tecidos humanos. Isso contribuiu para afastar as explicações ou justificativas religiosas e espirituais de causalidade das doenças.

Os médicos passaram a ver o corpo humano como uma máquina, universal, e seu funcionamento como isolado de tudo que estivesse fora dessa máquina.

Para a biomedicina, a doença acometia todos os corpos da mesma maneira. O corpo biológico do indivíduo foi separado do coletivo, dos sentimentos, dos seus sonhos e pensamentos, do meio ambiente em que viviam. A mente, os pensamentos e o modo de viver não interessavam. Os tratamentos deveriam observar intensamente o funcionamento do corpo biológico.

Os estudos sobre os corpos humanos permitiram aprofundar e criar ideias, imagens, representações e saberes sobre o corpo humano, bem como desenvolver tecnologias para intervir sobre esses corpos.

Tais estudos incluíam também a construção de ferramentas e a montagem de laboratórios com equipamentos como, por exemplo, o microscópio, que permite ver microorganismos causadores de doenças.

Aluno em uma escola politécnica com alguns tubos de ensaio.
Fonte: Fiocruz Imagens

A biomedicina passou a estudar as causas das doenças e como estas poderiam ser prevenidas e curadas por meio de soros, vacinas e remédios produzidos pelas indústrias farmacêuticas. Assim, desenvolveu-se um conjunto de saberes, de práticas e de tecnologias para tratar doenças e, ao mesmo tempo, definiu como deveria ser a formação dos profissionais de saúde.

Vale lembrar que os conhecimentos em biomedicina que os médicos, enfermeiros, dentistas, nutricionistas e outros profissionais de saúde possuem são aprendidos nas universidades e conformam um arsenal de tecnologias que estão disponíveis no SUS.