Módulo 4 | Aula 1 Diversidade Cultural, etnocentrismo e protagonismo indígena - Conceitos importantes para garantir a atenção diferenciada

Tópico 3

Etnocentrismo

O etnocentrismo acontece quando um grupo, povo ou nação se vê como mais importante que os demais, ou seja, quando não se respeita o modo de viver de outros grupos, povos ou nações. O etnocentrismo acontece quando avaliamos, julgamos, a partir dos elementos de nossa própria cultura, as formas de vida e de pensamento de outros grupos ou povos.

Quando reconhecemos no nosso grupo que nos vestimos de maneira semelhante, nos pintamos da mesma maneira, comemos da mesma maneira os mesmos alimentos, criamos com aquele grupo uma identidade. Mas ao nos depararmos com um grupo diferente do nosso, é comum estranharmos a forma de agir, de se vestir, falar, de pensar, etc. Assim, criamos mecanismos de diferenciação: passamos a classificar algumas culturas como mais próximas e outras como mais distantes das nossas.

Um exemplo prático disso são os Kaiowá que se acham mais próximos dos Guarani e dos Mbyá do que dos Apinajé. Por sua vez, os Apinajé se acham mais próximos dos Krahô do que dos Xucuru. Fazemos essas comparações e diferenciamos os povos a todo momento e isso não é necessariamente um problema.

O problema está quando essas comparações assumem uma forma extrema, tornam-se uma forma de etnocentrismo que desqualifica práticas diversas de viver e também nega a humanidade e os direitos do outro. Daí a figura do preconceito, da discriminação e do racismo vem à tona e se impõe com manifestações de violência e de opressão. Vemos isso quando um grupo com maior poder político-econômico passa a impor sua vontade e sua cultura a diversos povos.

Ilustração nas cores preto e branco, representando uma paisagem. Ao fundo, um morro, em cujo topo há uma construção que representa uma igreja. Ao pé do morro, há uma mata e árvores. No plano médio, diversos nativos nus, sentados, estendem os braços. No primeiro plano, dois colonizadores, sentados no chão, conversam entre si. Ao seu lado, de pé, um terceiro colonizador conversa com um nativo.
Colonizadores e nativos. Ilustração da obra de Arnoldus Montanus e Jacob van Meurs, publicada em 1671. Domínio público. In: De Nieuwe en Onbekende Weereld.
Fonte: Multirio

Essa prática começou na colonização, na invasão das terras ameríndias, quando países europeus avançaram sobre territórios e buscaram impor suas ideias e seus modos de viver, promovendo uma hierarquização de sua cultura em relação à dos povos indígenas.

Para assistir...

Documentário - Guerra do Brasil, 1.º episódio: As guerras da conquista:

Recomendamos o Documentário - Guerra do Brasil, 1.º episódio: As guerras da conquista para refletir sobre o processo de colonização e as lutas passadas e atuais que os Povos Indígenas enfrentam. Neste documentário, Ailton Krenak fala sobre o problema da colonização.

Fonte: Youtube

Ainda hoje políticas e práticas colonizadoras continuam a afetar a vida de muitos povos, orientadas por um etnocentrismo violento.

Para escutar...

Podcast “Copiô, Parente”: Racismo é crime, Bolsonaro! Episódio 132.

Neste podcast produzido pelo “Copiô, Parente”, Instituto Socioambiental, discute-se sobre uma fala que expressa racismo no discurso do ex-presidente da República Jair Bolsonaro.

Essa fala é um exemplo de etnocentrismo e antagonismo à diversidade cultural.

Fonte: Youtube

Diante desse cenário de avanço dos colonizadores europeus e disseminação de suas ideias e práticas, os Estados Nacionais foram construídos. Essa construção em territórios não europeus ocorreu através do massacre e da escravização dos povos originários promovidas pelos colonizadores e a subsequente elite econômica.

Material complementar

COLONIZAÇÃO E COLONIALIDADE

A colonização é o processo de invasão territorial promovida pelas nações europeias, no final do século XV e início do século XVI, em territórios onde pretendiam explorar recursos e pessoas. Esse processo promoveu o genocídio, a escravização de muitos povos e a destruição de muitas florestas.

Essa forma de dominação não ficou no passado, mas se mantém até hoje com a manutenção e atuação de grupos com poder econômico que continuam avançando sobre territórios e pessoas, com a intenção de dominar diversos povos para mantê-los como força de trabalho e usufruindo de seus territórios.

Alguns autores falam de colonialidade para explicar esse processo onde o mundo foi dividido entre colonizadores e colonizados, onde novas identidades históricas e sociais (brancos, índios e negros) foram construídas e passaram a ser naturalizadas nas relações coloniais de dominação entre europeus e não europeus.

Capa do livro: 'A colonialidade do poder. Etnocentrismo e ciências sociais. Perspectivas Latino-Americanas'. O nome do autor é Edgardo Lander. A cor da capa é azul claro e cinza. A parte azul representa o oceano e a parte cinza representa o mapa da América Latina de cabeça para baixo. No canto inferior direito há o logotipo do Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais.

Para aprofundar esse tema, sugerimos a leitura de: QUIJANO, Aníbal. Colonialidade do poder, Eurocentrismo e América Latina. In: A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais. Perspectivas latino-americanas. Buenos Aires: CLACSO, Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales, 2005.

A diversidade cultural sempre foi um problema para as elites que detêm o poder de um país. Os países ou Estados nacionais são uma invenção dessa colonização europeia imposta no mundo todo.

Os Estados que são incapazes de lidar com a diversidade cultural em seu interior, procuram impor uma identidade única, ou seja, querem unificar tudo e ter uma figura de cidadão, uma língua, uma figura de trabalhador, um tipo de família. Assim, pretendem criar um único povo, uma única cultura, em uma única pátria.

As políticas indigenistas de assimilação e integração, vistas anteriormente, são exemplos disso. Para tanto, criam perseguições sistemáticas a outros povos, que expressam a diversidade cultural, com experiências de vida radicalmente contrárias ao sistema econômico, político e social que querem impor. Negam a existência de diversos povos e o direito de se autogovernarem.

Observamos no projeto colonialista, a imposição de uma cultura universalista, neste caso, a europeia, sobre outros povos e suas diversas culturas. A tensão que se forma está na imposição de modos de viver, de pensar e agir e na disputa por terras. Ou seja, o governo representa uma cultura e procura convencer e impor aos diversos povos uma dimensão ética e cívica, uma civilização política, e daí surgem tensões e conflitos.

Portanto, às vezes, as práticas culturais, que discutimos anteriormente, podem não ser apenas aquelas que fazemos a nós mesmos, mas podem ser algo feito a nós, imposto a nós, em especial pelo Estado e as classes dominantes:

Todas essas ações que apresentam um olhar ainda colonizador sobre a vida indígena são práticas etnocêntricas, que acham que o modo de viver do não indígena é melhor que os modos de viver dos povos indígenas.

Mas, há movimentos de resistência e reversão a essas práticas colonizadoras sobre a diversidade indígena. Assim, temos outro conceito importante, o de protagonismo indígena, que atua na mobilização e fortalecimento dos movimentos indígenas, com objetivo de garantir direitos e pôr fim à desigualdade social e à desigualdade em saúde que tanto afeta os povos originários.