Aula 3 - Relações intergeracionais e promoção da saúde mental para usuários do SUS, cuidadoras, profissionais e gestores da saúde: um projeto para criar um “mundo para todas as idades” no contexto da saúde.

Objetivo de aprendizagem

Ao final desta aula, você será capaz de integrar estratégias de enfrentamento ao idadismo, no contexto do SUS, voltadas para uma relação interpessoal não discriminatória entre usuários, cuidadores, profissionais e gestores de saúde.

Nessa altura do curso, você já sabe o que é o idadismo interpessoal e institucional, porque ele se constitui e como ele se apresenta nos contextos de saúde. Diante disso, talvez permaneça a pergunta:

Questionamento

Como podemos promover os direitos da pessoa idosa no SUS, considerando as relações intergeracionais, o envelhecimento saudável e o enfrentamento ao idadismo? Como é possível implementar algo nesse sentido?

Como dissemos na aula anterior, defendemos a ideia de que um dos caminhos para a promoção do envelhecimento saudável e do enfrentamento ao idadismo são as relações intergeracionais mediadas.

A princípio pode parecer muito complexo, provavelmente uma política pública implementada a partir da escuta popular, da participação das pessoas idosas, órgãos de garantias de direitos, controle social da sociedade civil organizada, programas e fundações de pesquisa sobre envelhecimento, debates e decisões políticas e jurídicas. Realmente é algo complexo! Muitas dessas ações já estão sendo realizadas hoje mesmo, algumas outras precisarão de tempo para se transformarem em realidade. Algumas ações podem ser realizadas por nós, no nosso cotidiano, outras precisam ser construídas. Algumas vezes a partir da luta de muitas pessoas e da persistência na ideia de que é possível criar um mundo para todas as idades!

Algumas experiências na Educação ou na Saúde, podem exemplificar como concretamente é possível discutir e refletir sobre o idadismo, a partir de ações coletivas e intergeracionais. Vejamos a seguir alguns relatos de experiências.

“Uma escola na tentativa de ampliar as relações intergeracionais e construir canais de comunicação entre crianças e idosos residentes em Instituições de Longa Permanência (ILP), desenvolveu um projeto pedagógico com as seguintes ações: 1. As crianças em pequenos grupos realizaram uma entrevista sobre a história de vida de uma pessoa idosa moradora de uma ILP; 2. Depois dessa primeira conversa as crianças fizeram um cartão para essa pessoa, dizendo o que ela aprendeu com a sua história de vida; 3. O cartão foi colocado em um retalho de tecido, juntamente com as histórias dessas muitas pessoas, formando uma grande colcha de retalhos; 4. Em nova visita na ILP, juntos crianças e pessoas idosas falaram sobre a experiência de construírem uma colcha de retalhos juntas.”

“A gestão de uma Unidade Básica de Saúde juntamente com os profissionais de saúde percebeu que os pacientes idosos com Alzheimer, sempre vinham para a UBS acompanhados de suas cuidadoras, todas mulheres e cuidadoras não remuneradas, a maioria era esposa ou irmã dos pacientes. Ao compreender a necessidade de apoiar essas cuidadoras como meio de auxiliar o tratamento desses idosos, a UBS desenvolveu o grupo de apoio ‘Cuidando de quem cuida’, que visava promover a saúde mental das cuidadoras através de escuta psicológica, mas também um espaço de contato com todos os profissionais envolvidos no cuidado da pessoa idosa com Alzheimer.”

“Um hospital público atravessava uma situação difícil de mudança institucional na gestão. Além disso, os trabalhadores do local conviviam com a realidade de que metade deles eram pessoas experientes, alguns já podiam até se aposentar, e outros eram recém chegados, alguns inclusive, ainda nem tinham completado o estágio probatório de três anos. Os conflitos eram diários, os mais jovens questionavam as regras antigas , engessadas, desatualizadas, pediam que tudo fosse mudado e que as novas tecnologias fossem implementadas, unificando os processos de trabalho. Os trabalhadores idosos e mais experientes, resistiam a mudança, acreditavam que tudo sempre funcionou muito bem daquele jeito e que nada precisava ser mudado! Um projeto de um grupo intergeracional no trabalho foi desenvolvido, no início apenas duas ou três pessoas participavam, mas o café da manhã motivou o encontro. Depois de um longo ano de encontros periódicos, o grupo se tornou um só! E os diálogos, nem sempre fáceis, foram se tornando mais leves! Como resultado dessa experiência, surgiu uma copa e um espaço de convivência dos trabalhadores, onde hoje podem dialogar e aprender uns com os outros!”

Como vimos nos relatos de caso, além da formação profissional, é importante construir espaços de convivência intergeracional que promovam resoluções de conflitos, a dissipação dos estereótipos e uma relação empática que se baseie em experiências concretas. Esses espaços devem ser mediados por educadores, profissionais de saúde, ou outros profissionais que consigam promover espaços de escuta e de fala mútuas, compondo grupos que tenham objetivos em comum, mesmo sendo de idades diferentes!

Dica

No módulo 4 deste curso, vocês poderão aprofundar os conhecimentos sobre as relações intergeracionais e sobre as diversas possibilidades de estimular essas relações de forma menos conflituosa e idadista.

O idadismo institucional não se separa do interpessoal, uma vez que as crenças idadistas circulam nas falas, se materializam nos comportamentos discriminatórios das pessoas, se perpetuando e sendo naturalizados pelas regras e normas institucionalizadas. Romper com esse ciclo é essencial! Como vimos até aqui, promover contextos menos idadistas perpassa a ideia da construção de:

Espaços intergeracionais voltados para pacientes, cuidadores ou profissionais, sempre de forma mediada por profissionais da educação ou da saúde;
Formação cidadã, desenvolvida com base na prática e nas relações intergeracionais próximas, com foco na comunicação e nas relações interpessoais;
Regras e normas institucionais pautadas na legislação vigente, com atenção ao controle social das pessoas idosas e seus cuidadores.
Questionamento

Ao final desse capítulo, te convidamos a refletir a partir de um jogo muito simples, chama-se evocação livre de palavras, para tanto, gostaríamos que agora, depois da leitura, reflexões e vídeos que você assistiu, você escreva quais as primeiras três palavras que vem na sua cabeça quando você escuta a palavra PESSOA IDOSA?

Esperamos que os estereótipos negativos tenham dado lugar às palavras de mais inclusão e diálogo, mas compreendemos se os estereótipos ainda teimarem em aparecer na mente! A mudança se faz todos os dias, a partir de novas experiências e reflexões, é um caminho que se faz caminhando!

Terminamos essa aula com a provocação da OMS no Relatório Mundial sobre o Idadismo:

Citação

“Se os governos, as agências das Nações Unidas, as organizações de desenvolvimento, as organizações da sociedade civil e as instituições acadêmicas e de pesquisa implementarem estratégias efetivas e investirem em mais pesquisas, e as comunidades se unirem ao movimento e desafiarem o idadismo em todas as instâncias, juntos podemos: criar um mundo para todas as idades!”

Organização Mundial da Saúde

Exercício de Fixação

1. O idadismo institucional pode ser identificado quando:

2.Um exemplo de idadismo benevolente é:

3. Qual é uma estratégia eficaz para combater o idadismo no contexto do SUS?

4. No enfrentamento ao idadismo, o conceito de interseccionalidade refere-se a:

5. O autoidadismo ocorre quando:


Parada Estratégica

A partir da leitura que você fez até aqui e depois de assistir parte da série “Velhices” que comentamos na aula 2 desse módulo, propomos que você tente iniciar um diário, tentando descrever vivências com pessoas idosas. No decorrer da sua vida, como você tem se relacionado com pessoas idosas?