Ao final desta aula, você será capaz de identificar situações de idadismo e conflitos intergeracionais na assistência, comunicação e gestão em saúde.
Antes de continuar a leitura procure identificar na sua experiência se você reconhece situações de violência vivenciadas em contextos de saúde, seja como paciente ou como profissional de saúde.
O idadismo se apresenta também como uma violência psicológica, causando sofrimento e problemas de saúde mental nas vítimas. Essa violência não afeta apenas quem sofre diretamente, mas também aqueles que testemunham essa a situação. Por isso, é importante que o combate à violência psicológica e ao idadismo seja uma responsabilidade de cada um nós. Quando uma pessoa se levanta contra a opressão e a discriminação, isso pode transformar o ambiente e proporcionar apoio à vítima, que antes se sentia isolada.
A violência vivenciada pelas pessoas idosas em contextos de saúde pode remeter à violência psicológica, como quando há a agressão verbal ou o assédio moral, e não apenas a violência física, sexual ou patrimonial (econômica). O idadismo, comumente se relaciona com a violência psicológica, pois nem sempre é visível, mas que repercute na saúde psíquica das vítimas. Além disso, é preciso ter atenção na assistência à saúde das pessoas idosas, especialmente, quando estas são vítimas de violência interpessoal, para que essas pessoas não sejam revitimizadas, o que se denomina de violência institucional.
Fonte: Njaine e cols. Impactos da violência na saúde. ENSP, Fiocruz, 2020
Mas então, se o idadismo enquanto discriminação com base na idade,
pode se configurar como uma violência psicológica, como podemos evitá-la?
Investir em processos educativos desde a infância até a educação superior
pode ser um caminho promissor.
Estudos científicos concluíram que temos a tendência de perceber
as diferenças entre
as pessoas que fazem parte do NOSSO grupo, enquanto enxergamos o OUTRO grupo como homogêneo. Essa
tendência leva à generalização
de características de algumas pessoas para todos do OUTRO grupo.
Esse ERRO pode ser resolvido quando existe um contato real e mediado entre os grupos.
Nossos estudos confirmam que o contato cotidiano com pessoas de diferentes idades pode reduzir
estereótipos e idadismo.
No entanto, se essa interação se baseia apenas na idade, o contexto pode se tornar fértil para o
idadismo,
pois as pessoas podem usar a interação para confirmar suas impressões iniciais.
Então qual é o caminho?
Não existe uma resposta única para essa pergunta, mas podemos sugerir três ações para o enfrentamento do idadismo:
Formação profissional e educação para a cidadania; | |
Promoção de espaços de convivência intergeracional; |
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Respeito às leis que visem o enfrentamento ao idadismo. |
Nessa direção, os Programas Intergeracionais como espaços de promoção à saúde da pessoa idosa, como por exemplo na Unidade Básica de Saúde, nos parecem caminhos promissores. Esses programas podem ser realizados dentro das Unidades de Saúde na intenção de desenvolver estratégias mais integradas e humanizadas, voltadas para o cuidado das populações mais vulneráveis, considerando as suas demandas físicas, psicológicas e sociais. Um bom exemplo, é a experiência relatada na série Velhices, realizada pelo SESC-TV. Nesta série, pessoas idosas de diferentes classes, etnias e idades falam sobre as Velhices, e, profissionais de saúde relatam sobre a importância de compreender essas diferenças para conseguir promover a saúde e prevenir doenças.
Os processos de exclusão de pessoas idosas perpassam diferentes níveis de vulnerabilidade, e estes se configuram a partir dos recortes interseccionais. Por exemplo, não raramente, as vítimas preferenciais do idadismo são mulheres, idosas, negras e pobres. O olhar interseccional nos é solicitado quando buscamos contextualizar o idadismo, pois a discriminação sempre se alicerça nas relações de poder, e muitas vezes estas se encontram nas raízes das relações sociais.
A interseccionalidade explica que as diferentes discriminações e opressões existentes na sociedade (racismo, sexismo, classismo, capacitismo, homofobia, xenofobia, entre outros) não agem de forma independente umas das outras, essas formas de opressão se relacionam, criando um sistema de opressão que reflete o "cruzamento" de múltiplas formas de discriminação, sem uma hierarquização entre elas.
Fonte: RIOS, Flavia. O que é interseccionalidade e qual sua importância para a questão racial? Nexo Políticas Públicas. 2020.
Compreendemos, portanto, que a discriminação com base na idade, pode ser acompanhada de outras formas de discriminação. Por exemplo, pessoas idosas com deficiência podem sofrer com o idadismo e com o capacitismo conjuntamente. A necessidade de apoio ou uma dependência para a realização das Atividades da Vida Diária (AVD) podem restringir direitos como à convivência comunitária e à socialização. Para tanto, se faz necessário orientação e formação aos cuidadores dessas pessoas. O trabalho de cuidado, na maioria das vezes é desgastante, invisível e direcionado para as mulheres “Cuidadoras” remuneradas (profissionais) ou não remuneradas (familiares) que precisam de apoio e orientação.
As pessoas idosas com maior nível de dependência, muitas vezes se sentem mais seguras com a presença de suas cuidadoras. Por isso, é importante que os profissionais de saúde considerem a mediação dessas pessoas no contato com seus pacientes idosos e, ao mesmo tempo, concentrem sua avaliação e atenção na pessoa idosa que está sendo atendida.
Fonte: Freepik
Quando as cuidadoras não conseguem atuar na proteção das pessoas idosas, estas podem ficar ainda mais expostas ao idadismo e capacitismo. Isso pode ocasionar o adoecimento mental, como o desenvolvimento de sintomas depressivos e comprometimentos cognitivos.
Aliás, o transtorno depressivo na velhice é um bom exemplo de uma doença amparada em crenças idadistas É preciso avaliar de forma contextualizada o adoecimento mental na velhice. Isso é importante para não justificarmos as doenças mentais por causa da idade, se alicerçando nas crenças de que em determinada idade é natural ter depressão, por exemplo! Ou de forma contrária, naturalizar o sofrimento psíquico advindo do isolamento e da solidão, percebendo-os como algo característico da velhice. Cada pessoa tem a sua história e o seu contexto social. Não se pode pensar no processo saúde-doença desvinculado do contexto social, econômico, cultural dessas pessoas. As velhices são múltiplas e as formas de viver esse momento da vida também é diverso!
Na cartilha Impactos da violência na saúde , pesquisadores da Fiocruz e seus colaboradores discutem os diferentes tipos de violência, dentre eles, a violência voltada à pessoa idosa. Nesse capítulo, Edinilsa de Souza, Amaro de Souza e Bruno Poltronieri nos apresentam fatores de risco e prevenção da violência contra os idosos, evidenciando as violências físicas, psicológicas, financeiras, a negligência e o abandono de pessoas idosas.