Recomendações para Comunicação de Notícias Difíceis no Contexto da Covid-19
Ainda que a morte seja a maior certeza que o ser humano carrega consigo, lidar com este evento ainda é um processo complexo e singular, considerando que cada óbito traz uma história, uma perda, uma dor e uma mistura de tantos outros sentimentos. Ao final desta aula, você vai ser capaz de:
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Compreender o processo de morte e morrer na ILPI.
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Refletir sobre a comunicação de notícias difíceis na ILPI.
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Compreender o óbito e os cuidados com o corpo na ILPI.
O óbito nas ILPIs
Para muitos profissionais de saúde, o óbito é um evento quase que cotidiano, assim como o preparo e o manejo do corpo. Os idosos institucionalizados também vivenciam, rotineiramente, perdas dolorosas: amigos residentes de quarto, companheiros de conversas, danças e tantas outras atividades que alegram o dia a dia daqueles que convivem nas ILPIs.
Óbito nas ILPIs: impactos emocionais
Com a pandemia da Covid-19 e a propagação da infecção em grupos de maior suscetibilidade, como as pessoas idosas, as perdas se tornam ainda mais frequentes, dadas as características estruturais primárias da maioria das instituições de longa permanência.
Ainda que não haja evidências científicas suficientes capazes de estimar o impacto da mortalidade causada pela Covid-19 em ILPIs no Brasil e em diversos outros países do mundo, exceto nos Estados Unidos e Cingapura, é provável que muitos dos idosos institucionalizados tenham falecido em decorrência da doença. Estima-se que, mundialmente, quase metade dos óbitos que irão ocorrer pela infecção Covid-19, serão em idosos institucionalizados.
No Brasil este número poderá chegar a mais de 100.000 casos de óbitos em idosos (MACHADO, et al., 2020). Trata-se de um número alarmante, que exige de gestores, líderes, formuladores de políticas públicas e proprietários de instituições de longa permanência, ações de promoção e prevenção da infecção causada pela Covid-19.
Algumas das mortes ocorrem em hospitais, enquanto outras ocorrem no âmbito das dependências da ILPI. Neste último caso, alguns cuidados devem ser observados, tanto no que tange à conduta dos profissionais em relação ao manejo do corpo, quanto na comunicação do óbito para os residentes.
Comunicação do óbito nas ILPIs
ATENÇÃO
A comunicação do óbito não é uma tarefa simples para quem transmite e para quem recebe a notícia. O ato de comunicar uma notícia difícil - a morte de alguém próximo - exigirá do profissional de saúde um prévio preparo emocional, uma postura empática, somado ao desenvolvimento de habilidades relacionais e comunicacionais que qualificarão o processo de transmissão e recepção da informação.
Neste contexto de pandemia, muitos idosos institucionalizados foram afastados do convívio familiar e amigos visitantes. Mas, mesmo com visitas restritas, muitos se infectaram, adoeceram e morreram sem sequer estabelecerem um último contato físico com aqueles que amam. Isto torna o processo de interlocução ainda mais complexo e desafiador para ambas as partes. Algumas vezes será necessário o profissional enfrentar o choro e o silêncio; outras vezes, será necessário acolher o sofrimento com palavras terapêuticas. Tudo dependerá do momento, da escuta e da abertura que o outro dará para falar.
Óbito nas ILPIs: importância dos relacionamentos
ATENÇÃO
Por outro lado, este profissional precisará de uma rede de suporte para dar suporte. É uma via de mão dupla. Ambos são seres humanos que precisam ser cuidados. Não se trata apenas de capacitação e treinamento para dar notícias difíceis, vai muito além destes aspectos objetivos e passíveis de controle. Neste processo, os aspectos culturais e subjetivos - crenças, valores, opiniões - são totalmente evidenciados. Os líderes assumem uma posição chave e estratégica na organização, no que tange a identificação dos profissionais que precisam de suporte psicológico, emocional e espiritual (CRISPIM, et al., 2020).
Recomendações de comunicação para notícias difíceis no contexto da Covid-19
Crispim et al., (2020) desenvolveram um conjunto de recomendações para os serviços de saúde melhorarem as práticas de comunicação durante a pandemia do Covid-19 e, desta forma, reduzir o sofrimento de pacientes, familiares e profissionais.
Um dos cenários possíveis para aplicabilidade destas recomendações seriam os casos de óbitos em pacientes adultos idosos e não idosos. Sendo assim, os autores propõem 5 ações importantes para comunicar mortes de adultos e pessoas idosas:
Ação 1
1 - Tenha um time de comunicação formado na instituição, mesmo que executem outras funções, designe pessoas para esta linha de frente.
Ação 2
2- Siga o fluxo de notícia de óbito por telefone com atenção aos detalhes.
Ação 3
3- Atenção à saúde mental dos colegas, atenção à pessoa que dará a notícia.
Ação 4
4- Estabeleça um fluxo de trâmites funerários para facilitar e designe uma equipe para tal.
Ação 5
5- No que concerne aos princípios das precauções padrão de controle de infecção e precauções baseadas na transmissão, deverão continuar sendo seguidos para o manuseio do corpo após a morte, caso a mesma ocorra na ILPI. Isso ocorre pois há um risco contínuo de transmissão da infecção por contato, embora o risco seja geralmente menor, quando comparado aos pacientes vivos.
É possível concluir que entender o “morrer” como uma das etapas da existência de qualquer ser humano é subjetivo, e ao mesmo tempo complexo para a maioria dos indivíduos, independente do seu nível de convivência e/ou atuação.
O óbito vai muito além dos protocolos operacionais desenhados e das normativas nacionais estabelecidas, pois envolve aspectos subjetivos como crenças, valores e princípios, que precisam ser necessariamente acolhidos e respeitados.
Clique se quiser ler mais informações sobre comunicação em caso de óbito pela Covid-19.
Cuidados com o corpo em caso de óbito
Durante os cuidados com o corpo, deve-se respeitar e preservar as crenças, valores e costumes. Atitudes e comentários desrespeitosos devem ser evitados neste momento.
Ao longo do procedimento, devem estar presentes no quarto, os profissionais necessários que executarão o procedimento de preparo do corpo e todos devem utilizar os EPIs indicados, bem como ter acesso aos recursos para realizar a higiene das mãos com água e sabonete líquido ou preparação alcoólica (higiene das mãos antes e depois da interação com o corpo e o meio ambiente).
Se quiser rever a forma correta de higienizar as mãos
Todos os profissionais que tiverem contato com o corpo, devem usar:
Óculos de proteção ou protetor facial (face shield)
Máscara cirúrgica
Avental ou capote (usar capote ou avental impermeável caso haja risco de contato com volumes de fluidos ou secreções corporais)
Luvas de procedimento
Observação: Se for necessário realizar procedimentos que podem gerar aerossóis, como a extubação, o profissional deve usar adicionalmente o gorro descartável e trocar a máscara cirúrgica pela máscara N95/PFF2 ou equivalente.
Não é recomendado que pessoas acima de 60 anos, com comorbidades, como doenças respiratórias, cardíacas, diabetes ou imunossuprimidas sejam expostas a atividades relacionadas ao manejo direto do cadáver.
A movimentação e manipulação do corpo deve ser a menor possível. Conheça as principais recomendações de manejo:
Acondicionar o corpo em saco impermeável, à prova de vazamento e selado. Desinfetar a superfície externa do saco (pode utilizar álcool líquido a 70º, solução clorada [0.5% a 1%] ou outro saneante desinfetante, regularizado junto à ANVISA), tomando o cuidado de não usar luvas contaminadas para a realização desse procedimento de desinfecção do saco.
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Identificar adequadamente o corpo.
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Identificar o saco de transporte com a informação relativa ao risco biológico. No contexto da Covid-19: agente biológico classe de risco 3.
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Transferir o saco com o corpo para o necrotério do serviço.
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Os profissionais que não tiverem contato com o cadáver, mas apenas com o saco, deverão adotar as precauções padrão, em especial a higiene de mãos, e usar avental ou capote e luvas.
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Caso haja risco de respingos, dos fluidos ou secreções corporais, devem usar também, máscara cirúrgica e óculos de proteção ou protetor facial (face shield).
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A maca de transporte de cadáveres deve ser utilizada apenas para esse fim e ser de fácil limpeza e desinfecção.
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Após remover os EPIs, todos os profissionais devem realizar a higiene das mãos com água e sabonete líquido ou preparação alcoólica.
Declaração de óbito
Caberá ao médico responsável pela instituição o preenchimento da declaração de óbito, que deverá seguir as recomendações da OMS e a 10ª Revisão da Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde (CID-10), para o diagnóstico da doença respiratória aguda devido à Covid-19.
Chegamos ao final da aula!
Nessa aula você viu sobre o processo de morte nas ILPIs, como comunicar notícias difíceis no âmbito das ILPIs e aprendeu sobre os cuidados com o corpo em caso de óbito pela Covid-19.
Antes de seguir em frente, que tal responder ao quiz?
Atenção em casos suspeitos e confirmados de Covid-19