Cuidados integrais
A atenção integral à saúde da pessoa idosa é um direito assegurado pelo Estatuto do Idoso (Lei nº 10.471 de 1º de outubro de 2003). A produção do cuidado integral envolve toda e qualquer ação voltada a atender as especificidades e necessidades demandadas pelo indivíduo. As práticas desenvolvidas pelos cuidadores nas ILPIs devem promover a autonomia e independência das pessoas idosas no seu modo de andar a vida, considerando aspectos individuais, sociais, culturais e emocionais, suas preferências e sua capacidade funcional.
Nessa aula, você vai:
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Compreender as práticas para a convivência e promoção da saúde integral da pessoa idosa em tempos de pandemia;
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Compreender as recomendações e os cuidados integrais à pessoa idosa nas ILPIs;
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Relembrar os procedimentos básicos para o banho e higiene oral da pessoa idosa.
Cuidados integrais com a pessoa idosa
No contexto da pandemia do novo Coronavírus (Covid-19), há dois riscos principais que devem ser mitigados para prevenir a transmissibilidade nos serviços de acolhimento para pessoas idosas e com deficiência: a aglomeração e a falta de controle do fluxo de entrada e saída de pessoas na unidade. Tais riscos podem comprometer a segurança e a proteção de pessoas acolhidas e trabalhadores, ainda que adotadas as medidas e procedimentos recomendados pelas autoridades sanitárias. O risco de transmissibilidade é ainda mais acentuado nos casos de pessoas idosas e com deficiência, dependentes de cuidados - situações que exigem maior contato físico por parte dos cuidadores.
Convivência social
Nessa conjuntura, pensar em estratégias de vigilância para evitar a contaminação local e ao mesmo tempo garantir os direitos da pessoa idosa, torna-se desafiador. Isso fez com que as ILPIs redobrassem a atenção e o cuidado com os residentes, adotando medidas como o distanciamento social e a restrição de visitas, incluindo familiares e amigos.
Impactos do afastamento social na população idosa institucionalizada durante a pandemida da Covid-19
Mantenha os residentes informados sobre as medidas adotadas e explique a importância de cada uma delas, para o controle e prevenção da Covid-19.
Caso de um paciente de ILPI que sentia falta dos cuidados familiares
NA PRÁTICA
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Conversar atenciosamente, ouvir os anseios e demandas e procurar atendê-las, sempre que possível.
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Promover a comunicação clara e objetiva com familiares sobre a pandemia e a necessidade da restrição de visitas.
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Criar um meio de comunicação online, como WhatsApp, onde familiares possam trocar informações diárias, recados e vídeos.
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Incentivar os voluntários da instituição a manterem contato, mesmo que por meio digital, como por WhatsApp, com vídeos e áudios - contação de história e mensagens de incentivo são conteúdos que podem ser enviados.
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Promover reuniões com pequenos grupos, para pequenas palestras sobre a Covid-19, mantendo as distâncias mínimas exigidas.
Algumas atividades ajudam a manter uma rede de suporte ativa, engajada com os residentes, pensando no seu bem-estar:
Promoção da saúde
Outra grande preocupação são os eventuais danos emocionais, de diferentes graus, carreados pela pandemia. Tais danos, adicionados a alterações próprias da senescência ou decorrentes de condições relacionadas com a senilidade, repercutem direta ou indiretamente em descompensações orgânicas, levando a pessoa idosa ao adoecimento.
Efeitos deletérios na saúde mental das pessoas já apresentam contornos nítidos. A estatística revela que a violência contra a pessoa idosa e a violência contra si mesmo - tenderam a aumentar neste período de pandemia. Nesse sentido, o cuidador, junto à equipe interdisciplinar, assume um papel estratégico na prestação de uma assistência integral à pessoa idosa. Essa assistência poderá envolver, dinamicamente, atividades de promoção, prevenção, recuperação, reabilitação e paliação, dependendo das necessidades de saúde de cada indivíduo.
As ações de promoção da saúde visam capacitar a própria comunidade na melhoria da sua qualidade de vida e saúde para atingir um completo bem-estar físico, mental e social, devendo saber buscar aspirações, satisfação das necessidades e mudança do meio ambiente.
GLOSSÁRIO
Senescência
Processo natural que torna alguém mais velho ou passado por quem está se tornando mais velho;
envelhecimento.
Senilidade
Abatimento mental e/ou físico resultante do excesso de idade e característico da velhice.
Ações de promoção da saúde
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Prática regular de exercícios físicos: Os residentes devem se manter fisicamente ativos, principalmente em caso de comorbidades, observando o tratamento farmacológico e atentando-se para a presença de sinais e sintomas relacionados ao Covid-19 (FERREIRA, et al., 2020). Deve-se atentar para a necessidade do distanciamento social, do ambiente arejado e com boa ventilação (dê preferência às atividades realizadas ao ar livre) e a manutenção de um número reduzido de pessoas durante as atividades. Neste momento, a prática de atividade física ajudará a reduzir a ociosidade, prevenir a depressão, aumentar a autoestima e qualidade de vida, além de auxiliar na formação de massa óssea e melhora do sistema cardiovascular e respiratório. É importante a conscientização de todos quanto ao uso dos EPIs, mesmo durante os exercícios. Os pesos e acessórios utilizados deverão ser higienizados, conforme protocolo de higiene local, e jamais compartilhados.
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Grupos de convivência virtuais: Poderão ser criados grupos para aqueles que sabem manejar tecnologias - como smartphones e computadores - como forma de fomentar a socialização entre os residentes. Um profissional ou cuidador será o incentivador e poderá ficar responsável em fomentar a discussão nos grupos. A discussão de algum tema que seja de interesse poderá ser incentivado (sono, memória, moradia, viagens, medicamentos e outros). A participação nos grupos contribuirá para a participação social da pessoa idosa.
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Práticas Integrativas e Complementares de Saúde (PICS): A Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares contempla recursos médicos complexos e recursos terapêuticos da Medicina Tradicional e Complementar, bem como diretrizes específicas no campo da prevenção de agravos e doenças, da promoção, manutenção e recuperação da saúde e bem-estar (BRASIL, 2006). Parte do pressuposto de uma abordagem integral do indivíduo, propondo um cuidado centrado no paciente (SANTOS, et al., 2018). As PICS incluem atividades de práticas corporais (tai-chi-chuan, lian gong, chi gong), práticas mentais (meditação), orientação alimentar, uso de plantas medicinais. Os residentes poderão ser abordados individualmente ou em pequenos grupos, desde que em locais abertos, obedecendo sempre as recomendações de segurança sanitária de distanciamento social e uso de EPI.
Também é importante reforçar a articulação com a Rede de Atenção à Saúde (RAS). A Atenção Primária à Saúde desempenha um papel fundamental na mitigação dos efeitos da pandemia na população local, com impacto direto na diminuição da morbimortalidade. Vídeos instrutivos com abordagem de temas como Covid-19, hipertensão, diabetes, vacinação, orientações nutricionais, automedicação e outros importantes para o contexto, poderão ser gravados e compartilhados com os residentes.
Estratégias de vacinação podem ser coordenadas com as Equipes de Saúde da Família do território para manter a segurança de todos os residentes.
Considerando o risco de disseminação da Covid-19, as ferramentas de teleatendimento poderão ser incentivadas como alternativas no âmbito das ILPIs.
Através da Telemedicina, os residentes com condições crônicas podem continuar sendo acompanhados pelos profissionais da saúde, evitando agudizações das doenças. Além disso, a Telemedicina pode ser usada para atendimento dos casos suspeitos e confirmados quanto ao isolamento e reconhecimento dos sinais de alerta.
Os meios de comunicação online também são indicados para minimizar os efeitos decorrentes do isolamento social. Eles podem ser utilizados para o contato com os familiares e amigos, atenuando a saudade e promovendo bem-estar.
Cuidados em áreas comuns
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As áreas comuns são espaços de convivência e devem ser controlados com atenção, no contexto da pandemia. Indica-se:
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Reduzir o tempo dos residentes nas áreas comuns da instituição para evitar aglomerações, garantindo a distância mínima de 1 metro entre eles.
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Estabelecer escalas para a saída das pessoas idosas dos quartos para locomoção em áreas comuns e banhos de sol, etc. Esses itens são importantes para a saúde e bem-estar das pessoas idosas, pois horários e escalas permitem que haja número menor de pessoas idosas nas áreas comuns.
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Servir as refeições nos quartos dos residentes. Se não for possível, indica-se escalonar o horário das refeições para que a equipe possa gerenciar a quantidade de pessoas; a manutenção da distância mínima de 1 metro entre elas; e proporcionar o intervalo de tempo adequado para a limpeza e desinfecção do ambiente.
As pessoas idosas com sintomas de infecção respiratória devem utilizar máscaras cirúrgicas (comuns), sempre que estiverem fora dos quartos e devem realizar essas atividades em horários diferentes das outras pessoas idosas, quando possível.
OUTRAS RECOMENDAÇÕES A SEREM ADOTADAS
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Orientar para que os residentes não compartilhem cortadores de unha, alicates de cutícula, aparelhos de barbear, pratos, copos, talheres, toalhas, roupas de cama, canetas, celulares, teclados, mouses, pentes ou escovas de cabelo, etc.
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Eliminar ou restringir o uso de itens de uso coletivo como controle de televisão, canetas, telefones, etc.
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Manter todos os ambientes ventilados, incluindo os quartos dos residentes.
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Não guardar travesseiros e cobertores dos residentes juntos uns dos outros, mantendo-os sobre as próprias camas ou em armário individual.
Manutenção dos cuidados frequentes
Tão importante quanto os cuidados especiais em relação à Covid-19, é a manutenção dos cuidados frequentes com os idosos, principalmente em relação à higiene. É fundamental estimular o autocuidado da pessoa idosa, garantindo sua autonomia e individualidade.
Procedimentos gerais para banho
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Banho da pessoa idosa não acamada: deve-se evitar o uso de esponjas, pois podem aumentar o ressecamento e fragilidade cutânea. Durante o banho, evitar fricções impedindo o aparecimento de lesões cutâneas. Após o banho, deve secar bem o corpo, principalmente as regiões de genitais, articulares (dobra de joelhos, cotovelos, axilas) e interdigitais (entre os dedos). Se necessário o corte das unhas, as dos pés e das mãos devem ser cortadas com cuidado e de forma reta, especialmente na pessoa idosa diabética.
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Banho da pessoa idosa acamada: no banho no leito, deve-se proteger a pessoa idosa a fim de não a constranger. A higiene deve ser iniciada pela cabeça/rosto (e cabelo quando necessário), sendo primeiro os olhos, rosto, orelhas e pescoço. Depois lavam-se os braços, tórax e barriga, secando-os e cobrindo-os. Na região sob as mamas das mulheres, enxugar bem para evitar assaduras e micose. Em seguida, passa-se para as pernas, secando-as e cobrindo-as. Os pés também devem ser lavados com água e sabonete, realizando a higiene entre os dedos. As costas devem ser lavadas, secas e massageadas com óleo ou cremes hidratantes, para ativar a circulação. A higiene nas regiões geniturinária e anal deve acontecer diariamente, e após cada eliminação/troca de fraldas, evitando umidade e assaduras. Em tempos de Covid-19, a pessoa idosa e o profissional responsável devem utilizar os EPIs necessários durante todo o banho.
Higiene oral da pessoa idosa
A perda dos dentes não é própria do envelhecimento, muitos idosos possuem sua dentição preservada e necessitam receber atenção em relação à saúde oral para evitar doenças como a cárie (especialmente a de raiz) ou a doença periodontal (doença que acomete os tecidos de suporte do dente, tais como osso e gengiva), entre outras que podem ocasionar dor e desconforto. Mesmo a pessoa totalmente edêntula (que não possui nenhum dente), que faça uso ou não de prótese dentária (dentaduras totais e parciais), precisa manter a sua higiene oral e ser acompanhada por um profissional de saúde bucal. Lesões orais negligenciadas podem ser temporárias ou estar associadas ao câncer e podem não ser percebidas pelo residente ou pelos cuidadores.
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Dificuldade de mastigar ou engolir;
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Mudança de preferência para alimentos que não precisam ser mastigados;
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Dor ou desconforto espontâneos ou durante a manipulação;
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Resistência ou recusa à realização da sua higiene bucal;
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Mau hálito;
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Boca seca ou ardência bucal;
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Feridas na boca e/ou sangramento gengival.
ALGUNS SINAIS E SINTOMAS DE QUE ALGO PODE NÃO ESTAR BEM COM A SAÚDE ORAL DO IDOSO:
Os idosos com diabetes mellitus merecem atenção especial, pela tendência a candidíase oral, queilite angular (feridas nos ângulos laterais da boca) e associação frequente com a doença periodontal (BRASIL, 2008).
PROCEDIMENTO GERAIS
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Deve ser realizada no mínimo três vezes ao dia: após o desjejum, após o almoço e antes de dormir, quando não for mais ingerir nenhum alimento.
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O material para a realização do cuidado - escovas, pasta de dentes e fio dental - deve ser acondicionado em recipiente individualizado, com tampa e lavável.
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Para a higienização dos dentes, língua e gengivas, a escova deverá ser macia e pasta dental fluoretada e menos abrasiva possível.
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É importante fazer a troca de escovas a cada três meses ou mesmo antes, caso se perceba que as cerdas estão ficando desgastadas.
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A limpeza das peças protéticas deve ser realizada com uma escova dura, própria para próteses dentárias.
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Antes de retirar a prótese é importante lavar as mãos com água e sabonete.
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É importante um local claro que permita uma boa visibilidade.
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Se o idoso usar óculos, deve colocá-lo para fazer a higiene oral.
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É importante ser cuidadoso para não deixar a prótese cair em superfícies duras, porque a queda pode danificá-la.
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Na retirada da prótese, também se deve aproveitar para fazer o autoexame da boca.
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A prótese deverá ser cuidadosamente higienizada em todas as suas faces.
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A depender do grau de autonomia, a higiene oral deve ser acompanhada pelo cuidador.
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É necessária a proteção do cuidador com EPI devido a possibilidade de contato com a saliva do idoso no momento do cuidado (SEQUEIRA, et al., 2013; FN-ILPI, 2020).
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A mesma pasta para escovar os dentes, língua e gengivas poderá ser utilizada para higienizar a prótese.
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É importante fazer a troca de escovas a cada três meses ou mesmo antes, caso se perceba que as cerdas estão ficando desgastadas.
Para higiene oral:
Para protéses:
Fragilidade e Violência
Pessoas com capacidades físicas e/ou cognitivas diminuídas estão mais suscetíveis a terem seus direitos violados, muitas vezes por parte de pessoas próximas ou mesmo familiares. Gestores, profissionais de saúde e cuidadores devem dispensar especial atenção a esse grupo. A negligência, o abandono afetivo, o histórico de violência familiar, a omissão de cuidados, o abuso financeiro, o medo, a insegurança e o estigma social por serem o grupo mais atingido pela doença, são exemplos de situações que agravam o problema para essa população (MELO, 2020).
ATENÇÃO
Nos casos em que houver necessidade de denúncia, deve-se contatar:
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O Disque 100 (Disque Direitos Humanos);
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O Disque 190 ou uma Delegacia, preferencialmente uma Delegacia Especializada de Proteção à Pessoa Idosa.
Mediante atos de autoagressão ou ideários suicidas pode-se orientar a pedir ajuda a pessoas de confiança, a organizações sociais próximas ou ao Centro de Valorização da Vida (CVV) pelo Disque 188.
Chegamos ao final da aula!
Nessa aula você conheceu ações práticas para manter a convivência e promoção da saúde integral das pessoas idosas. Em tempos de isolamento social é fundamental a adoção dos cuidados adequados com a retomada das visitas e prevenção de casos de Covid-19. Também conheceu as recomendações de cuidados com as áreas comuns da ILPI e relembrou os procedimentos básicos para banho e higiene oral da pessoa idosa e o que fazer em casos de violência contra a pessoa idosa.
Antes de seguir em frente, que tal responder ao quiz?
População idosa e a Covid-19
Vacinação para Covid-19 na ILPI