Unidade 3

Da Ditadura Civil Militar à regulamentação do SUS

Aula 2

Mãos à massa...​

Para Escutar

Ouça abaixo o audio selecionado:

O fato é que a distensão ocorrida no final dos anos 1970 também possibilitou o desenvolvimento de movimentos sociais, que tiveram importante atuação na gênese desse processo. O movimento popular pela saúde e o movimento dos médicos foram os principais.

MOVIMENTO POPULAR PELA SAÚDE​

Surgiu a partir de grupos apoiados pela Igreja católica e pela militância de esquerda em bairros pobres de periferias das grandes cidades e tinha como uma de suas principais bandeiras a melhoria das condições de saúde dessas regiões. Na década de 1980, esses grupos alcançaram expressão nacional a partir dos encontros nacionais de medicina comunitária e, em pouco tempo, mudaram seu eixo de atenção das ações comunitárias de base local para a demanda por controle social dos serviços de saúde, melhoria da qualidade da medicina previdenciária e desenvolvimento de ações preventivas, além da melhoria das condições de vida que possibilitassem a conquista da saúde.​

MOVIMENTO DOS MÉDICOS​

Surgiu a partir de críticas ao sistema de saúde vigente e lutas da categoria por direitos trabalhistas. Lideradas por associações e sindicatos médicos, as greves e outras mobilizações reivindicavam melhores condições de trabalho e mudanças no sistema de saúde, caracterizando-se também como resistência ao processo de mudanças da medicina que transformava os médicos – típicos profissionais liberais – em trabalhadores assalariados e ainda como uma forma de luta pela democratização da sociedade. A partir de meados da década de 1980, o movimento dos médicos teria sofrido uma inflexão, passando a dirigir-se prioritariamente a interesses corporativos específicos, ligados à busca de atuação liberal na profissão.

Para Refletir

Tanto o movimento médico como o popular tiveram, segundo essa perspectiva, grande importância na ampliação da discussão sobre a reforma da saúde. Eles ajudaram na formatação do movimento sanitário, em especial a partir da atuação dos grupos organizados na 8ª CNS, embora, a partir de meados da década de 1980, ambos os movimentos tenham se enfraquecido.​

Logotipo da 7.ª Conferência Nacional de Saúde.
Logotipo da 7.ª Conferência Nacional de Saúde, realizada em 1980.
Fonte: Centro Cultural Ministério da Saúde.

No âmbito institucional, o início da década de 1980 vê surgir novas iniciativas que possibilitaram mais visibilidade aos temas de saúde. A primeira delas, como já apontado, foi o primeiro Simpósio sobre Política Nacional de Saúde da Câmara dos Deputados.

Em março de 1980, seria organizada a 7ª CNS, grande reunião periódica, para promover a difusão de informações entre os profissionais de saúde e facilitar as relações deles com as instâncias estaduais.

Saiba Mais

O tema central da 7ª CNS era a extensão das ações de saúde através dos serviços básicos, o que refletia a união dos interesses dos sanitaristas em relação à expansão da cobertura de saúde, já encampada pelo governo, aos princípios das agências internacionais (OMS e Opas) de ampliação dos cuidados básicos com a saúde.​

Conferência Internacional sobre Cuidados Primários de Saúde.
Conferência Internacional sobre Cuidados Primários de Saúde. Alma-Ata, URSS, 6-12 de setembro de 1978.
Fonte: Opas.

Além das preocupações estatais de ampliar a cobertura do sistema de saúde previdenciário e, principalmente, efetuar uma reorganização administrativa que resolvesse o crônico problema da ineficiência, da corrupção e do déficit orçamentário do sistema de saúde, começou a se fortalecer entre os sanitaristas um ideário reformista.​

Seu objetivo era estender a saúde a todos os brasileiros, além de postular que a almejada melhoria das condições sanitárias estava diretamente relacionada à ampliação do direito à cidadania, ou seja, à democratização da sociedade.​

Saiba Mais

Tais proposições, é preciso lembrar, sintonizavam-se com as orientações das agências internacionais de saúde (Opas e OMS) que, a partir da Conferência de Alma-Ata (promovida pela OMS em 1978), propunham ampliar a atenção básica à saúde como caminho para atingir a meta de Saúde para Todos no Ano 2000.

Concluindo...

Em resumo, uma combinação de fatores, que articulam a abertura para a democracia, a crise social e sanitária, a conformação da saúde como tema de relevância pública e o surgimento de um movimento articulado pela reforma da saúde pública brasileira, constituem os alicerces das ações, políticas e programas que, a partir do início dos anos 1980, redefinirão as bases institucionais da saúde no país. Como veremos em nossa próxima aula, esse é o processo que permitirá a constituição de um sistema único de saúde no final da década.