Módulo 3 | Aula 4 Trabalhadoras(es) do sexo e cuidados em saúde

Tópico 2

Discriminação, estigma, prostituição e vulnerabilidade

Estigmatização e preconceito podem afetar a vida de uma pessoa em diferentes contextos e momentos da vida. Se no exercício de uma profissão ocorrem situações de estigma, preconceito e discriminação, isso amplia a vulnerabilidade desses profissionais às doenças. Você já estudou sobre isso na aula em que falamos sobre as condições que podem produzir vulnerabilidade aos agravos em saúde.

No caso das(os) profissionais de sexo, para fazer frente a essas situações, temos a luta dos movimentos dessas trabalhadoras e trabalhadores sexuais, no Brasil e em muitos países do mundo.

Uma das principais causas defendidas por esses grupos é a luta pela regulamentação da profissão, e por garantias legais para seu exercício, como aquelas que existem para outras profissões.

Em todos os estados do nosso país temos organizações de trabalhadoras e trabalhadores sexuais que lutam por seus direitos.

No Brasil, uma liderança muito importante deste movimento foi Gabriela Leite, e você pode achar informações e vídeos sobre ela na internet.

Fotografia colorida quadrada mostrando uma mulher sentada em uma cadeira de auditório preta. Ela veste vestido preto de mangas longas, colares de pedras e usa óculos. Os cabelos são castanhos e cacheados, na altura dos ombros. A fotografia só mostra a parte superior do corpo sentado.
Gabriela Leite
Wikipedia
Para escutar...

Você pode conhecer melhor o movimento brasileiro escutando o bate-papo com Monique Prada, uma importante ativista em defesa dos direitos das trabalhadoras sexuais, autora do livro “Putafeminista” e membra do Grupo Assessor da Sociedade Civil da ONU Mulheres Brasil (GASC) e coeditora do projeto Mundo Invisível.org.

Neste episódio do podcast SAD – Saúde, Ambiente e Desenvolvimento, o professor Daniel Canavese (UFRGS) e a mestranda em Saúde Coletiva Bruna Ghiorzi, da mesma Universidade, conversam com Monique Prada sobre o histórico do movimento social, situações de discriminação no contexto do atendimento dos serviços de saúde, bem como a violência principalmente institucional e os retrocessos recentes no Brasil e no mundo relacionados à criminalização dos clientes.

Confira o podcast trabalhadoras do sexo e zero discriminação

Como falamos no início deste tópico, o estigma e a discriminação produzem situações de vulnerabilidade social. Você já parou para pensar como isso pode gerar maior vulnerabilidade aos agravos em saúde dos e das profissionais do sexo?

Selecionamos quatro questões para você refletir sobre como o estigma e a discriminação podem afetar o cuidado em saúde das trabalhadoras do sexo.

1

Muitas pesquisas mostram que as maiores possibilidades de infecção pelo HIV das(os) profissionais do sexo ocorrem na relação com seus parceiros íntimos, vista como uma relação de confiança. Em função do preconceito, os(as) trabalhadores(as) dos serviços de saúde, muitas vezes, percebem as(os) trabalhadoras(es) do sexo como indivíduos que apenas lidam com clientes e não criam estratégias de diálogo sobre suas relações íntimas.

2

As pessoas que exercem o trabalho sexual, devido ao contexto ou circunstâncias, podem ter um uso de substâncias psicoativas associado ao trabalho, assim como estão mais expostas à violência policial, dos clientes e da sociedade e, em função destes agravos ou da conjunção de vulnerabilidades, também apresentam taxas maiores de sofrimento psíquico. Isso quer dizer que o trabalho sexual e o contexto representam uma sinergia de vulnerabilidades e precisa ser cuidado de forma cuidadosa e singular.

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3

O trabalho sexual muitas vezes é realizado em estabelecimentos (casas noturnas, bordéis, motéis, boates). A criminalização do trabalho nestes locais contribui para que essas pessoas vivam situações de falta de proteção, pois elas têm medo de recorrer aos serviços legais e de saúde e serem denunciadas. Com isso, ampliam sua vulnerabilidade aos agravos de saúde, incluindo a vulnerabilidade ao HIV e demais IST, pela falta de acesso aos serviços. Em todos os países do mundo, as(os) profissionais do sexo lutam pela regulamentação da profissão e sua retirada de códigos criminais.

Confira no Canal Saúde da Fiocruz, a conversa entre Joyce Oliveira (da Rede Brasileira de Prostitutas), Flavio Lenz, (da ONG Davida) e Ana Paula Silva, (antropóloga e Professora da UFF) sobre como é a vida de quem vive como trabalhador (a) do sexo.

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4

Pesquisas internacionais apontam que, nos países em que a regulamentação avançou, foram criadas condições de trabalho mais seguras. Além disso, houve uma diminuição da incidência das infecções sexualmente transmissíveis e Aids entre as trabalhadoras sexuais, cujo número de casos de HIV tende a ser maior do que na população geral.

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