Módulo 1 | Aula 2 Condições individuais, programáticas e sociais da vulnerabilidade
Vulnerabilidade social
A vida em sociedade é vivida em coletivos, e por isso é regida por normas sociais. É importante não confundir normas sociais com leis, pois há diferenças entre os dois conceitos, veja:
São um grande conjunto de maneiras de ser e de agir e resultam de relações de poder entre grupos.
São frutos de decisões legislativas ou jurídicas e são codificadas pelo Estado. Elas podem reforçar as normas sociais, ou tentar modificar as que são injustas com determinadas populações.
Existem algumas atitudes que reforçam certas normas na sociedade, mesmo quando elas prejudicam alguns grupos de pessoas. É o caso do racismo, por exemplo, que é proibido e punido em nossas leis. Mas, é reforçado diariamente por piadas, memes, discriminações e insultos, que constituem certa norma social, chamada de racismo estrutural no Brasil.
Muitas normas sociais reforçam a discriminação com pessoas acometidas por infecções ou agravos de saúde, a Aids é um caso clássico dessa situação.
Por isso, lutar pela cidadania plena de todos e todas é fundamental para construir uma vida em sociedade cujas normas e leis impeçam o estigma e a discriminação de pessoas e grupos, considerando que a vida de cada uma delas está situada na interseção de um conjunto de características sociais que diferenciam as pessoas:
Criança, jovem, adulto jovem, adulto, idoso?
Homem, mulher, trans ou se define como não binário?
Qual das letras da sigla LGBTQIA+ a pessoa mais se identifica?
Preto, pardo, amarelo, indígena, branco?
Analfabeta, Ensino Fundamental completo ou incompleto, Ensino Médio completo ou incompleto; Ensino Superior completou ou incompleto; Ensino Técnico?
Em que estado do Brasil?
Em cidade grande, média ou pequena?
Residência no ambiente urbano ou rural?
Bairro próximo ou distante de serviços essenciais?
Mora sozinho, com família, com parentes, com amigos e amigas ou com desconhecidos?
Praticante ou não de religião?
Religião de matriz africana, católica, evangélica, luterana, judaica, budista, espírita, islâmica ou ateu?
Pessoa casada, união estável, solteira, namorando, ficando, separada ou viúva?
Pessoa com alguma deficiência ou não?
Em que faixa de renda a pessoa está situada?
Qual escolaridade possui e quais gostos e valores culturais expressa?
Os ganhos lhe permitem viver com conforto e atender suas necessidades?
A pessoa circula em grupos de amizade?
Pertence a associações, grupos ou instituições sociais na qual encontra outras pessoas?
A quem a pessoa recorre em caso de necessidade pessoal?
Quando você vê uma pessoa, o que acontece? Normalmente você tende a classificá-la segundo os padrões e valores sociais relativos a cada uma das características que você viu acima, certo?
Esses padrões e valores geram processos de diferenciação entre as pessoas e grupos sociais, daí essas características serem chamadas de marcadores sociais da diferença, que podem mudar ao longo da história. Veja alguns exemplos que nos ajudam a reconhecê-los:
O padrão de beleza feminino durante alguns séculos valorizou mulheres que hoje seriam consideradas gordas, e as mulheres belas eram aquelas que atualmente são vistas como mulheres de meia idade, ou até mesmo velhas.
Por muito tempo homens musculosos não eram bem-vistos, pois a força física indicava que eram trabalhadores das classes baixas. Hoje, até mesmo executivos que não fazem nenhum tipo de esforço físico em seu trabalho apresentam musculaturas vigorosas, pois o padrão de beleza atual valoriza essa característica.
Ter a pele bronzeada já foi uma característica desvalorizada, pois indicava que a pessoa circulava pelas ruas e não conseguia se abrigar do sol. A cor de pele valorizada era o tom pálido, que atualmente seria associada com doença e falta de energia pessoal.
As informações que você viu acima não esgotam as características de diferenciação social, mas permitem compreender que a vulnerabilidade tem uma ligação profunda com questões sociais.
A sociedade brasileira é profundamente desigual em termos de renda e possibilidades de acesso a serviços de cuidado e acolhimento. Essa desigualdade pode ser percebida em função de cada característica e na ação combinada delas.
Nas três situações a seguir, ligadas à raça, gênero e escolaridade, você verá de que modo essas características têm impactos nas oportunidades e condições de vida e, consequentemente, na atenção e cuidado em saúde das pessoas. Lembre-se que normalmente essas situações se combinam, aumentando as condições de vulnerabilidade social e em saúde.
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As tradições históricas, políticas e culturais do Brasil nos fazem saber que nascer negro já indica uma situação de vulnerabilidade, por conta do racismo estrutural. Isso se reflete no aumento da possibilidade de sofrer violência nas ruas, de ter mais dificuldades em percorrer a trajetória escolar com sucesso e em barreiras para atingir um nível de renda adequado para viver, com ganhos salariais que são na média inferiores aos ganhos salariais de pessoas brancas.
Se compararmos com os homens, as mulheres têm riscos maiores de sofrer violência de todos os tipos, o que pode limitar a sua circulação, principalmente no horário noturno. As mulheres enfrentam também maiores barreiras para ocupar determinados lugares de prestígio na sociedade e para exercer certas profissões. Tais limitações são mais expressivas entre as mulheres negras.
O baixo nível de escolaridade compromete a entrada no mercado de trabalho mais qualificado e, consequentemente, limita a renda das pessoas e o acesso a bens sociais e culturais. Além disso, pode trazer dificuldades para a pessoa se expressar e compreender as recomendações em saúde e tratamentos médicos.