Série 3 | Curso 1
Acesso Aberto
Aula 4
Relatos da Nossa Experiência
Nessa aula trataremos do desenvolvimento nacional consciente da importância do Acesso Aberto, vamos entender mais?
Aproveite o conteúdo e desejamos a você bons estudos!
Conheça sobre o Acesso Aberto da Fiocruz
O Acesso Aberto da Fiocruz
A Fiocruz, como instituição pública e estratégica em saúde, orienta suas práticas nos campos da informação e da comunicação científica com base no preceito de que a informação é um bem público e um dos determinantes sociais em saúde.
Desta forma, é possível afirmar que o acesso aberto ao conhecimento é um princípio norteador das práticas de informação e comunicação na instituição, desde a sua origem.
Considerando que estamos tratando de uma instituição centenária, vamos focar na história mais recente da Fiocruz e suas ações relacionadas ao acesso aberto ao conhecimento da produção científica.
Fonte: Banco de Imagens Fiocruz
Histórico do Acesso Aberto na Fiocruz
1990
Participação na Rede de Bibliotecas Virtuais (BVS), rede cooperativa entre instituições que visa à gestão da informação, o intercâmbio de conhecimento e evidência científica em saúde em acesso aberto, em parceria com Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde, por meio do Centro Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde (OPAS/OMS/Bireme) (SANTOS, 2014). A Fiocruz tem uma participação expressiva na Rede, sendo responsável pela gestão de 13 BVS, de um total de 34.
2004
Desenvolvimento da sua Biblioteca Multimídia da ENSP - Escola Nacional de Saúde Pública, iniciativa pioneira para garantir acesso a materiais educativos, interativos e palestras.
2007
Desenvolvimento do repositório Arca. O objetivo do projeto era garantir a preservação da memória da produção científica e técnica do ICICT e sua ampliação na perspectiva de promover o acesso livre e irrestrito da produção intelectual da Fiocruz (CARVALHO, 2012).
2010
Alinhada com o movimento internacional de acesso aberto, a Fiocruz inclui como objetivo estratégico da Instituição, no seu Plano Quadrienal, onde estão expressas as principais políticas, estratégias e metas que orientarão as ações institucionais, priorizar a política de acesso livre na gestão da informação e do conhecimento produzido na instituição.
2011
Lançamento oficial do ARCA como o Repositório Institucional da Fundação Oswaldo Cruz, cuja função é “reunir, hospedar, disponibilizar e dar visibilidade à produção intelectual da Instituição, com o compromisso de proporcionar o livre acesso à informação em saúde” (ARCA, 2019)). Nessa época, o RI contava com 15 comunidades e 10 tipologias, mas ao final de 2018 somava 26 comunidades e 26 tipologias, fechando o ano com 25.677 documentos inseridos no Repositório.
2012
A Fiocruz participa da Rede SciELO Livros, importante iniciativa de acesso aberto lançada nesse ano, que tem como objetivo a publicação online de coleções nacionais e temáticas de livros acadêmicos com o objetivo de maximizar a visibilidade, acessibilidade, uso e impacto das pesquisas, ensaios e estudos que publica. SciELO Livros é parte do Programa SciELO da Fapesp e o seu desenvolvimento é liderado e financiado por um consórcio formado pelas editoras da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp), Universidade Federal da Bahia (UFBA) e Fundação Oswaldo Cruz.
2012
Através da Câmara Técnica de Informação e Comunicação, instância responsável pelo assessoramento à Presidência e ao Conselho Deliberativo em sua área de competência, é criado um grupo de trabalho constituído por especialistas com o objetivo de formular o que viria a ser a Política de Acesso Aberto ao Conhecimento da Fiocruz.
Foram realizadas análises e estudos sobre as iniciativas nacionais e internacionais, visitas técnicas, promoção de eventos científicos com a participação de especialistas a fim de gerar subsídios para definições conceituais e estratégicas – estímulos e financiamento, mecanismos de governança, caráter mandatório, infraestrutura tecnológica, recursos humanos e direitos autorais. A proposta resultante dos estudos foi apreciada pela comunidade de profissionais da Instituição através de consulta pública, o que garantiu maior consistência, representatividade e alinhamento.
2014
É publicada portaria da Política de Acesso Aberto ao Conhecimento e lançado o Plano Operativo do Arca – Repositório Institucional, que operacionaliza a política.
Merecem destaques: o caráter mandatório do depósito no Arca – Repositório Institucional das dissertações e teses defendidas nos Programas de Pós-graduação da Fiocruz e dos artigos produzidos no âmbito da Instituição e publicados em periódicos científicos; a estrutura de governança, composta por Comitê da Regulação da Política de Acesso Aberto ao Conhecimento, pelo Comitê Gestor e pelos Núcleos de Acesso Aberto ao Conhecimento (NAAC).
Ao adotar a Política de Acesso Aberto ao Conhecimento, a Fiocruz reconhece e respeita os direitos autorais, morais ou patrimoniais, em relação ao conhecimento produzido e entende ser obrigação das instituições públicas garantir o acesso ao conhecimento por elas produzidos a sociedade, sendo a democratização e a universalização do acesso ao conhecimento condição fundamental para o desenvolvimento igualitário e sustentável das nações.
2015
Como parte das iniciativas de fortalecimento do acesso aberto na instituição, foi criado o Portal de Periódicos Fiocruz.
2017
É constituído o Grupo de Trabalho em Ciência Aberta (GT-CA) com o objetivo de criar uma base de conhecimento sobre o tema.
2018
O GT-CA lança três documentos com objetivo de subsidiar o debate e a apropriação crítica da ciência aberta, com ênfase na abertura de dados para a pesquisa:
Termo de referência: gestão e abertura de dados para pesquisa na Fiocruz – onde está sistematizado um conjunto de princípios.
Livro Verde: Ciência Aberta e Dados Abertos - Mapeamento e Análise de Políticas, Infraestruturas e Estratégias em Perspectiva Nacional e Internacional – onde está sistematizada a experiência de oito países e da União Europeia na implantação da abertura de dados para pesquisa
Marcos legais nacionais: em face da abertura de dados para pesquisa em saúde: dados pessoais, sensíveis ou sigilosos e direitos autorais – onde é apresentado uma compilação de atos normativos jurídicos, em nível nacional, que tenham correlação com a abertura de dados para pesquisa em saúde
O principal resultado deste processo será a definição de uma política institucional de abertura de dados para pesquisa.
O respaldo jurídico para a implementação do acesso aberto é fundamental. Mais conteúdos sobre este assunto estão disponíves na Série 2, Marcos Legais, da Formação Modular em Ciência Aberta. Para saber mais sobre o acesso aberto na Fiocruz e sobre o ARCA, assista a entrevista "Bate Papo na Saúde - Acesso Aberto ao Conhecimento"
Vídeo 3 - Bate Papo na Saúde - Acesso Aberto ao Conhecimento
Fonte: Canal Saúde Oficial.
Repositório Institucional ARCA
O Repositório Institucional Arca, tem como objetivo reunir em um único lugar toda a produção intelectual da Instituição. O RI é organizado e mantido pelo Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (ICICT), uma das unidades técnico científicas da Fiocruz, sendo o principal instrumento de realização do Acesso Aberto instituído pela Política de Acesso Aberto ao Conhecimento na Fiocruz. A Política estabelece como um dos seus princípios “garantir à sociedade o acesso gratuito, público e aberto ao conteúdo integral de toda obra intelectual produzida pela Fiocruz” (FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ, 2018).
Dimensões do Arca
É um indicador de Desempenho do Governo Federal
Requisito para a aprovação de financiamento nos editais PIBIC, PIBITI e Inova da Fiocruz;
Cada comunidade possui informações sobre o gestor, homepage, coleções e quantitativo;
Desenvolvido em Dspace;
Mais de 26 comunidades (dezembro/2022);
Mais de 38.000 objetos digitais (dezembro/2022).
Vantagens do RI Arca | |
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Realização do autoarquivamento | Confiabilidade das informações |
Gerenciamento da produção científica | Preservação Digital dos documentos |
Acesso à informação científica | Disponibilização da Produção intelectual num único lugar |
Crescimento da visibilidade dos trabalhos disponibilizados | Participação no Movimento Acesso Livre |
Aumento na média de citações e no impacto dos resultados das pesquisas | Integração com outros sistemas de informação |
Institucionalização da produção intelectual produzida | Acesso aos dados estatísticos |
Saiba mais:
Para saber mais sobre o Arca, veja os documentos abaixo:
- Avaliação da usabilidade em repositórios institucionais: revisão de literatura
- Repositórios institucionais: avaliação da usabilidade na Fundação Oswaldo Cruz
- Repositório Institucional da Fiocruz: relato de experiência
- Manual de tratamento de dados: preenchimento de metadados para entrada no Arca - Repositório Institucional da Fiocruz. 3. ed. rev. e aum.
- Manual de tratamento de dados: preenchimento de metadados para entrada no Arca: Recursos Educacionais Abertos.
Editora Fiocruz
A experiência na Editora Fiocruz
Um livro é uma vida inteira, um tear onde os fios da vida tecem a cada manhã o que destecerão ao cair do sol. Os livros são pão e liberdade, o veneno doce do conhecimento, a alegria trêmul das emoções, esperança onde não há, futuro para um presente enfermo.
Almudena Grandes (tradução livre)
Preambulando
Criada em 1993, a editora da Fundação Oswaldo Cruz (Editora Fiocruz) surgiu a partir da necessidade de tornar público e ampliar o acesso ao conhecimento científico nas áreas da saúde, criando um espaço para dar visibilidade aos resultados de pesquisas. Desde o seu primeiro lançamento, em 1994, sempre teve como objetivo difundir livros em saúde pública, ciências biológicas e biomédicas, pesquisa clínica, ciências sociais e humanas em saúde. Hoje, com mais de 25 anos de experiência, a Editora contabiliza quase 470 títulos. Obras que disseminam não só a produção acadêmica da Fiocruz, mas qualquer estudo de importância e impacto para a saúde em âmbito nacional e internacional.
Está inserida no contexto que podemos denominar como das editoras acadêmicas ou científicas ou universitárias.
Para facilitar o entendimento do complexo modus operandi de uma editora universitária, das várias estruturas e pessoas que a compõem, propomos sua comparação a uma orquestra.
DaAcademia
Do Mercado
Da População
Contudo, concentremo-nos nas questões que envolvem o chamado acesso aberto ao conhecimento produzido em saúde e as políticas que a Editora Fiocruz, ao longo do tempo, procurou garantir um mais amplo acesso, pelos leitores, aos conteúdos que publica.
O Acesso e o Aberto: Como fazer o leitor sair ganhando?
A Editora Fiocruz há muito aquiesceu que era instante de operar conteúdos publicados, com vistas a atender duas frentes nesse âmbito: livros disponíveis on-line, e com acesso espontâneo, isento, open. O início foi tímido: um livro, outro livro, e outro... Conforme aludido, há custos e estes não tendem a ser módicos, principalmente enquanto novidade.
Todavia, um convite pela Rede SciELO Brasil fez com que a Editora saísse em busca de parceiros e recursos para potencializar conteúdos disponíveis de modo mais ‘profissional’ e contemporâneo. Isto já foi asseverado: não basta tirar do papel e colocar numa tela (o aviso vem da Inglaterra, fins do século XVI: “há muito mais coisas entre o céu e a terra...”, ou seja, há realidades entre a nuvem e a concretude). Foram anos de discussão, preparo e trabalho até lançar o piloto do SciELO Livros, em 2012, com meta inicial de quinhentos títulos, de três editoras universitárias, em um modelo que mesclava acesso livre, aberto, e controlado, com preços em até 40% inferiores aos do exemplar impresso. Naquele momento inicial, a Editora da Universidade Federal da Bahia, EdUfba, teria 150 títulos no Portal; a Fundação Editora Unesp, 175; outros 175 seriam o quinhão da Editora Fiocruz.
A ideia do portal SciELO Livros tem sido desde então o de contribuir para desenvolver infraestrutura e capacidade nacional na produção de livros em formato digital e on-line, seguindo o estado da arte internacional. Para que seu funcionamento seja o mais abrangente possível, conta com um comitê gestor, que inclui a participação das três editoras fundadoras, voltado para a operacionalização do plano de trabalho, inclusive administração de recursos, e com um comitê consultivo, composto por especialistas vários, que se debruça em avaliar e aprovar metodologias, bem como a inclusão de títulos e de coleções de novas editoras.
É conveniente acrescer que os objetivos do projeto têm se mantido igualmente ambiciosos: fortalecer a visibilidade, o acesso, o uso e o impacto de pesquisas, ensaios e estudos de qualidade científica publicados em livros. E de tamanho similar são as projeções futuras: para além de estender a participação a mais editoras brasileiras (hoje já reúne mais de 20 editoras e em torno de 7 coleções científicas brasileiras), a plataforma metodológica e tecnológica desenvolvida para publicação de e-livros para a coleção SciELO Brasil quer ser utilizada por outros países, preferencialmente os que hoje compõem a rede SciELO Periódicos, para que publiquem suas coleções nacionais, com gestão autônoma (a editora da Universidade de Rosário, na Colômbia, aderiu recentemente à plataforma).
Um desafio tem se posto, porém, diante da iniciativa, que, até então, o enfrenta num combinado de acessos aberto e controlado aos livros lá depositados: a sustentabilidade. Para garanti-la, por ora, as editoras pagam por livro lá depositado e decidem pela modalidade de acesso de cada. De seu lado, o projeto tem tido como prioridade a distribuição dos livros, com vistas a maximizar a presença do catálogo em todos os principais índices nacionais e internacionais, com ou sem fins lucrativos, de modo que qualquer pesquisador ou usuário, em qualquer lugar do mundo, possa recuperar, acessar, fazer downloads de livros, seja em acesso aberto ou comercializado (neste segundo caso, realizado por meio de parcerias e contratos com outras instituições e empresas livreiras). Para adiante, vêm sendo promovidas diferentes linhas de ação para ampliar as fontes de financiamento e a disponibilidade de livros em acesso aberto.
É bom que conste: a indicação de livros pela Editora Fiocruz para compor de início o portal tem sido bem criteriosa. Busca-se, com base em uma gama de considerações, contemplar: áreas, temas, autores, monográficos, coletâneas, coleções, livros esgotados ainda com procura, obras ainda em estoque com potencial de maior circulação... No entanto, a Editora espera ter fôlego para conseguir, adiante, ter o máximo de seus títulos lá disponíveis. E não se trata de simplesmente elencar um título e depositá-lo no SciELO: requer trabalhar cada livro para condicioná-lo a outras mídias (só para exemplificar parte da faina, torná-los .pdf, mais simples, e .epub, mais complexo e dispendioso), interesse e consentimento dos autores, enxertos em e novos contratos e mais umas tantas rotinas até há pouco desobrigadas.
Os resultados não poderiam ser mais promissores:
De 2012 até o presente, o Portal SciELO Livros (2019) registra mais de
1.800 títulos disponíveis, destes:
Mais de 1.100 em acesso aberto (com acima de 15.000 capítulos e 14.000 autores) |
Mais de 116.000.000 downloads |
Para tal êxito, a Editora Fiocruz contribui com o número de obras acima informado, o que significa:
392 títulos disponíveis |
236 títulos em Acesso Aberto |
3.656 capítulos em Acesso Aberto |
3.176 autores |
51.984.772 downloads |
Entretanto, é mister ressaltar pelo menos três aspectos:
Finalmente, uma outra, na verdade duas iniciativas de acesso que vale relatar é o livro O que é o SUS.
Saiba mais:
(...) busca esclarecer o que é, o que não é, o que faz, o que deve fazer e o que pode fazer o SUS. Pela importância do tema e da obra, O Que É o SUS foi selecionado para se transformar no primeiro e-book interativo da Editora Fiocruz, no âmbito do primeiro edital da Faperj especialmente dedicado às editoras universitárias. O objetivo do projeto não era mudar o suporte do papel para a tela, mas oferecer uma nova experiência de leitura, onde vídeos, áudios, galerias de fotos, infográficos e outros recursos ora complementam, ora substituam partes do texto original, criando uma nova textualidade eletrônica. O resultado é fruto de uma construção coletiva e, antes, do consentimento do autor, o professor da Ufba Jairnilson Silva Paim, que, generosamente, seguiu "o exemplo de João Ubaldo Ribeiro de não interferir na transformação de seus livros em filmes, novelas ou minisséries, pois, além de outras linguagens, na realidade, tais iniciativas expressam novas criações", nas palavras do próprio sanitarista. Uma nova criação que, assim como o livro de 2009, busca contribuir para a consolidação, o fortalecimento e a expansão do SUS. (Editora Fiocruz, 2019)
Essa iniciativa foi tão bem-sucedida que recentemente a Editora Fiocruz a repetiu com um novo título, de Rita Barradas Barata:
Livro: Como e Por Que as Desigualdades Sociais Fazem Mal à Saúde
Outro elemento que convém aqui recolocar é o advento do portal SciELO Livros, proativamente incentivado, compartilhado e trabalhado pela Editora Fiocruz. E isso está expresso na quantidade dos títulos e no volume de acessos que a própria plataforma oferece. Ao dispor de obras, na íntegra, para acesso aberto e/ou facilitado à comunidade leitora, a Editora quer dar um passo à frente na difusão de sua produção em rincões do país e do planeta.
Se uma ou mais subáreas fundantes da Saúde Coletiva têm suas especificidades e seus modos próprios de expressão, para além de vários periódicos consolidados, há também uma Editora apta a contribuir para assegurar a certificação destes, via livros. Se outras áreas da Saúde, como as biológicas ou biomédicas aplicadas ou a pesquisa clínica, necessitarem fazer circular conteúdos neste formato, idem. Em suma: as evidências apontam no sentido de que a Editora Fiocruz, como outras boas editoras universitárias brasileiras, talvez esteja pronta para respaldar os argumentos dos que veem nos livros uma segura forma de expressão e avaliação acadêmicas.
Mas ainda não é só: os indicativos são os de que, em distinção a outras editoras universitárias, que se debruçam sobre áreas diversas, de acordo com as temáticas – ou para além destas – nas quais suas universidades lecionam, a Saúde e seus campos e subcampos têm uma casa publicadora a seu exclusivo serviço. Noutro dizer, uma Editora para a Saúde!
Revistas Científicas e
o Portal de Periódicos da Fiocruz
Acesso aberto e a experiência das revistas científicas editadas pela Fiocruz
Importante instituição de pesquisa latino-americana, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) conta desde 2014 com diretrizes que compõem a Política de Acesso Aberto ao Conhecimento da Fiocruz. É importante destacar que mesmo antes da política ser instituída a produção do conhecimento realizada pela Fiocruz já era disseminada em acesso aberto. Paula Xavier e colaboradores afirmam que:
O Acesso Aberto:
como princípio geral, sempre esteve na instituição o entendimento de que o acesso à informação e ao conhecimento técnico é determinante para o desenvolvimento da saúde e um direito do cidadão
XAVIER et. al (2014, p.18)
A política estabelecida pela instituição teve como um dos elementos norteadores a premissa de que o acesso aos resultados das pesquisas em saúde desenvolvidos pela Fiocruz deve estar disponível ao conhecimento público para que possa servir de contribuição a diversos setores da sociedade, além de subsidiar decisões de gestores e do governo.
Dentre os pontos importantes estabelecidos pela Política de Acesso Aberto ao Conhecimento da Fiocruz há a determinação de depósito no repositório institucional, o ARCA, de dissertações e teses defendidas nos programas de Pós-Graduação, bem como os artigos publicados por seus cientistas em periódicos científicos. Também as revistas editadas pela instituição seguem o modelo de publicação baseado no acesso aberto corroborando o estudo que confere liderança ao Brasil na publicação nesta modalidade.
A publicação dos artigos científicos segue a chamada ‘via dourada’ (golden road) que consiste na disponibilização dos manuscritos de forma integral e imediata em seus periódicos, além de utilizarem a revisão por pares como sistema de avaliação.
As revistas da Fundação, Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, Cadernos de Saúde Pública, História, Ciências, Saúde – Manguinhos, Trabalho, Educação e Saúde, RECIIS, Visa em Debate e Fitos, Cadernos Ibero-Americanos de Direito Sanitário (CIADS) e Revista de Alimentação e Cultura das Américas (Raca) publicam textos originais em diversas áreas do conhecimento, como: saúde pública, história da saúde, ciências biomédicas e pesquisa clínica, informação, fitoterápicos, educação, trabalho e vigilância, direito sanitário, alimentação e cultura, que são essenciais para o aprimoramento das áreas de pesquisas as quais estão relacionadas. Confira abaixo mais informações sobre cada revista:
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Memórias do Instituto Oswaldo Cruz
É uma revista multidisciplinar que desde 1909, foi a primeira revista criada pela instituição, inaugurou a tradição de publicações acadêmicas na Fiocruz e teve importante papel na disseminação da cultura do acesso aberto institucional. Publica pesquisas originais nos campos da medicina tropical e parasitologia humana com abordagens da bioquímica, imunologia, biologia celular e molecular e genética.
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Cadernos de Saúde Pública
Publicada desde 1985, CSP é uma revista mensal que publica artigos originais no campo de pesquisa da saúde pública e disciplinas correlatas como epidemiologia, nutrição, saúde ambiental, políticas públicas, dentre outras. CSP também tem como objetivo fomentar a reflexão crítica e o debate sobre temas da atualidade relacionados às políticas públicas e aos fatores que repercutem nas condições de vida e no cuidado de saúde das populações.
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História, Ciências, Saúde – Manguinhos
É uma publicação trimestral da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz) com foco em pesquisa, ensino e divulgação da história das ciências e da saúde e da gestão e preservação do patrimônio cultural das ciências, saúde e memória da Fundação. Existe desde 1994 e tem seções dedicadas a artigos e ensaios originais, notas de pesquisa, documentos relevantes para estudos históricos, imagens, entrevistas, debates e resenhas de livros e filmes.
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Trabalho, Educação e Saúde
O periódico existe desde 2003 e destina-se à publicação de debates, análises e investigações, de caráter teórico ou aplicado, sobre temas relacionados aos campos da educação e da saúde, discutindo-os sob a ótica da organização do trabalho contemporâneo, de uma perspectiva crítica e interdisciplinar. Assim, a TES tem o objetivo de contribuir para o aperfeiçoamento de políticas sociais e do Sistema Único de Saúde (SUS).
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Revista Eletrônica de Comunicação, Informação e Inovação em Saúde
É multidisciplinar, publica artigos na área de comunicação, informação e saúde coletiva. A Reciis privilegia a publicação de textos que se deem nas interfaces entre comunicação e saúde e entre informação e saúde, atendendo às principais temáticas de interesse da revista.
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Fitos
É periódico interdisciplinar, editado pelo Centro de Inovação em Biodiversidade e Saúde (CIBS) do Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos). Publica artigos originais sobre Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I) em Biodiversidade e Saúde.
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Vigilância Sanitária em Debate: Sociedade, Ciência e Tecnologia
É a mais nova entre as publicações institucionais, editada trimestralmente desde 2012 dissemina artigos sobre sociedade, ciência e tecnologia que se relacionam com a área de vigilância sanitária. Assim como as outras produções, as revistas científicas publicadas pela Fiocruz difundiam seus conteúdos integralmente de forma gratuita antes mesmo do termo acesso aberto ser cunhado em 2002, por ocasião da Declaração de Budapeste.
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Cadernos Ibero-Americanos de Direito Sanitário (CIADS)
O CIADS publica trabalhos no campo do Direito Sanitário, que é o ramo do conhecimento que estuda a relação entre o Direito e a Saúde, trazendo para o campo jurídico as questões que permeiam a construção e a garantia do direito sanitário, desde sua produção normativa, nacional e internacional, até sua aplicação pelos poderes estatais e organismos internacionais. Inserem-se, nesse campo, as questões que envolvem a estruturação e operação dos sistemas nacionais de saúde, em prol da garantia de direitos humanos e fundamentais relacionados à temática. Engloba também assuntos cujo escopo seja relativo ao Direito Médico e suas relações com os pacientes.
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Revista de Alimentação e Cultura das Américas (Raca)
A RACA é uma produção do Programa de Alimentação, Nutrição e Cultura (Palin) e conta com a participação de pesquisadores de países das Américas do Sul, do Norte e Central. Estudos e pesquisas interdisciplinares para estimular a compreensão sinérgica de fatores macroestruturais, históricos, sociais, políticos e econômicos, e suas consequências nas escolhas, comportamentos, hábitos, crenças, tabus e práticas alimentares para povos e sociedades humanas são parte da linha editorial da revista.
Em março de 2015, como parte das iniciativas de fortalecimento do acesso aberto na instituição, foi criado o Portal de Periódicos Fiocruz. A experiência do Portal será relatada no próximo capítulo.
A expansão da internet, além de ter possibilitado o desenvolvimento do movimento do acesso aberto, trouxe mudanças aos processos de publicação dos periódicos científicos. Questões referentes às boas práticas editoriais, circulação dos periódicos, avaliação por pares (peer review), profissionalização da equipe editorial, sustentabilidade financeira, internacionalização e divulgação são desafios que se apresentam à comunicação científica nos últimos anos. Os editores das revistas científicas da Fiocruz têm acompanhado essas discussões com o intuito de aprimorarem os seus processos editoriais e manterem a excelência das publicações editadas pela Fundação, bem como a valorização de uma política de comunicação científica pautada pelo acesso aberto.
Portal de Periódicos Fiocruz - uma estratégia de acesso aberto à publicação científicas
A Fiocruz tem uma tradição no campo da divulgação científica e contribui de modo efetivo para o avanço do movimento do acesso aberto através do livre acesso à sete importantes revistas científicas que tratam de temas estratégicos em saúde. Essa diversidade retrata as diferentes áreas do conhecimento e atuação a que se dedica a instituição.
Figura 1 - Revistas Científicas da Fiocruz integradas ao Portal de Períódicos
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O que é o Portal de Periódicos?
Também mais uma dentre as diversas iniciativas no contexto da Política de Acesso Aberto da Fiocruz, destaca-se o Portal de Periódicos Fiocruz (PP), uma plataforma web que integra todas as revistas científicas editadas pela instituição.
Vale dizer que, apesar de sua longa tradição em publicações científicas, a Fiocruz não tinha, até então, um espaço comum que agregasse todos esses periódicos num ponto único de acesso. As revistas eram publicadas em seus próprios sites, mas não havia um buscador que pudesse encontrar uma publicação sobre um determinado tema em todas as revistas. Algumas possuem seu próprio sistema de publicação e site e outras mantém suas publicações no scielo.org.
Para suprir a demanda, em março de 2015 foi lançado o Portal, que integra o conjunto das revistas científicas e abarca seus diferentes perfis editoriais, representando assim a diversidade de saberes e o incentivo à pluralidade e à democratização do conhecimento que pautam a atuação da Fiocruz no campo da Ciência, Tecnologia e Inovação em Saúde (CTIS).
Vídeo 4 - Lançamento do Portal de Periódicos Fiocruz e o Acesso Aberto em 2015
Fonte: Fiocruz.
Para conhecer o Portal e suas funcionalidades, assista o vídeo abaixo:
Vídeo 5 - Portal de Periódicos Fiocruz está chegando
Fonte: Fiocruz.
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Democratizando a Informação
No caso do Portal, além do Acesso Aberto e gratuito a artigos que englobam várias áreas do conhecimento em saúde, os públicos também usufruem de outros conteúdos, como:
Estes conteúdos são especialmente produzidos pela equipe editorial do Portal permite que a sociedade se aproprie do vasto conhecimento gerado na instituição. Desta forma, a produção pode ser utilizada e reutilizada pelas pessoas de outros centros de pesquisa, universidades, no trabalho ou simplesmente compartilhar com um amigo ou colega que precise de informação segura e confiável sobre determinado tema
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Gestão do Portal de Periódicos
O Portal foi concebido a partir de um Conselho Editorial que abrange diferentes atores, a saber: o Fórum de Editores Científicos, a Coordenação Executiva, editores convidados e responsáveis técnicos pela tecnologia da informação e pela comunicação.
O Conselho Editorial é um espaço de atualização e troca de conhecimentos sobre editoria e periodismo científicos, no qual os editores debatem desafios, práticas, tendências e movimentos da área, participando de uma experiência coletiva.
A gestão do Portal contempla, portanto, diferentes dimensões:
O arcabouço de integração tecnológica permite a operação e manutenção da plataforma, a oferta de serviços e a gestão das informações para que os usuários busquem, filtrem e encontrem informações por autores, temas, palavras-chave, publicações etc., num só ambiente. Soma-se a isso o trabalho de gestão editorial realizado pela equipe do portal, que elabora conteúdos próprios, articulando a produção científica e promovendo sua circulação.
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Modelo tecnológico
O Portal de Periódicos Fiocruz utiliza inovações tecnológicas que permitem a integração entre as diversas fontes de informação. Em consonância com o acesso aberto, adota padrões abertos e prioriza o uso de software livre.
Sua estrutura tecnológica está baseada num sistema gerenciador de conteúdos Drupal, um software livre, com comunidade de suporte ativa. Vale lembrar que, por ser um sistema livre para alteração e modular, foram desenvolvidos diversos módulos adicionais para atender às necessidades funcionais requeridas.
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Integração
As revistas da Fiocruz utilizam plataformas distintas de editoração e publicação das revistas. A integração foi possível porque ambas utilizam a mesma tecnologia para compartilhamento de conteúdo, o protocolo aberto OAI-PMH.
A integração entre o Portal de Periódicos da Fiocruz e as plataformas de publicação das revistas tem como objetivo trazer para o Portal as edições e artigos para que pudessem ser pesquisados e exibidos no mesmo ambiente. Este processo é realizado de forma automática, minimizando a necessidade de intervenções manuais.
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Plataformas
As revistas estão distribuídas em duas plataformas distintas e abertas: Scielo e OJS/SEER.
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Divulgação
Isso se dá, por exemplo, por meio da curadoria de artigos, de seleções temáticas, de especiais vinculados ao calendário da saúde, da contextualização de assuntos de repercussão na atualidade. Assim, potencializa-se o que é publicado nas revistas científicas, ampliando seu alcance junto a todos os públicos.
Neste sentido, destacam-se os resultados conquistados através da divulgação na rede social Facebook, largamente utilizada no Brasil. O Portal conta com ferramentas de integração com o a rede social que permitem o registro de dados no Portal sobre o número de compartilhamentos de artigos e demais conteúdos na rede (https://www.facebook.com/periodicosfiocruz/) e que conta em 2022 com mais de 8.800 seguidores. Após a publicação no Portal, os conteúdos são postados no Facebook, sempre relacionando a matéria a algum artigo editado em uma das revistas científicas. Temas candentes e efemérides relacionadas à saúde são utilizados como material para a produção das postagens, como a epidemia de zika ou a tragédia em Brumadinho provocada pela mineradora Vale. A divulgação dos artigos tem um importante papel na ampliação do público leitor das revistas e o modelo de acesso aberto facilita esta ação. Com seus conteúdos completamente disponíveis online não há empecilhos para o compartilhamento dos artigos, o que pode contribuir para a maior circulação dos resultados das pesquisas publicados nos periódicos.
A contribuição do Portal de Periódicos para a sociedade
O conhecimento científico é fundamental para o desenvolvimento, a cidadania e a própria cultura de uma sociedade. Nessa perspectiva, o Portal de Periódicos Fiocruz pode ser considerado um importante instrumento de integração das informações e das diversas áreas temáticas das revistas, de comunicação e de gestão do conhecimento científico
LEITE E COSTA (2007, p. 92)
Ao reunir, num ambiente único, as revistas científicas da Fiocruz, uma das maiores instituições de ensino e pesquisa em saúde da América Latina, contribui com sua reconhecida experiência nos diferentes campos dos saberes (saúde pública, história da saúde, ciências biomédicas e pesquisa clínica, informação, fitoterápicos, educação, trabalho e vigilância) para chancelar este conhecimento e compartilhá-lo em Acesso Aberto.
Somado a isso, o Portal aproxima e facilita a conexão de uma rede de atores: agências de financiamento, instituições, pesquisadores, autores, editores, acadêmicos, público em geral etc. Essa rede promove a circulação do saber entre pares e com a sociedade, contribuindo para a ressignificação e a geração de novos conhecimentos. Tal comunicação e transferência do conhecimento à sociedade faz parte da missão da Fiocruz, qual seja produzir, disseminar e compartilhar conhecimentos e tecnologias voltados para o fortalecimento e a consolidação do Sistema Único de Saúde (SUS) e que contribuam para a promoção da saúde e da qualidade de vida da população brasileira, para a redução das desigualdades sociais e para a dinâmica nacional de inovação. Em resumo, democratizar o conhecimento de modo a torná-lo efetivamente um bem comum e público.
Saiba mais:
Conheça os diversos tipos de conteúdo do portal:
Saúde: Emergência Sanitária
Como já visto anteriormente, o acesso aberto é uma importante prática no contexto da ciência aberta, parte integrante do ciclo de produção do conhecimento científico, quando o realimenta a partir da promoção do acesso a resultados científicos considerados certificados dentro do processo de comunicação científica. Nas diversas situações em que se pode perceber sua relevância, destacam-se aqui as situações de emergência em saúde pública, especificamente os casos do Zika vírus e da Covid-19, onde houve uma urgência pelo aumento da velocidade da circulação de dados, informações e conhecimentos produzidos para contenção, diminuição e busca por soluções para as situações de risco observadas nestes casos.
Mas o que é uma emergência em saúde pública?
O conceito de emergência em saúde pública de importância internacional (ESPII), denotando uma situação de risco extremo de propagação de doenças, foi estabelecido no Regulamento Sanitário Internacional (RSI), que foi aprovado em 23 de maio de 2005, durante a 58ª Assembleia da Organização Mundial de Saúde (OMS), por meio da resolução WHA58.3. Nas versões anteriores* ao RSI 2005 este termo não era utilizado.
Motivações para o acesso aberto a publicações e dados científicos em situações de emergência em saúde pública
Fonte: Pexels.
A pesquisa científica no contexto de uma emergência em saúde é essencial. Novas respostas, em tempos diferentes das pesquisas rotineiras, são extremamente necessárias para frear e controlar a propagação de doenças e todos os riscos globais que elas representam. Desta forma, a ciência pode fornecer respostas imediatas para garantir a contenção, o tratamento e a prevenção desse eventos, auxiliando na redução do intervalo de tempo entre a declaração de emergência de saúde pública e a disponibilidade de tecnologias médicas eficazes.
O caso do vírus Zika
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2015 foi um ano marcante para o Brasil. Houve a confirmação da circulação do vírus zika, que foi um caso emblemático para a ciência brasileira, pois potencializou a capacidade de dar respostas a um evento atípico. Tratou-se de uma situação de emergência em saúde pública declarada nacional e internacionalmente, numa época em que o país atravessa um período conturbado na sua história, com uma crise política grave e cortes orçamentários, em áreas como a saúde e a educação. Apesar disto, o país conseguiu enfrentar e dar respostas científicas essenciais sobre o vírus que circulava de forma muito ativa e atingia, principalmente, a camada da sociedade brasileira que mais sofre com o descaso político de muitas décadas, o nordeste brasileiro. A rede de informações e conhecimentos criada durante a epidemia envolveu profissionais de diversas áreas, como médicos, pesquisadores, técnicos do governo, o próprio governo, pacientes e sociedade.
O caso da Covid-19
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A pandemia de Covid-19 tem sido marcante na vivência das pessoas. Decretada em março de 2020 pela Organização Mundial de Saúde, tem como agente causa- dor o vírus SARS-CoV-2, da famíliai dos Coronavírus, variante esta descoberta em final de 2019. Sua rápida expansão, combinada a altas taxas de mortalidade, mobi- lizaram significativos esforços de pesquisa e de sensibilização pública ao redor do globo. No que tange ao Acesso Aberto, especificamente, ressaltam-se ações como a criação de repositórios especializados de preprints, para promover a aceleração da publicação de descobertas e resultados de pesquisa relacionados à Covid-19, assim como a disponiblização em acesso aberto de artigos relacionados ao tema, por parte de editoras comerciais.
Conclusão
Na literatura científica continua sendo a principal fonte de dados para pesquisa, seja qual for a área do conhecimento. Mesmo assim, o acesso a artigos ainda apresenta barreiras, sejam ligadas a questões econômicas ou a questões que envolvem direitos de propriedade intelectual. O incentivo à abertura e ao compartilhamento de dados de pesquisa esteve presente em toda a epidemia do Zika e continuou após o período de maior emergência. Também houve um apelo maior para o acesso aberto às publicações científicas, um movimento que antecede o movimento da abertura dos dados, mas que precisou ser relembrado e reiterado durante a epidemia. Entretanto, a literatura científica sobre o zika era escassa no início da emergência. De acordo pesquisa bibliométrica elaborada por Martins (2016, p. 8), “o resultado da pesquisa variou de duas publicações, em 1952, a 70, somente no mês de janeiro de 2016”. O acesso aberto aos poucos artigos existentes até 2015 foi essencial para as pesquisas durante a emergência. Entretanto a necessidade de acesso aberto não se restringia à temática do zika. Era necessário analisar outras temáticas, associadas aos dados que estavam sendo coletados de pacientes, para respostas que vinham sendo estudadas naquele período. Neste ponto, a declaração de compartilhamento anteriormente citada (Statement on Data Sharing in Public Health Emergencies) teve grande influência para o acesso aberto no período. As principais revistas científicas da área da saúde assinaram esta declaração e assumiram o compromisso do acesso aberto.
Além do aumento do acesso aos artigos e periódicos, verificou-se também um aumento no número de artigos publicados em revistas com acesso aberto estabelecido. Em análise sobre o tipo de disponibilização da produção científica sobre a temática do Zika, Araújo et al (2017, p.7) constatam que houve “um crescimento da utilização dos periódicos de acesso aberto como veículo de divulgação dos resultados de pesquisa sobre o tema Zika, indicando um alinhamento ao apelo da OMS de uma disseminação aberta do conhecimento gerado nas pesquisas sobre o tema, com o objetivo de otimizar o enfrentamento da doença”.
O exemplo da emergência em saúde pública do zika mostra que mesmos fluxos tradicionais e consolidados de informações científicas podem ser alterados quando o campo científico necessita dar respostas científica rápidas. Deixa claro que os avanços observados no período apresentado estão relacionados com a adoção de uma perspectiva mais ágil e aberta da divulgação dos resultados de pesquisa. Processos científicos mais abertos são essenciais não somente para os pares científicos, mas principalmente para a sociedade, com todas as vantagens e benefícios que a ciência pode oferecer.