Módulo 2 | Aula 3 O cuidado e o autocuidado na APS: espaço para a ampliação dos níveis de LS

Tópico 2

O cuidado centrado na pessoa e a LS

Um profissional de saúde durante sua atuação de atenção e zelo dedicados a um usuário do sistema de saúde está exercendo o conceito de cuidado aqui definido. Porém, para que este cuidado esteja alinhado à percepção da complexidade do indivíduo, precisa-se adotar o cuidado centrado na pessoa, que possibilita decidir as ações de cuidado conjuntamente.

Fotografia de um homem idoso se alongando e sorrindo.
Fonte: Freepik

Um dos papéis do profissional de saúde nesta perspectiva é o de fornecer as informações em linguagem clara e acessível, garantindo a compreensão para que o usuário consiga realizar suas próprias escolhas, bem como efetivar alguns princípios da Política Nacional de Promoção da Saúde (PNPS): autonomia (que possibilita escolhas do sujeito pelo sujeito), empoderamento (controle das decisões), integralidade (pautada na complexidade e singularidade do indivíduo), equidade (distribuição igualitária de oportunidades) e participação social (considerando a visão de diferentes atores).

Cada ser humano é único. Nessa perspectiva, o Método Clínico Centrado na Pessoa (MCCP), é uma abordagem utilizada na APS que busca considerar todas as linguagens do sujeito, inclusive a corporal, na qual são expressos sentimentos, sensações e emoções.

Ao adotar a abordagem MCCP, considera-se a complexidade biopsico-socio espiritual de um indivíduo, ou seja, ao diagnosticar um paciente, um médico buscará escutá-lo e em conjunto decidirão tratamento, exames, manejo e suporte, porque o percebe em sua completude. Este processo decisório baseado no MCCP e na Medicina Baseada em Evidências (MBE) é definido como decisão compartilhada, que deve ser realizado por todos os profissionais de saúde no cuidado para todos os usuários.

Fotografia de uma pessoa retirando medicação no guichê da farmácia de um serviço de saúde.

A Literacia para a Saúde envolve um processo contínuo e dinâmico de aprendizagem e de desenvolvimento de competências que capacita o sujeito a acessar, compreender, avaliar/gerir e investir para a saúde.

O cuidado centrado na pessoa possui a comunicação em saúde como elemento essencial que garante o acesso e a compreensão das informações pelo usuário atendido; espera-se como resultado que o indivíduo tenha subsídios para decidir em prol de sua saúde e coletividade, ou seja, desenvolvendo e capacitando para melhoria do nível de LS.

Perceba a relação entre o cuidado centrado na pessoa, a comunicação em saúde voltada para o entendimento, o exercício de autonomia e empoderamento pelo usuário e, consequentemente, o possível aumento do nível de LS!

Quanto ao cuidado às pessoas em condições crônicas de saúde na APS, o cuidado centrado na pessoa é também importante, já que utilizando-se deste olhar o usuário:

  1. terá acesso a informações embasadas cientificamente com o profissional de saúde;
  2. poderá compreendê-las devido a linguagem acessível e demais habilidades mencionadas;
  3. e poderá realizar uma decisão compartilhada a partir da gestão dessas informações.

Desse modo, a probabilidade de adesão ao autocuidado aumenta, proporcionando melhoria da qualidade de vida e prevenção de complicações.

Para que um indivíduo, família e comunidade tomem decisões favoráveis à saúde, é preciso ampliar o nível LS por meio do diálogo, da reflexão, da troca de conhecimentos, do desenvolvimento de competências e habilidades que lhes permitam acessar as informações, compreendê-las, discuti-las e articulá-las a sua realidade social para investir em prol da saúde. É necessário o avanço de uma LS inadequada para LS regular e suficiente, rumo ao nível de LS excelente!

Saiba mais...

Você sabia que pesquisas apontam que pacientes crônicos com baixos níveis de LS possuem menor capacidade de autocuidado e maiores usos de serviços de saúde? Acesse o conteúdo complementar do curso e veja algumas dessas pesquisas. Link: Carvalho GS, Jourdan D. Literacia em saúde na escola: a importância dos contextos sociais. In: Magalhães Junior CAO, Lorencini Junior A, Corazza MJ, organizadores. Ensino de ciências: múltiplas perspectivas, diferentes olhares. Curitiba: CRV; 2014. p. 99-122.

Ran M, Peng L, Liu Q, Pender M, He F, Wang H. The association between quality of life (QOL) and health literacy among junior middle school students: a cross-sectional study. BMC Public Health [Internet]. 2018 [citadoem 14 jan 2019]; 18(1):1183. DOI: 10.1186/s12889-018-6082-5. Disponívelem: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/30340479/

Saboga-Nunes L, Sørensen K, Pelikan JM. Hermenêutica da literacia em saúde e sua avaliação em Portugal (HLS-EU-PT). In: VIII Congresso Português de Sociologia 40 anos de democracia(s): progressos, contradições e prospetivas; 2014; Évora. Évora, Portugal: Universidade de Évora; 2014.