Riscos, sintomas e tratamento

Intoxicação por Metanol

A Intoxicação por Metanol é um grave problema de saúde pública, com potencial para causar cegueira e óbito Sua toxicidade afeta o Sistema Nervoso Central (SNC) e o sistema visual.

imagem de garrafas e frascos de metanol

Fonte: ChatGPT/DALL·E (OpenAI, 2025) e Vecteezy

imagem sobre o metanol com a fórmula química

Fonte: ChatGPT/DALL·E (OpenAI, 2025) e Vecteezy

O que é

METANOL

O metanol, também conhecido como álcool metílico, é um solvente incolor, inflamável e volátil, utilizado em combustíveis, indústrias químicas e, fraudulentamente, na adulteração de bebidas alcoólicas. Sua toxicidade é relevante tanto em exposições ocupacionais quanto em casos de ingestão acidental ou intencional. A intoxicação metanólica representa um importante problema de saúde pública devido à gravidade dos efeitos sistêmicos, especialmente sobre o sistema nervoso central (SNC) e a visão. A presença de metanol em bebidas pode ter duas origens: natural e criminosa. O metanol é um subproduto natural da fermentação alcoólica, especialmente quando são utilizadas frutas ou matérias-primas ricas em pectina. No entanto, em concentrações elevadas, torna-se extremamente tóxico.

Características e Usos
Solvente incolor, inflamável e volátil.
Usado em combustíveis e indústrias químicas.
Usado de forma ilegal na adulteração de bebidas destiladas.

 Atenção! Pequenas quantidades já são consideradas altamente tóxicas.

limites de segurança

O METANOL EM BEBIDAS

A legislação brasileira permite um limite máximo de 0,25 ml de metanol a cada 100 ml de destilado. Acima disso, o produto representa risco direto à saúde.

A qualidade e a segurança de uma bebida destilada, como a cachaça, o gin ou a vodka, dependem diretamente de um processo rigoroso de destilação. Esse processo deve ser feito com cuidado técnico para garantir a eliminação das frações tóxicas do destilado. Durante a destilação, o líquido é tradicionalmente dividido em três partes ou “frações”
Cabeça: é o primeiro líquido a sair no processo. Representa de 1% a 2% do volume total e contém alta concentração de metanol e outros compostos voláteis tóxicos. Esta fração não deve ser consumida e é destinada para reaproveitamento como etanol combustível ou industrial.
Coração: é a parte central da destilação, responsável por até 80% do volume total da bebida. É nesta fração que se encontra o etanol de boa qualidade, com aroma e sabor agradáveis. Esta é a única parte própria para o consumo humano.
Cauda: é o final do processo e corresponde a cerca de 3% do volume. Carrega compostos pesados, com odor forte e sabor amargo, além de resíduos alcoólicos indesejáveis. Assim como a cabeça, a cauda também deve ser descartada do produto final e pode ser reprocessada para virar etanol.

imagem com o indicativo da medica permitida pela legislação de metanol na bebida

Fonte: ChatGPT/DALL·E (OpenAI, 2025)

 Concentrações elevadas são extremamente tóxicas e representam risco direto à saúde.

As principais vias de exposição são:
Ingestão
Inalação
Contato com a pele
Mecanismo de Toxicidade: Dentro do organismo, o metanol se converte em ácido fórmico. É este metabólito o responsável pelos danos graves, incluindo a acidose metabólica

Fonte: ChatGPT/DALL·E (OpenAI, 2025) e Vecteezy

CICLO DE CONTAMINAÇÃO E METABOLISMO

O metanol pode penetrar no organismo por três vias principais: oral, respiratória e cutânea.

A absorção pulmonar é rápida, atingindo até 80% do solvente inalado, enquanto a pele apresenta absorção mais lenta. Uma vez absorvido, o metanol distribui-se preferencialmente para tecidos ricos em água, não se ligando significativamente às proteínas plasmáticas.

A biotransformação ocorre majoritariamente no fígado, envolvendo duas enzimas principais: a álcool desidrogenase (ADH), que converte metanol em formaldeído, e a aldeído desidrogenase (ALDH), que transforma formaldeído em ácido fórmico. Este último é lentamente metabolizado em dióxido de carbono e água por processos folato-dependentes. Como consequência, ocorre acúmulo de ácido fórmico nos tecidos, sobretudo no nervo óptico. Esse metabólito é o grande responsável pela toxicidade, ao contrário do metanol inalterado, que é eliminado parcialmente pela respiração e urina.

As principais vias de exposição são:
Ingestão
Inalação
Contato com a pele
Mecanismo de Toxicidade: Dentro do organismo, o metanol se converte em ácido fórmico. É este metabólito o responsável pelos danos graves, incluindo a acidose metabólica

Fonte: ChatGPT/DALL·E (OpenAI, 2025) e Vecteezy

AÇOES NO ORGANISMO

A intoxicação por metanol apresenta quadro bifásico. Inicialmente, há uma depressão leve do SNC, semelhante à embriaguez causada pelo etanol. Esse período é seguido por uma fase de latência, geralmente entre 12 e 24 horas, em que o paciente pode permanecer assintomático. Em seguida, instala-se a acidose metabólica severa, provocada pela inibição da cadeia respiratória mitocondrial pelo ácido fórmico, que bloqueia a citocromo oxidase. Esse efeito leva à respiração anaeróbica e acúmulo de lactato, resultando em hiperlactacidemia.

As manifestações clínicas incluem cefaleia, náuseas, vômitos, dor abdominal e tontura. Com a evolução, surgem distúrbios visuais — visão borrada, fotofobia, percepção de pontos luminosos e redução progressiva da acuidade visual, podendo evoluir para atrofia do nervo óptico e cegueira irreversível. Nos casos graves, observa-se coma, convulsões e morte decorrente de acidose metabólica intensa (pH sanguíneo < 7,0). A intoxicação crônica, menos frequente, pode causar cefaleias recorrentes, distúrbios digestivos e alterações oculares persistentes.

imagem do corpo humano com os sintomas da intoxicação

Fonte: ChatGPT/DALL·E (OpenAI, 2025)

imagem de uma máqina de hemodiálise e o antídoto

Fonte: ChatGPT/DALL·E (OpenAI, 2025)

Intervenção Objetivo/Observação
Antídotos (Etanol ou Fomepizol) Etanol (intravenoso ou oral) reduz a formação de ácido fórmico.
Fomepizol impede a conversão em metabólitos tóxicos e já está disponível no Brasil.
Bicarbonato de Sódio IV Administração precoce para atenuar a acidose metabólica.
Hemodiálise Necessária em casos graves para remover o metanol e seus metabólitos
Ácido Fólico Auxilia no metabolismo, tornando o metanol menos tóxico

CONDUTAS EM CASOS DE INTOXICAÇÃO

Medidas inicias

  • Retirar a vítima da fonte de exposição.
  • O carvão ativado não é eficaz, mas a administração precoce de bicarbonato de sódio pode ajudar a atenuar a acidose.

Tratamento específico

  • Etanol por via intravenosa ou oral é um antídoto eficaz, pois compete com o metanol pela ADH, reduzindo a formação de ácido fórmico. A manutenção de níveis séricos de etanol entre 100–125 mg/dL é necessária.
  • Fomepizol (4-metilpirazol) é outro antídoto, mais potente e específico, que inibe diretamente a ADH, impedindo a conversão do metanol em seus metabólitos tóxicos.
  • Ácido fólico ou leucovorina podem ser administrados para acelerar a conversão do ácido fórmico em compostos menos tóxicos.

Tratamento de suporte

  • Administração de bicarbonato intravenoso para correção da acidose metabólica.
  • Oxigenoterapia em casos de hipoxemia.
  • Em intoxicações graves, com acidose instalada ou disfunção neurológica, a hemodiálise é o tratamento mais eficaz, promovendo rápida remoção do metanol e do ácido fórmico.
Intervenção Objetivo/Observação
Antídotos (Etanol ou Fomepizol) Etanol (intravenoso ou oral) reduz a formação de ácido fórmico.
Fomepizol impede a conversão em metabólitos tóxicos e já está disponível no Brasil.
Bicarbonato de Sódio IV Administração precoce para atenuar a acidose metabólica.
Hemodiálise Necessária em casos graves para remover o metanol e seus metabólitos
Ácido Fólico Auxilia no metabolismo, tornando o metanol menos tóxico
A intoxicação por metanol é uma condição grave que depende menos da concentração do solvente inalterado e mais do grau de acidose metabólica induzida por seus metabólitos. O prognóstico está diretamente relacionado à rapidez do diagnóstico e início da terapia. A presença de distúrbios visuais e acidose intensa indica maior gravidade e risco de sequelas permanentes ou morte. Assim, compreender o ciclo da contaminação, a ação metabólica e as condutas terapêuticas é essencial para reduzir os efeitos tóxicos desse álcool e aumentar as chances de recuperação dos pacientes expostos.
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Há 32 Centros de Informação e Assistência Toxicológica (CIATox) em funcionamento no país, que oferecem suporte para diagnóstico, manejo de intoxicações, toxicovigilância e gestão de risco químico. Os Centros de Informação e Assistência Toxicológica (Ciats) são unidades que orientam a população e os profissionais de saúde sobre os procedimentos a serem seguidos nos casos de intoxicação. Existem Ciats em todas as regiões brasileiras. Os Ciats que integram a Rede Nacional de Centros de Informação Toxicológica (Renaciat) atendem pelo número: 0800 722 6001

foto do autor Enrico
Sobre o autor

Enrico Mendes Saggioro

Doutor em Saúde Pública e Meio Ambiente pela Escola Nacional de Saúde Pública/Fiocruz, com posdoc no Programa de Engenharia Química da UFRJ/COPPE. Atualmente é Pesquisador Titular do Laboratório de Avaliação e Promoção da Saúde Ambiental da Fundação Oswaldo Cruz (LAPSA/IOC) e Prof. Adjunto de Toxicologia da Universidade Federal Fluminense (UFF). Atua também como Coord. adjunto do Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública e Meio Ambiente da Fiocruz, é líder do Grupo de Pesquisa Saúde ambiental e Ecotoxicologia: gestão e tratamento de efluentes e resíduos. Foi coordenador geral do Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública e Meio Ambiente da Fiocruz (2021-2025). Tem experiência em área contaminadas, (eco)toxicologia e tratamentos de efluentes, atuando principalmente sobre os efeitos dos contaminantes de preocupação emergente no ambiente em organismos aquáticos e terrestres, além da remoção por Processos Oxidativos Avançados.