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Assistência
ao parto:

ênfase nas distocias e
principais causas de
morbimortalidade materna

Capa das páginas do curso Campus Virtual

Módulo 5 | Síndromes Hipertensivas na gestação

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Aula 2
Pré-eclâmpsia precoce e tardia

Introdução

Considerando que a pré-eclâmpsia é a condição clínica associada à maior causa de morte materna no Brasil (hipertensão), é importante que ocorra um detalhamento de sua apresentação, que é relacionada à sua época de instalação.

Diante do diagnóstico de pré-eclâmpsia, é fundamental que a equipe multiprofissional vá além do controle da pressão arterial. A pré-eclâmpsia é uma condição multissistêmica, com fisiopatologia ampla e progressiva, que só se resolve com o parto. Mantenha um olhar atento para os diversos sistemas afetados e acompanhe a evolução clínica com atenção.

Apesar de na pré-eclâmpsia a hipertensão geralmente surgir apenas após a vigésima semana, essa condição se inicia muito cedo, desde a invasão trofoblástica, que foi deficiente. Essa situação interfere nos resultados do parto e do puerpério e, como é sabido, apresenta repercussões de longo prazo na vida da mulher, o que impõe a necessidade da compreensão de que essa é uma doença que tem expressão clínica crônica, heterogênea e sistêmica.

> Complexidade clínica e desafios do diagnóstico

Devido ao caráter dinâmico da pré-eclâmpsia, sua expressão realmente é um desafio para a prática clínica, sendo por vezes realmente difícil “enquadrar” a expressão clínica em um modelo único e realmente prevermos com exatidão a evolução do quadro.

Aferindo pressão
Fonte: Freepik (2025)

A pré-eclâmpsia pode se manifestar de formas diferentes, e uma das classificações importantes considera a idade gestacional no momento do diagnóstico:

  • Quando ocorre antes das 34ª semanas, é chamada de pré-eclâmpsia precoce.
  • Quando ocorre a partir da 34ª semana, recebe o nome de pré-eclâmpsia tardia.

Essa distinção é relevante porque a forma precoce costuma estar associada a maior gravidade e riscos materno-fetais.

O percurso inicial na literatura foi a partir de uma publicação do professor Dekker, que categorizou achados clínicos e laboratoriais diferentes associados à idade gestacional, como maior ocorrência de trombose vascular, coagulopatia e hipercoagulabilidade nas mulheres que desenvolveram pré-eclâmpsia antes de 34ª semana. Ele foi o primeiro a apoiar o termo “pré-eclâmpsia precoce” e propôs, desde essa época, um aconselhamento específico para essas mulheres.

Impactos clínicos da pré-eclâmpsia precoce

Compreendida dessa maneira (precoce e tardia), reconhece-se que a expressão da pré-eclâmpsia que acontece mais precocemente acomete de maneira mais intensa o produto da concepção, provocando:

Feto

Restrição de crescimento fetal


Maior morbimortalidade perinatal

Gota de Sangue

Acidemia

Embora ambas tenham vias finais comuns, existe redução de fluxo uteroplacentário, sendo comuns disfunção endotelial, hemólise, aumento de mediadores inflamatórios e ativação de neutrófilos. Lembrando a preocupação inicial de recomendar às equipes que não se atenham apenas à condição de hipertensão induzida pela gravidez, mas que existe uma expressão clínica mais ampla relacionada à pré-eclâmpsia.

É de conhecimento que não existem duas causas placentárias para a pré-eclâmpsia, mas existe um predomínio de situação da patogênese em cada uma delas, podendo ser encontrada a perfusão placentária normal e um estresse oxidativo da interface placentária no sinciciotrofoblasto. Perceba as diferenças de cada situação da patogênese:

Predomina má placentação, provavelmente uma condição extrínseca a toda fisiopatologia.

Ocorre “superlotação” das microvilosidades, fazendo com que atinjam limites funcionais. Para essa situação é muito importante a condição prévia da gestante, como o antecedente de pressão arterial crônica. Supostamente, todas as gestantes irão progredir para pré-eclâmpsia a partir dessa condição de “superlotação” das microvilosidades, mas o parto frequentemente intercepta essa evolução.

A pré-eclâmpsia precoce é menos frequente, porém mais grave para a mãe e o feto. A principal mensagem para a prática clínica é que mulheres com pré-eclâmpsia abaixo da 34ª semana provavelmente apresentam desfechos mais desfavoráveis, principalmente se abaixo de 24ª semanas. Essas situações cursam com elevada mortalidade materna e perinatal, aumento da ocorrência futura de hipertensão arterial crônica, assim como predição positiva para cardiopatia isquêmica.

Coorte americana envolvendo 670.120 partos ocorridos entre os anos 2000 e 2008 revelou uma taxa geral de pré-eclâmpsia de cerca de 3% e o impacto na morbimortalidade relacionado ao diagnóstico de pré-eclâmpsia precoce e tardia, comparado a mulheres sem pré-eclâmpsia.

Clique aqui para assistir ao vídeo do Encontro com os Especialistas do projeto “Todas as Mães Importam”(TMI), que aborda o uso dos Bundles (pacotes de cuidados) ambulatoriais e hospitalares para prevenção e tratamento da pré-eclâmpsia grave e eclampsia.

Diferenças hemodinâmicas e placentárias

O perfil hemodinâmico das pré-eclâmpsias precoce e tardia também é diferente. A precoce se caracteriza por baixo débito cardíaco e alta resistência vascular periférica, enquanto na tardia o débito cardíaco pode estar aumentado e a resistência vascular periférica é variável.

Além do momento do diagnóstico, a pré-eclâmpsia precoce e a tardia apresentam perfis hemodinâmicos distintos:

Coração com seta para baixo

Pré-eclâmpsia
precoce

É marcada por baixo débito cardíaco e alta resistência vascular periférica.

Coração com seta para cima

Pré-eclâmpsia
tardia

Pode apresentar débito cardíaco aumentado e resistência vascular periférica variável.

Essas diferenças refletem mecanismos fisiopatológicos distintos e podem influenciar a abordagem clínica.

Está bem caracterizado o dano placentário da pré-eclâmpsia precoce, que, em comparação à pré-eclâmpsia tardia, apresenta diminuição do tamanho da placenta, presença de mais infartos, bem como maturação inapropriada.

Os biomarcadores que identificam angiogênese e antiangiogênese em mulheres portadoras de pré-eclâmpsia apresentam desequilíbrio maior, mais importante em quadros de pré-eclâmpsia precoce.

A literatura atual recomenda que a pré-eclâmpsia seja compreendida como um conjunto de subtipos e não como uma única condição com causa comum.

Por exemplo:

  • A pré-eclâmpsia a termo, mesmo sem restrição de crescimento fetal, aumenta em pelo menos duas vezes o risco cardiovascular futuro.
  • Já a pré-eclâmpsia precoce está associada a um aumento de pelo menos dez vezes nesse risco.

Podemos utilizar como exemplo e estímulo para essa filosofia a adoção da classificação do diabetes em diabetes tipo I e tipo II. Essa classificação foi útil para o delineamento de estratégias específicas de melhor atendimento ao paciente com diabetes. Sendo assim, isso também é atualmente sugerido para a melhor prática assistencial na pré-eclâmpsia.

Publicações que classificam e distinguem os subtipos de pré-eclâmpsia em precoce e tardia apontam diferenças importantes em suas origens e consequências:

Essas distinções ajudam a compreender os diferentes perfis de risco e a planejar um cuidado mais adequado.

Concluindo, é extremamente importante que as equipes estejam classificando a síndrome hipertensiva, principalmente a pré-eclâmpsia em suas formas precoce e tardia, visando individualizar o cuidado diagnóstico e a profilaxia. Além disso, durante o atendimento de mulheres hipertensas, devemos sempre nos atentar para o diagnóstico de pré-eclâmpsia, incluindo de seus subtipos.

Você concluiu esta aula, continue se empenhando nos seus estudos. Siga para a próxima aula!

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